7 de julho de 2025
Produção musical com participação maranhense une raízes indígenas e cultura
Compartilhe:

Um diálogo musical. É dessa maneira que se pode definir o encontro de cantadores do povo Fulni-ô, do aldeamento indígena Fulni-ô, com integrantes do coletivo Ponto br, que reúne alguns dos principais mestres e guardiões da cultura brasileira.

O grupo dá vida ao disco Khletxakaque chegou às plataformas digitais recentemente, como resultado desse entrelaçar entre a ancestralidade e os saberes culturais indígenas com as diversas manifestações culturais populares brasileiras, tão bem representadas pelos integrantes do coletivo Ponto BR. Khletxhaka (que se lê klétiaká) significa cantar, na língua materna dos Fulni-ô, o yaathe, pilar de sua identidade.

Ao longo de nove faixaso álbum desenha um enredo em que a musicalidade afro indígena recria as suas memórias e se entrelaça a diversos gêneros da cultura popular – como cocos, cirandas, maracatus e tambor de mina – representados por diversos mestres do coletivo Ponto BR, entre eles o Mestre Walter, do Maracatu Raízes de África do Recife, e a mestra Zezé de Iemanjá da Casa Fanti Ashanti (MA).

Um dos destaques é a faixa ‘O Rio Encheu’, em que cantadores Fulni-ô e os mestres do coletivo se unem para cantar a dinâmica dos povos originários e das comunidades tradicionais diante as cheias dos rios que ladeiam seus territórios. A força das vozes, ancorada a uma mescla de ritmos, se apresenta como um hino exaltação às comunidades tradicionais indígenas que vivem em perfeita harmonia com os fenômenos naturais. 

“Conseguimos fazer um encontro onde podemos cantar a nossa língua, junto aos mestres, que enaltecem seus ancestrais. Fazer elo, promover unificação, isso é importante, o mundo, o Brasil precisa disso”, avaliou o integrante do povo Fulni-ô, Aritana Veríssimo.

A faixa ‘Setsô Fulniô’, por sua vez, retoma a história do povo Fulni-ô, que hoje representa a junção de cinco comunidades tradicionais indígenas.

“Esse trabalho é um marco, significa um elo muito potente entre os povos. Quando a gente canta para a ancestralidade, a gente está mexendo com essa força positiva que cuida de todo ser humano
”, completou a mestra Zezé de Iemanjá.

O disco Khletxaka foi idealizado via edital de música do Programa Funarte Retomada 2023, ligado ao Ministério da Cultura. A obra conta com a direção geral de Renata Amaral e Tâmara Jacinto; direção artística e musical: Renata Amaral; produção musical, mixagem e masterização: André Magalhães.

Sobre o Povo Fulni-ô

Os Fulni-ô formam um grupo indígena que habita próximo ao rio Ipanema, no município de Águas Belas, em Pernambuco, e também no Santuário dos Pajés, no Distrito Federal. A comunidade indígena é uma das poucas do Nordeste brasileiro que mantém viva a sua língua materna, o yaathe, pilar de sua identidade. Outra tradição da comunidade é a de se recolher, anualmente, para o ritual do Ouricuri, que leva o nome de uma planta sagrada, e representa o momento em que os indígenas celebram suas tradições e tomam suas decisões políticas. De acordo com o último censo do IBGE, é possível encontrar cerca de 8 mil indígenas pertencentes ao povo Fulni-Ô que, apesar de ter conseguido manter viva parte de sua cultura milenar, ainda não possui território demarcado.

Sobre o Ponto BR

O coletivo reúne alguns dos principais guardiões da cultura tradicional, entre eles Mestre Walter, do Maracatu Raízes de África do Recife, a mestra Zezé de Iemanjá da Casa Fanti, Maranhão, e Ribinha de Maracanã, cantador do Bumba Boi de São Luís. Cocos, cirandas, maracatus, tambor de mina, bois, rojões e carimbós são alguns dos gêneros que compõem o repertório do grupo, que faz da arte um local de encontro entre vertentes e gerações, e uma outra via para o fazer musical.

Fonte: https://oimparcial.com.br/entretenimento-e-cultura/2025/05/producao-musical-com-participacao-maranhense-une-raizes-indigenas-e-cultura-popular-brasileira/