1 de julho de 2025
Quando inconformismo vira um crime violento
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Jussandra Gonçalves Jorge de Souza, 42 anos, não queria mais o relacionamento com o ex-pastor José Gilton Alves dos Santos, 61. Viviam uma vida onde não cabia mais a convivência, e por isso, ela perdeu a vida de forma implacável, violenta e chocante, dentro da própria casa.

Mais de 30 golpes de faca desferidas pelo ex-companheiro, no último dia 26, na cidade de Riachão. Dois dias depois, José Gilton foi preso e disse que a matou porque “ela a denunciou na Lei Maria da Penha sem necessidade”.

Jussandra deixou filhos e neto, e é mais uma vida perdida, mais uma vítima que deixa vazio entre seus familiares e amigos. A décima primeira vítima de feminicídio registrado no Maranhão em 2025. O crime gerou grande comoção.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

“Um dia ela disse ‘basta’. Queria viver, criar novos caminhos, ser livre de quem não soube amá-la. Mas ele… ele não soube partir. E, quando o amor se transforma em posse, vira faca. E a faca corta, rasga, cala. Foram 31 golpes de faca, mas sobretudo de ausência de humanidade. Que essa tragédia não se perca no esquecimento”. (Somos todos Mariana).

Em um estado marcado por contrastes culturais e resistência histórica, o Maranhão enfrenta uma batalha silenciosa e brutal: o feminicídio.

Casos de mulheres assassinadas por parceiros inconformados com a liberdade, a autonomia ou o simples direito de dizer “não” têm crescido a olhos vistos. Atrás de cada número, há uma história interrompida pela raiva, pelo controle e pelo machismo estrutural.

Casos de feminicídio aumentaram em 26%

No Maranhão, os casos de feminicídio aumentaram em 26% em relação a 2023, quando foram registrados 50 casos.

Em 2024 foram 63 casos. A maioria desses crimes é cometida por parceiros ou ex-parceiros das vítimas, frequentemente motivada por ciúmes, suspeitas de traição ou a recusa em aceitar o término do relacionamento.

E pasmem, também em sua maioria, ocorrem dentro da casa da vítima, e às vezes na frente dos filhos. “A gente acredita que as mulheres que notificam a violência sofrida é apenas 10% do número real de mulheres que sofrem violência, por isso que a gente faz campanha o tempo inteiro de prevenção de educação, levando a informação sobre os canais de denúncia. As violências (físicas, morais, psicológicas, patrimoniais ou sexuais) vão começando aos poucos, em seguida tornam-se diárias. Aquele relacionamento vai ficando destrutivo e a vítima sente-se amedrontada, com a autoestima abalada e não enxerga saída. Nesse momento uma palavra amiga e o direcionamento aos órgãos de segurança pode fazer toda a diferença”, disse a delegada Wanda Moura, chefe do Departamento de Feminicídio.

Uma tragédia que se repete

O feminicídio é, antes de tudo, a face mais extrema do controle sobre o corpo e a vida da mulher. Muitos crimes acontecem após semanas ou meses de perseguição, ameaças ou agressões físicas e psicológicas. Em alguns casos, os assassinos já haviam sido denunciados anteriormente, mas mesmo assim, atentaram contra as vítimas.

Especialistas apontam que a violência contra a mulher não começa no primeiro tapa, mas muito antes — na educação machista, nas piadas normalizadas, na ideia de posse. Para a assistente social Lídia Campos, “o feminicídio é um ato de poder, e ocorre quando o homem percebe que perdeu o controle sobre a mulher e decide que, se ela não for dele, não será de mais ninguém”.

São Luís não registra feminicídios

São Luís, a capital do estado, não registrou nenhum feminicídio neste ano. Os casos que ocorreram foram nos municípios de São José de Ribamar, Anapurus, Carolina, Cedral, Coroatá, Jenipapo dos Vieiras, Pinheiro, Santa Luzia do Tide, São Raimundo das Mangabeiras, Timon e Riachão.

Os autores de oito dos 11 feminicídios ocorridos este ano no estado já foram identificados e estão presos.

Canais de denúncia e apoio às vítimas

O Maranhão conta com 23 Delegacias da Mulher, além de delegacias comuns capacitadas para atender vítimas de violência doméstica. Em cidades sem delegacia especializada, estão sendo implantados Núcleos de Combate à Violência contra a Mulher, ampliando os espaços de acolhimento e atendimento às vítimas.

A prevenção ao feminicídio também é reforçada por meio de ações de conscientização realizadas pelo Departamento de Feminicídio, Delegacia da Mulher e Patrulha Maria da Penha.

Para denúncia

  • 190 – Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança)
  • 181 – Disque-Denúncia Maranhão
  • Aplicativo Salve Maria Maranhão
  • Delegacia Online

Dados que assustam

  • 2020 – 65
  • 2021 – 59
  • 2022 – 69
  • 2023 – 50
  • 2024 – 63
  • 2025 – 11 – até dia 26 de maio

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/06/quando-inconformismo-vira-um-crime-violento/