À medida que dezembro avança, muitas pessoas percebem que algo muda no ritmo interno. O corpo até desacelera com a proximidade das festas, mas a mente parece acelerar. Surge um cansaço difícil de explicar, acompanhado de inquietação, irritabilidade e uma sensação persistente de que o ano terminou deixando pendências demais. Esse estado emocional, conhecido entre psicólogos como síndrome do fim do ano, não é uma doença formal, mas descreve uma experiência recorrente vivida por grande parte da população.
O encerramento do calendário costuma provocar um movimento quase automático de balanço. O que foi feito, o que não aconteceu, o que poderia ter sido diferente. Esse exercício, quando atravessado por cobranças sociais e expectativas irreais, tende a gerar desgaste emocional. O Conselho Federal de Psicologia observa que períodos de transição costumam intensificar sentimentos já presentes, especialmente quando o indivíduo atravessou o ano sob pressão constante.
Um dos sinais mais comuns é o esgotamento emocional. Mesmo pessoas que mantiveram suas rotinas e compromissos relatam uma fadiga que não melhora com descanso. Trata-se menos de cansaço físico e mais de um acúmulo de tensões emocionais que encontram espaço para se manifestar justamente quando o ritmo externo diminui. A Organização Mundial da Saúde aponta que o estresse prolongado, quando não elaborado ao longo do tempo, tende a emergir em momentos de pausa.
Outro aspecto frequente é a comparação. As imagens de celebrações, conquistas e famílias reunidas, amplamente difundidas nas redes sociais, reforçam a ideia de que o fim do ano deveria ser um período de realização plena. Para quem viveu perdas, frustrações ou simplesmente um ano comum, essa exposição pode ampliar sentimentos de inadequação. Estudos da American Psychological Association indicam que a comparação social se intensifica em datas simbólicas e está associada ao aumento de ansiedade e insatisfação pessoal.
Há ainda a culpa por não corresponder ao clima esperado. O imaginário coletivo associa dezembro à alegria, à gratidão e à esperança. Quando esses sentimentos não aparecem, muitas pessoas passam a se julgar, como se estivessem falhando emocionalmente. Psicólogos destacam que essa culpa agrava o sofrimento, pois transforma emoções legítimas em motivo de autocensura.
Mudanças no comportamento também costumam ser percebidas. A irritabilidade aumenta, a tolerância diminui e situações simples passam a gerar reações desproporcionais. Alterações no sono e no apetite surgem com frequência, seja na forma de noites mal dormidas, seja na dificuldade de manter uma rotina alimentar equilibrada. O Ministério da Saúde aponta que esse conjunto de sinais é comum em períodos de sobrecarga emocional.
Especialistas reforçam que a chamada síndrome do fim do ano não deve ser confundida com fraqueza ou incapacidade de lidar com a vida. Ela está profundamente ligada ao contexto. O calendário cria a ilusão de fechamento definitivo, como se o tempo exigisse um veredicto sobre a própria existência. Quando essa cobrança se impõe, o sofrimento encontra espaço.
Reconhecer esses sinais é o primeiro passo para atravessar esse período com mais cuidado. Reduzir comparações, respeitar limites emocionais e aceitar que nem todo fim precisa ser celebrado com euforia pode aliviar a pressão interna. Para muitos, atravessar o fim do ano com honestidade emocional já representa uma forma possível de recomeço.
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/12/quando-o-ano-pesa-os-sinais-silenciosos-da-chamada-sindrome-do-fim-do-ano/
