28 de dezembro de 2025
Rituais da virada: as simpatias que atravessam gerações
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Quando o relógio se aproxima da meia-noite do dia 31 de dezembro, milhões de brasileiros repetem gestos que já não precisam de explicação. Vestem branco, se aproximam do mar, escolhem com cuidado o que vai ao prato ou guardam discretamente algumas moedas no bolso. Não é superstição pura, nem fé organizada. É costume. É rito. É a tentativa humana de dar sentido ao tempo que se encerra e ao ano que começa.

Entre todas as tradições, poucas são tão difundidas quanto o uso de roupas brancas na virada. A cor, associada à paz e à proteção espiritual, chegou ao imaginário popular a partir das religiões de matriz africana e, ao longo do tempo, foi incorporada por pessoas de diferentes crenças. Hoje, o branco já não identifica uma religião específica, mas um desejo coletivo de equilíbrio e serenidade para o novo ciclo.

Nas cidades litorâneas, o movimento se repete à beira-mar. Homens e mulheres avançam em direção às ondas, contam mentalmente até sete e fazem pedidos silenciosos enquanto pulam a espuma que vem e volta. 

A tradição, ligada à reverência a Iemanjá, mistura fé, cultura e simbologia. O número sete, presente em diversas culturas, representa transformação, fechamento de ciclos e recomeço. O gesto, simples, carrega a força de um pedido íntimo lançado ao futuro.

Saber o significado das cores no Ano Novo é uma lição de casa importante para as pessoas supersticiosas que desejam um próximo ano cheio de realizações (Foto: Reprodução)

A ceia também fala para trazer sorte

À mesa, a ceia também fala. A lentilha, cada vez mais comum nos pratos da noite de Réveillon, carrega uma simbologia antiga. O grão, que se expande ao ser cozido, representa crescimento e prosperidade. A tradição, trazida da Europa, especialmente da Itália, foi assimilada no Brasil como um desejo de fartura e estabilidade financeira. Comer lentilha, nesse contexto, é quase um pacto silencioso com o ano que chega.

Não muito distante desse desejo está o hábito de começar o novo ano com dinheiro no bolso ou na carteira. Moedas e cédulas guardadas simbolizam a esperança de que não falte trabalho, renda ou segurança ao longo dos meses seguintes.

Economistas e sociólogos observam que esse tipo de prática revela mais sobre a ansiedade coletiva diante das incertezas do que sobre qualquer crença mística. Ainda assim, o gesto persiste, passado de geração em geração.

Outro ritual comum envolve frutas. Uvas, geralmente em número de doze, são comidas uma a uma à meia-noite, cada qual acompanhada de um pedido. Em algumas regiões, a romã ocupa esse lugar simbólico, com suas sementes guardadas na carteira como sinal de abundância. Ambas as tradições têm raízes antigas, ligadas a culturas mediterrâneas e orientais, onde essas frutas simbolizam fertilidade, sorte e continuidade da vida.

Para estudiosos da cultura, essas simpatias funcionam como ritos de passagem. 

Não prometem milagres, mas oferecem sentido. Em um mundo marcado por incertezas, repetir gestos conhecidos ajuda a atravessar o tempo com alguma ordem interna. É menos sobre acreditar que tudo vai mudar e mais sobre desejar, com intenção, que algo possa ser diferente. No fim, as simpatias da virada não transformam o ano por si mesmas. Mas transformam o modo como as pessoas entram nele. E, para muitos, isso já é o suficiente.

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/12/rituais-da-virada-as-simpatias-que-atravessam-geracoes/