
A culinária do Maranhão é conhecida pela sua diversidade, combinações imprevisíveis e sabores marcantes, que refletem a identidade cultural e a história do povo maranhense. Com receitas passadas de geração em geração, a gastronomia maranhense abraça a história de povos indígenas, africanos e europeus, deixando a experiência de quem experimenta ainda mais inesquecível.
Para entender melhor sobre essa riqueza gastronômica e o significado que ela carrega, O Imparcial conversou com Paulo Maciel, monitor do Museu de Gastronomia Maranhense, espaço de preservação e valorização da culinária local.
“A culinária maranhense é sabores e saberes tradicionais que falam da identidade do povo. Na nossa mesa, não é só o alimento, mas também a afetividade”, afirma Paulo.
Segundo o monitor, por meio das influências que a gastronomia carrega, a história do Maranhão, sua diversidade e tradição podem ser contadas. A base da culinária maranhense está nas influências indígenas, africanas e europeias, que se entrelaçam desde o período colonial. Os pratos típicos são uma expressão direta desse encontro de heranças culturais.
Muito antes da colonização portuguesa, os povos indígenas que habitavam o território maranhense já produziam alimentos a partir da mandioca, do milho e do pescado. O beiju, o mingau e a farinha d’água, por exemplo, são heranças diretas dessas comunidades originárias.
Com a chegada dos portugueses, vieram os temperos e técnicas como o refogado com alho, cebola e gordura, além do uso do arroz, que mais tarde se tornaria o ingrediente principal do famoso arroz de cuxá. Além disso, as frutas que os portugueses encontraram, eles transformavam em geleias, doces e licores.
Já os africanos, trazidos à força como escravos, deixaram sua marca no uso de temperos, azeites, frutos e no preparo coletivo dos alimentos, além do conhecimento profundo sobre ervas, panelas de barro, caldos, defumação de carnes e peixes e o mais famoso, a vinagreira utilizada para fazer cuxá e arroz de cuxá.
Entre os ingredientes mais memoráveis estão o arroz, o camarão seco, a vinagreira, o azeite de coco babaçu, a farinha d’água e o peixe. Todos com presença constante nas mesas maranhenses, especialmente em pratos como arroz de cuxá, torta de camarão, vatapá e peixada escabeche.
“Todo maranhense tem a memória afetiva de chegar em uma barraca do arraial junino e pedir um arroz de cuxá com vatapá e torta de camarão”, exemplifica Paulo Maciel.
História preservada no Museu da Gastronomia
O Museu, localizado no Centro Histórico de São Luís, desempenha papel fundamental na preservação dessa herança culinária e na divulgação do patrimônio culinário do estado. “No museu você consegue ver a culinária tradicional sendo mantida muito forte, mas também perceber que ela se reinventa de forma criativa”, destaca Silvia Romana, coordenadora do museu.
De acordo com Silvia Romana, o espaço promove vivências, oficinas e exposições sobre a comida local. “Nós estimulamos a aproximação do público com a gastronomia maranhense, para que haja essa conexão e afeto com a história e tradição. Nós promovemos oficinas e programações culturais, convidamos cozinheiros e chefes para apresentar seus pratos, entre outras atividades”.
O local recebe visitantes de todo o Brasil e do mundo curiosos para experimentarem as iguarias, como juçara, coco-babaçu e cuxá, e conhecer a história da região maranhense.
Culinária e afeto
A comida típica do Maranhão também carrega afetos e lembranças especiais. Muitas das receitas vêm de avós, mães e pais que ensinaram a preparar os pratos com cuidado e amor. Nádia Mendonça, natural de Bom Jardim, se mudou para São Luís em 2013 e compartilhou algumas de suas memórias com a culinária típica maranhense com O Imparcial.
“Minha família é grande e a gente sempre se reunia para fazer bolo de puba. Era todo um ritual, um gostinho de felicidade em fazer. Também comíamos os peixes do açude do quintal do meu avô, temperados com azeite de coco babaçu pela minha avó”, conta Nádia.
Nádia conta que quando se mudou para São Luís, buscou uma forma de carregar consigo pedaços de sua origem. Hoje, ao preparar um arroz de cuxá, um peixe frito ou uma torta de camarão, ela não deixa de usar o azeite de coco babaçu da sua avó, a vinagreira da sua mãe e o peixe do açude do seu avô.
“Minha mãe sempre me mandava temperos, cuxá pré-cozido e peixe do interior. O azeite de coco também não pode faltar na minha cozinha. Tudo isso me remete ao meu lar, a comida do interior que eu cresci comendo”.
A história de Nádia Mendonça reafirma a ideia de que a culinária vai além de sabores, que também carrega memórias, identidade e saberes de uma família, de uma geração, de um povo.
A culinária maranhense se consolida como um importante elemento da identidade cultural do estado, unindo tradição, história e diversidade. Com raízes que remontam aos povos originários e atravessam a influência de europeus e africanos, os pratos típicos seguem sendo uma ligação entre passado e presente. Para além do sabor, a gastronomia local revela aspectos históricos e sociais do Maranhão, reafirmando seu valor não apenas como expressão cultural, mas também como patrimônio a ser preservado.
Fonte: https://oimparcial.com.br/gastronomia/2025/06/sabores-e-saberes-da-culinaria-maranhense/