30 de junho de 2025
Tradição e Fé: Festa de São Marçal reúne milhares no
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Com tambores vibrando desde as primeiras horas do amanhecer, o bairro João Paulo se transformou, mais uma vez, no coração pulsante do bumba meu boi, durante a tradicional Festa de São Marçal. Celebrada anualmente no dia 30 de junho, a festa homenageia o santo guerreiro e marca o encerramento do ciclo junino na capital maranhense.

É uma segunda-feira, Dia Nacional do Bumba Meu Boi, feriado municipal e ponto facultativo estadual, oportunidade em que milhares de pessoas se reúnem no tradicional encontro dos batalhões de bois de matraca, que está perto de completar 100 anos. 

Estão sendo esperados, segundo a organização do evento, 25 batalhões de bumba meu boi ao longo do dia 30. “Serão homenageados três personagens da cultura ‘in memorian’. A concentração terá o nome do cantador Petinha; a área do desfile se chamará João Chiador; e a área do palco, Humberto de Maracanã, todos cantadores de renome dos bois de sotaque da Ilha. Assim vamos até os 100 anos de festa”, disse Carlos André Costa Teixeira, coordenador da festa. 

Desde as primeiras horas da manhã, centenas de grupos de bumba meu boi de sotaque de matraca começaram a se reunir na avenida principal do bairro, formando um espetáculo de cores, ritmos e devoção popular. A celebração, que une religiosidade e resistência cultural, atrai tanto moradores locais quanto turistas fascinados pelo patrimônio imaterial do Maranhão. 

A passagem dos grupos é por ordem de chegada, com concentração em frente ao quartel do exército. A festa começa às 6h da manhã, com encerramento às 23h. Cerca de 250 mil pessoas devem passar pela avenida São Marçal nesse dia. Há quase 100 anos, um dia inteiro de festa no João Paulo é dedicado ao santo.

Os bois, representando comunidades inteiras, se apresentam um a um, em uma espécie de saudação a São Marçal e ao povo. O evento também se tornou um espaço de afirmação da identidade negra e popular, com forte presença de lideranças comunitárias, artistas e representantes de movimentos sociais.

O governo estadual e a prefeitura de São Luís garantiram apoio logístico e cultural para o evento, com reforço na segurança, apoio de saúde e estrutura para receber os visitantes. Ambulantes e vendedores também aproveitam a movimentação intensa para comercializar comidas típicas, artesanatos, bebidas e lembranças da festa.

“É mais que uma festa, é um símbolo da nossa resistência cultural. O São Marçal representa o povo que não se cala, que canta, dança e reza mesmo diante das adversidades”, afirma o brincante mestre Raimundo Nonato.

A Festa de São Marçal no João Paulo encerra o mês junino maranhense com um espetáculo único que mistura fé, ancestralidade e arte popular. E, como dizem os brincantes, enquanto houver tambor, São Marçal será celebrado com o coração.

Festa de resistência

No dia de São Marçal, matracas e pandeirões dão o tom da festa. É uma celebração que atravessa o tempo e também testa a força, fé e resistência de brincantes, organizadores, dos grupos e admiradores dos batalhões que ficam na rua desde a madrugada anterior.

A Festa surgiu a partir da proibição aos grupos de bumba meu boi de seguirem para a área do Centro da cidade, sob pretexto de manutenção da segurança, ordem e tranquilidade. A polícia não permitia que os brincantes passassem do Areal do João Paulo. Lá mesmo, eles se encontravam, e desde então, o encontro dos grupos de bumba-boi foi se consolidando a cada ano e se expandiu, tomando as proporções atuais.

O santo

Em artigo, o Diácono João Pedro Fonseca conta que São Marçal foi o primeiro bispo do local e evangelizou a Aquitânia, uma região próxima de Limoges. Seria o próprio São Marçal um gaulês. Foi martirizado no século III junto com outros dois presbíteros de sua diocese. Sua imagem geralmente o apresenta como um bispo, de casula ou capa pluvial, báculo e mitra – o chapéu do bispo. Outras o trazem com uma tocha, na companhia de um anjo ou com uma casa em chamas a seus pés.

“Não se sabe como começou a atribuição a São Marçal, mas ela ganhou força e notoriedade principalmente a partir dos anos 1980. Hoje uma estátua de 5 metros do santo está em destaque no local dos folguedos São Marçal ultrapassou fronteiras e se enraizou no imaginário folclórico e devocional do povo ludovicense. Encerra com maestria o período junino da capital maranhense e sempre passa aquela sensação de saudade e dever cumprido aos brincantes”, disse o religioso.

São Marçal não tem igreja, nem capela na capital, mas tem escultura imponente no João Paulo, dá nome à avenida principal do bairro, e é protetor dos brincantes do Bumba Meu Boi do Maranhão.

Fonte: https://oimparcial.com.br/entretenimento-e-cultura/2025/06/tradicao-e-fe-festa-de-sao-marcal-reune-milhares-no-bairro-joao-paulo/