
O bairro que recebeu a denominação Vila Passos, até hoje vigente, surgiu a partir da desativação do cemitério Bom Jesus dos Passos, que se destinava ao sepultamento de pessoas de menor poder aquisitivo. Considerada uma comunidade pacata, com baixos índices de criminalidade, a Vila Passos fica situada no chamado Canto da Fabril, tendo à sua frente à Praça Catulo da Paixão Cearense e o Estádio Municipal Nhozinho Santos, importante campo de futebol da cidade.
Consta que em abril de 1935, o prefeito de São Luís, Manoel Vieira de Azevedo, lançou o Edital nº 23, notificando a população o lançamento “de casas de palha” e de telhas, situadas no subúrbio da cidade. Entre os logradouros onde haviam tais habitações estava a Rua Nova, situada na Vila Passos.No dia 24 de agosto do mesmo ano, o Poder Executivo Municipal à época, convocou os moradores para efetivar a solicitação da transferência de “domínio de imóvel” de terrenos do Patrimônio ligado à Prefeitura de São Luís. Assim se concretizou o povoamento do bairro Vila Passos, cuja história está ligada à da Irmandade de Bom Jesus dos Passos, influente grupo religioso.
A Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos – congregação do século XIX, em especial, tinha importante interferência na sociedade ludovicense e sua história ligada com o nascedouro do bairro. A irmandade administrava o Cemitério da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, ou Cemitério dos Passos, com boa parte da área situada onde atualmente está o Estádio Nhozinho Santos.
De acordo com o “Relatório do Presidente da Província”, Eduardo Olímpio Machado, – citado por Carlos Henrique Pinto da Silveira – no ano de 1841, foi autorizada pela Câmara Municipal de São Luís a construção do cemitério. Oito anos depois, em 1849, uma Lei da Província autorizou o funcionamento do espaço.
Irmandade administrava Cemitério dos Passos
Segundo os registros da época, inicialmente o local era para enterros apenas para membros da própria irmandade. No entanto, surtos de doença na segunda metade do século XIX obrigaram o acolhimento de mortos de outros locais. O fato causou rivalidade ferrenha com o grupo da Santa Casa da Misericórdia.
Por causa disso, a administração dos Passos sofreu perseguições. A maior delas, de acordo com o historiador César Marques, ocorreu em 1869, quando uma informação alarmou a população. O informe aludia que “algumas mortes na cidade estariam ocorrendo devido à má qualidade da água potável da fonte do Apicum”. O ponto natural estaria, de acordo com autoridades, supostamente contaminado pelo enterro dos corpos na região.
Para averiguar a situação, o então presidente da Província do Maranhão, Brás Florentino Henrique de Souza (um médico e professor da Faculdade de Direito do Recife) – nomeou uma comissão para analisar a qualidade da água e a suposta contaminação pelo Cemitério dos Passos. Embora sem um parecer técnico, em 1870, foi solicitado à Câmara local, o fechamento do cemitério dos Passos que, conforme levantamentos não-oficiais, teria realizado 1.782 sepultamentos.
Surge um novo bairro
Com o fechamento do cemitério, surgiu, no vasto terreno um bairro alegre, conforme avaliou o César Marques, no entorno da área do cemitério desativado. Assim, iniciou-se o bairro que logo se incorporou ao processo de desenvolvimento da cidade na região do Centro.
À época, a região era considerada área suburbana em face de possuir casas simples e por conta de sua localização. Com o passar do tempo, a comunidade foi ocupada por famílias que viam ali uma opção mais barata para suas moradias num local próximo do da região central da cidade.
A Vila Passos se consolidou tendo como bairros limítrofes a Coréia, Retiro Natal e Monte Castelo.
As suas primeiras habitações, foram construídas em taipe (armação de madeira e varas e tapadas de barro) e, geralmente cobertas de palha (folhas de pindobeiras). Com o passar das décadas, com o crescimento da cidade que expandiu sua região central, as casas da Vila Passos também foram se modificando e sofrendo reformas ou novas construções, dando lugar a casa de alvenaria, melhorando a qualidade de vida da população. As casas de taipa desapareceram.
Bairro religioso, esportivo e cultural
A Vila Passos, nos seus primórdios viveu atos de violência urbana, o que com o passar do tempo foi mudando, sendo hoje considerado um bairro pacificado, onde não se registram crimes com recorrências. Sua população inicial se constituía de operários das muitas fábricas que existiam na cidade, notadamente extinta Fábrica Santa Izabel, localizada no chamado Canto da Fabril, onde se encontra o prédio do Ministério da Fazenda, comerciantes e servidores da administração pública, trabalhadores autônomos como estivadores e carroceiros.
Ali também residiu Eliezer Silva, que se elegeu vereador de São Luís, por vários mandatos com os votos da comunidade e teve papel importante no seu desenvolvimento. Também residiu o ex-governador Luiz Rocha (ainda vereador), ambos já falecidos.

Estádio Nhozinho Santos
A Vila Passos abriga logo à sua frente a Praça Catulo da Paixão Cearense, construída em um grande largo, em frente ao Estádio Nhozinho Santos, pelo prefeito de São Luís Ivar Saldanha, em 1973, que a denominou Catulo da Paixão Cearense em homenagem ao poeta, compositor e músico, autor da célebre canção “Luar do Sertão” que até nos tempos atuais é muita cantada por artistas do segmente sertanejo.
Ali também está situado o estádio Nhozinho Santos que foi inaugurado em 01 de outubro de 1950. O jogo inaugural foi entre o Sampaio Correa e o Paysandu, e o Sampaio venceu por 2 a 1. O primeiro gol do estádio foi marcado pelo jogador Hélio (Paysandu), aos 25 minutos do 1º tempo. Em 5 de novembro de 1967, Pelé veio a São Luís para participar de um amistoso do Santos F.C. contra a seleção maranhense, realizada pela então primeira-dama do estado, D. Marly Sarney. Foi a última vez que Pelé esteve no Maranhão. O Estádio Nhozinho Santos continua sendo muito importante para a Vila Passos e para a cidade, mesmo passando por constantes paralisações.
Cultura e Religião
A Vila Passos tem sua história marcada pelas suas atividades culturais e religiosas. Conforme a moradora Deusa das Graças Aroucha Galvão, nascida e criada na Vila Passos, o bairro se identificou por muito tempo como um núcleo da cultura popular e religiosa, notadamente das religiões de matriz africana, visto que no bairro existiam muitos terreiros onde se professavam as religiões de matriz africana e, na área da cultura os grupos de bumba-boi de Mizico e de Laurentino, dois grandes mestres do bumba boi do sotaque de zabumba, que se celebrizaram no cenário dos festejos juninos da cidade.

Para a aposentada Raimunda Moura, que desde1957 residente na mesma casa, na Vila Passos, o bairro sofreu muito nos seus primórdios com a falta de estrutura, visto que não possuía água encanada e a iluminação pública era extremamente precária, “mas uma comunidade sempre boa de morar por ter uma população pacata”.
A questão do abastecimento d’água foi resolvida por iniciativa do vereador Luís Regino de Carvalho, que proporcionou a abertura de um poço artesiano para garantir o abastecimento no bairro. Ela lembra que no bairro haviam dois serviços de alto-falante intituladas de Voz Beira-Mar, e Voz Estrela D’alva que eram os principais meios de comunicação imediata e que serviam a comunidade também com diversão, visto que veiculavam também as músicas populares. Também haviam dois bailes populares muito frequentados: o Forró da Rosa e o Forró do Damázio.
Dona Raimunda lembra, também, da capela de Nossa senhora das Graças, que tinha o Padre Haroldo como seu pároco e que a capelinha, que não tinha capacidade para abrigar os féis do bairro, foi transformada em uma igreja maior, iniciativa do empresário Afonso Manoel (ex-deputado) que adquiriu uma casa maior e fez a doação para a construção da atual igreja.
A Vila Passos se limita à frente com a avenida Getúlio Vargas, à sua esquerda com a avenida Venceslau Brás e a Praça da Bíblia, aos fundos pela Avenida Kennedy e à direita pela avenida Vitorino Freire (Anel Viário).
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/08/vila-passos-de-cemiterio-a-bairro-residencial/