O prédio giratório de Curitiba que segue vazio desde 2004

O prédio giratório erguido no bairro Mossunguê, em Curitiba, completa 20 anos sem jamais ter sido habitado. Inaugurado em 2004, o empreendimento foi anunciado como o primeiro edifício residencial do mundo capaz de girar 360 graus de forma independente por andar: o Suíte Vollard nasceu para representar o futuro da moradia e projetar a capital paranaense no mapa da inovação arquitetônica.

Idealizado pelo arquiteto Bruno de Franco e construído pela Moro Construções, o projeto oferecia 11 apartamentos de 164,75 m², com tecnologia capaz de rotacionar ambientes por comando de voz. Cada pavimento tinha motores próprios e rodas dentadas externas, que moviam lentamente as plataformas em torno de um núcleo fixo de banheiros, cozinha e tubulações. Uma volta completa levava cerca de uma hora.

O prédio giratório combinava engenharia sofisticada e discurso conceitual. Em artigo publicado em 2012, Bruno de Franco definiu: “Viver em um apartamento giratório é o máximo que o minimalismo pode oferecer. A rotação permite levar a cama, o bar ou o estar, até uma aconchegante lareira junto ao volume do cilindro central; ou levar você de onde estiver para assistir o próximo filme. Estacionar sua mesa onde quiser, jantar à luz de velas e contemplar as luzes da cidade; ir dormir com a lua se escondendo e acordar com o sol nascendo. É um edifício conceito.”

As vendas começaram com expectativa alta. Cada unidade custava cerca de R$ 835 mil em 2004 — aproximadamente R$ 2,5 milhões em valores atuais. Possíveis compradores reservaram quatro apartamentos, mas três negócios voltaram atrás.

Na inauguração, um apartamento no prédio giratório custava R$ 835 mil

A Moro Construções ficou conhecida por obras conceituais e tecnicamente desafiadoras. “O mote da Moro era o diferencial. Nós sempre pensamos que um arquiteto é um formador de opinião. Fomos uma das primeiras empresas com churrasqueira e lareiras em sacadas de edifícios. Fazíamos e depois os outros copiavam. No Suíte Vollard inovamos. É um prédio conceito, buscamos criar algo interessante”.

Como pontua o autor do projeto e ex-gerente da empresa, Sérgio Luiz Silka, a obra rodou o mundo, em uma época sem celular. “Veio gente do mundo inteiro conhecer. Queriam conhecer o processo, como funcionava, se era real”, relembra ele.

De acordo com o arquiteto, o processo para a elaboração do projeto e a construção levaram anos de estudos e testes. “Planejado desde 1997, o projeto passou por diversos testes para garantir seu pleno funcionamento. Durante seis meses, a equipe trabalhou dia e noite, sem interrupções, até alcançar o resultado esperado”.

O prédio giratório de Curitiba mantém sua estrutura e sistemas de rotação ativos, mas segue vazio desde 2004. (Foto: Antônio More/Arquivo Gazeta do Povo)

A obra foi entregue em 2000 e lançada oficialmente em 2004. “Houve uma forte preocupação com a área de tecnologia, resultado de anos de estudos e aprimoramentos. Porém, o mercado não evoluiu na velocidade que a equipe esperava“, disse.

O público não se materializou. O empreendimento acumulou dívidas e acabou penhorado. Em 2022, a Justiça levou 10 das 11 unidades a leilão, com lance inicial de R$ 1,4 milhão — sem sucesso. Na segunda rodada, o valor caiu para R$ 849 mil. Apenas uma unidade foi arrematada.

Edifício segue com vigilância particular, sem previsão de ocupação

Apesar do abandono, o prédio giratório mantém estrutura sólida e sistemas de rotação ainda operantes. O imóvel pertence a diferentes grupos empresariais, mas nenhum obteve autorização de Habite-se.

O edifício permanece sob vigilância particular e não há previsão de ocupação. Em 2023, a Moro Construções entrou em recuperação judicial.

“Esses dias vimos que um andar se moveu. A obra está abandonada e já levaram muitas coisas. É uma recordação de algo inovador, uma obra única, mas que não conquistou o mercado”, concluiu o engenheiro Sérgio Luiz Silka.