
Em discurso carregado de crítica e ironia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, comentou nesta terça-feira (29) os recorrentes ataques à estátua “A Justiça”, instalada em frente ao prédio da Corte, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. A obra, esculpida por Alfredo Ceschiatti, representa uma mulher sentada, vendada e com uma espada no colo — símbolo da imparcialidade do Judiciário.
“Essa pobre dessa estátua só não saiu correndo porque ela não pode, porque ela já recebeu pedra, já recebeu pichação, já recebeu bomba”, afirmou Dino durante um evento do Tribunal de Justiça do Maranhão, em São Luís. “Todo dia vai um lá vaiar a estátua, dizendo que é encarnação do mal, do demônio, do satanás, faz exorcismo na pobre da estátua e ela não pode sair correndo e ainda tem que ouvir esse tipo de posição nitidamente externada.”
Segundo o ministro, diante desse cenário, a resposta institucional deve ser firme. “O que nós temos que fazer? Tudo, menos buscar a comodidade, que é um impulso primário do ser humano. (…) Hoje, se contrapor a essa ideia é tão duro quanto a realidade da estátua, só que nós não somos feitos de pedra.”
A estátua de Ceschiatti tornou-se um símbolo nacional dos ataques contra a democracia após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando extremistas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes. Na ocasião, manifestantes escalaram a escultura e uma das invasoras, Débora Rodrigues — posteriormente apelidada de “Débora do batom” — escreveu sobre a estátua a frase “perdeu, mané”, com batom vermelho.
A expressão, dita meses antes pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso, durante uma conferência em Nova York, foi usada por opositores do resultado eleitoral de 2022. Débora foi condenada a 14 anos de prisão e ao pagamento de multa de R$ 50 mil por sua participação nos atos.
Outro episódio marcante envolvendo a estátua ocorreu em dezembro de 2023, quando Francisco Wanderley Luiz arremessou explosivos na Praça dos Três Poderes, tendo como alvo justamente a escultura. Câmeras de segurança registraram o momento em que ele lança os artefatos, foge de um segurança e, por fim, deita no chão ao lado de uma bomba. A explosão causou sua morte.
Os incidentes, que se acumulam desde o início das tensões políticas recentes, levaram o monumento a se tornar não apenas um símbolo da Justiça, mas também da resistência do Estado democrático de direito frente a atos de violência e intolerância.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/a-justica-so-nao-saiu-correndo-porque-nao-pode-diz-ministro-flavio-dino-sobre-ataques-a-estatua-do-stf/