13 de agosto de 2025
PF encontra em agenda de Augusto Heleno anotação sobre espionagem
Compartilhe:

A Polícia Federal localizou, entre as 101 páginas de uma agenda pessoal do general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), uma anotação que faz referência a um episódio de possível espionagem contra Allan Lucena, empresário e ex-sócio de Jair Renan Bolsonaro, filho 04 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O material, obtido com exclusividade pela CNN, foi apreendido no âmbito das investigações sobre um suposto esquema de monitoramento ilegal operado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão Bolsonaro.

O caso mencionado por Heleno ocorreu em março de 2021, quando Lucena, que também atua como personal trainer, percebeu estar sendo seguido no prédio onde morava, em Brasília. Ele acionou a Polícia Militar, que abordou um suspeito em um veículo estacionado nas proximidades. O homem se apresentou como agente da PF, e a ocorrência foi registrada pela Polícia Civil.

Investigações posteriores da Polícia Federal confirmaram que Lucena havia sido alvo da chamada “Abin paralela” — um uso indevido de sistemas da agência para monitorar pessoas com o objetivo de favorecer interesses particulares, incluindo o de Jair Renan.

Anotação de Heleno

Na agenda apreendida, o general Heleno registrou à mão uma versão dos fatos: “Após notícias na imprensa de que o filho do presidente [Jair Renan] estava utilizando um veículo cedido por um estranho, apenas apuramos que o referido carro, na realidade, estava na posse de outra pessoa. Na verdade, o filho do presidente, cuja segurança é de responsabilidade do GSI, nunca utilizou aquele carro. Ele é filho do presidente. Portanto, é atribuição da Abin verificar o fato”.

Segundo a PF, o agente federal Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes, ambos cedidos à Abin na época, foram responsáveis pela operação de espionagem contra Lucena.

Relato da vítima

Em entrevista à CNN, concedida em janeiro de 2024, Allan Lucena afirmou que já tinha consciência de que estava sendo monitorado. “O carro que eu ‘peguei’ na minha garagem era pessoal da Abin, me perseguindo”, disse. Ele contou que, após acionar a PM, o suspeito abordado se identificou como Luiz Felipe Barros Felix, agente da PF cedido à Abin.

Ao prestar esclarecimentos, Felix afirmou que trabalhava diretamente subordinado a Alexandre Ramagem, então diretor-geral da agência. O episódio foi incluído no relatório que levou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a autorizar operação contra Ramagem — hoje deputado federal pelo PL-RJ — e sete agentes da PF cedidos à Abin, entre eles Luiz Felipe Barros Felix.

“Assim, relata-se que Luiz Felipe Barros Félix, agente de confiança de [Alexandre] Ramagem, que operava sob suas ordens, exerceu monitoramento, sem causa legítima, sobre Allan Lucena, personal trainer de Jair Renan Bolsonaro, com vistas a livrar este último de investigações já então em curso no inquérito policial”, aponta trecho do inquérito da PF.

A CNN informou que procurou a defesa de Augusto Heleno, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/abin-paralela-pf-encontra-em-agenda-de-augusto-heleno-anotacao-sobre-espionagem-contra-ex-socio-do-filho-04-de-bolsonaro/