9 de outubro de 2025
Aepar critica reforma tributária e pede fim da "sufocação" fiscal
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Empresários paranaenses subiram o tom contra Brasília. O II Encontro de Presidentes da Associação dos Empresários do Paraná (Aepar), em Curitiba, reuniu líderes dos principais setores produtivos do estado em torno de um diagnóstico comum: a política fiscal federal está inviabilizando quem produz. Reforma tributária, falta de previsibilidade e excesso de tutela estatal foram os alvos das críticas mais duras ao governo em debates sobre os desafios de 2026.

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O presidente da Aepar, Carlos Gloger, abriu o encontro destacando a união das entidades em torno da defesa do setor produtivo paranaense. “O que temos visto é um ambiente de negócios sufocado por uma política fiscal que não premia quem produz, mas quem consome o dinheiro público”, criticou.

Para ele, 2026 será um ano decisivo para reposicionar o papel do empresariado no debate público. “Precisamos de mais protagonismo e menos tutela estatal. A Aepar não é oposição a governos, e sim uma entidade que exige coerência e responsabilidade econômica.”

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O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), Sérgio Malucelli, concentrou críticas à reforma tributária, além de apontar riscos logísticos para o estado. “A reforma vai penalizar o setor de serviços e não resolve o desequilíbrio federativo. Continuaremos recolhendo 80% e recebendo 12% de volta”, disse.

Malucelli também atacou a PEC que restringe o alcance da Justiça sobre parlamentares, chamada de PEC da Imunidade ou PEC da Blindagem. “Isso é um retrocesso moral. Como explicar que um deputado precise da autorização dos pares para responder judicialmente? É uma vergonha nacional”, opinou.

No aspecto de infraestrutura e logística do Paraná, Malucelli enfatizou o que aposta como gargalos nos transportes rodoviário e ferroviário. “O custo logístico do Brasil é uma anomalia. No Paraná, ainda dependemos de concessões que se arrastam e de rodovias que não recebem o investimento prometido. O transporte de cargas vive um impasse, e sem resolver isso, a competitividade do nosso estado fica comprometida”, alertou.

O presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Edson Vasconcelos, reforçou críticas à carga tributária e defendeu um pacto de eficiência produtiva. “O empresário brasileiro trabalha metade do ano para pagar impostos. Isso é incompatível com o desenvolvimento. Temos insistido que o foco precisa ser produtividade e segurança jurídica, não mais burocracia.”

Ele também ressaltou que o setor industrial enfrenta custos crescentes e instabilidade regulatória. “Sem previsibilidade, não há investimento. E sem investimento, não há emprego.”

O secretário-geral do Sistema Ocepar, que representa as cooperativas instaladas no estado, Luiz Baggio, destacou a necessidade de estabilidade e respeito ao segmento. “O cooperativismo paranaense é responsável por uma fatia significativa do PIB estadual, mas tem sido tratado de forma desigual em relação a outros setores. A reforma tributária precisa reconhecer que a cooperação é o motor da economia real, não uma exceção fiscal”, afirmou.

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Em meio à discussão sobre o ambiente político nacional, Sérgio Malucelli fez referência à possibilidade de um político paranaense disputar a Presidência da República em 2026 — numa clara alusão ao governador Ratinho Junior (PSD). “É a primeira vez em anos que se fala de forma concreta em um candidato que possa representar o Paraná. Isso é positivo, mas ainda vejo pouca força para furar a bolha política de Brasília e São Paulo”, avaliou.

Malucelli ressaltou que o debate é saudável e que, independentemente da candidatura, o Paraná precisa se afirmar nacionalmente. “Nosso estado tem o melhor ambiente de negócios do país, mas falta musculatura política. Precisamos ser respeitados em Brasília como motor da economia e não apenas como coadjuvantes.”

O presidente da ACP (Associação Comercial do Paraná), Antonio Deggerone, seguiu a mesma linha e defendeu uma atuação mais firme das entidades empresariais. “O Brasil está perdendo a noção de responsabilidade fiscal. O governo fala em combater desigualdades, mas cria novos tributos e aumenta o custo do crédito. A iniciativa privada precisa se fazer ouvir”, declarou.

Na visão do presidente da Abimad (Associação Brasileira das Indústrias de Móveis de Alta Decoração), Paulo Mourão, o setor moveleiro enfrenta desafios semelhantes. “A indústria de móveis sofre com a retração do consumo e com a insegurança nas políticas de exportação. Precisamos de um governo que estimule a produção, e não que a inviabilize por meio de impostos cumulativos e entraves aduaneiros.”

O presidente da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo), Paulo Antonio Bertolini, destacou o impacto da instabilidade cambial e das políticas ambientais sobre o agronegócio. “O campo tem sustentado a economia, mas está sendo penalizado por uma agenda ideológica. A produção de milho e sorgo é estratégica, e o país precisa parar de demonizar quem produz”, afirmou, defendendo uma política agrícola pautada em ciência e competitividade.

O presidente da Aepar encerrou o encontro com uma convocação às entidades para fortalecer o diálogo institucional e ampliar a representação política do setor produtivo. “Não queremos ser apenas reativos. Queremos propor, influenciar e mostrar que o Paraná tem voz própria. A Aepar seguirá como um fórum de defesa da livre iniciativa, da responsabilidade fiscal e do respeito a quem empreende”.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/parana/aepar-setor-produtivo-rumos-economicos-2026/