
Em meio à escalada das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, autoridades do Executivo e do Legislativo se reuniram nesta quarta-feira (16) para articular uma resposta institucional às tarifas e investigações anunciadas pelo governo estadunidense. O encontro contou com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Ao final da reunião, os três reforçaram a necessidade de uma atuação conjunta em defesa da soberania nacional, criticando duramente a decisão de Washington.
“Recebemos informações sensíveis, que trazem para gente todo esse panorama internacional. E vejo, neste momento, [um panorama] de agressão ao Brasil e aos brasileiros, isso não é correto. E temos que ter firmeza, resiliência e tratar com serenidade essa relação”, afirmou Davi Alcolumbre.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, reforçou o discurso de união:
“Estamos unidos para defender a soberania nacional, o presidente Lula tem enfatizado isso e a separação dos Poderes é pedra basilar do Estado de direito da democracia. E, na questão comercial, entendemos que é um equívoco do governo americano, que eles têm superávit na balança comercial com o Brasil. Dos dez produtos que eles mais exportam, oito não pagam nada, nada de imposto, e a tarifa média de importação é de 2,7%. Então é totalmente inadequado e injusto e nós vamos trabalhar juntos para reverter essa situação. Vamos juntos”, concluiu.
Investigações e tarifaço
A resposta institucional ocorre um dia após o Departamento de Comércio dos Estados Unidos anunciar uma investigação formal contra o Brasil com base na Seção 301 da Lei de Comércio estadunidense. O processo, que pode resultar na imposição de sanções, aponta supostas “práticas desleais” brasileiras em áreas como:
- Comércio digital e serviços de pagamento eletrônico (incluindo o sistema Pix);
- Tarifas “injustas e preferenciais”;
- Deficiências em fiscalização anticorrupção;
- Falhas na proteção à propriedade intelectual (‘pirataria’, produtos falsificados);
- Desmatamento ilegal;
- Barreiras ao acesso de etanol dos EUA ao mercado brasileiro.
A iniciativa foi lançada sob impulso do governo do ex-presidente Donald Trump, que recentemente voltou a criticar o Supremo Tribunal Federal e a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), alegando perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A nova investigação se soma à tarifa de 50% anunciada por Trump sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em agosto.
Reação articulada e esforço diplomático
A união entre representantes dos Três Poderes — ainda que de forma informal — busca projetar um posicionamento firme do Brasil frente ao que o governo considera uma retaliação injustificada. Apesar das divergências políticas internas, o gesto de unidade entre Alckmin, Alcolumbre e Hugo Motta indica um esforço de coesão institucional diante de um conflito com consequências econômicas e diplomáticas.
Segundo fontes do Planalto, o presidente Lula tem mantido diálogo com o Itamaraty e avalia acionar organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), para contestar as medidas dos EUA. Paralelamente, o governo brasileiro articula contatos com setores produtivos e aliados no Congresso para demonstrar que a ofensiva de Trump pode comprometer empregos e investimentos em áreas estratégicas da economia brasileira.
Apelo à diplomacia e retórica soberanista
A declaração de Alckmin, ao ressaltar o desequilíbrio da balança comercial entre os dois países, reforça o argumento de que os EUA seriam beneficiários da atual relação bilateral, e não vítimas. Segundo dados oficiais, os Estados Unidos registram superávit em sua balança com o Brasil, especialmente em setores industriais e de tecnologia, enquanto os produtos brasileiros enfrentam restrições e tarifas mais elevadas para entrar no mercado estadunidense.
A estratégia do governo Lula tem sido combinar retaliação comercial com diplomacia, reforçando o discurso de soberania, amplamente apoiado pela população brasileira, como mostraram recentes pesquisas de opinião.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/alcolumbre-alckmin-e-motta-reagem-a-tarifas-dos-eua-e-defendem-uniao-por-soberania-nacional/