6 de novembro de 2025
Apresentador Ratinho é aposta para nacionalizar filho em 2026
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Quando fala de si mesmo, o apresentador Carlos Massa, mais conhecido como Ratinho, costuma repetir que é, antes de tudo, um vendedor, uma palavra valiosa para a disputa eleitoral em 2026. Essa definição simples ajuda a explicar por que, mais de três décadas depois de estrear na televisão, ele mantém uma das audiências mais fiéis do país.

Formado majoritariamente por brasileiros das classes C, D e E, o público de Ratinho se reconhece no tom direto, na linguagem popular e na mistura de humor, moralismo e improviso que caracterizam seu programa na emissora de televisão SBT.

Um comentário deixado recentemente em uma postagem no Instagram de Ratinho resume bem essa influência: “Tenho 40 anos e quando criança, morando no interior de Pernambuco e na zona rural da minha cidade em um sítio com uma tevê pequena em casa, era a alegria nas noites de segunda a sexta”, escreveu um seguidor.

É justamente essa capacidade de comunicação direta com o eleitor comum que faz de Ratinho uma das apostas mais valiosas para a eventual campanha presidencial do filho, o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), em 2026. Analistas políticos avaliam que, embora o governador tenha consolidado uma imagem de gestor eficiente, ele ainda precisa nacionalizar seu nome e conquistar o eleitorado popular, especialmente no Nordeste.

A região é especialmente desafiadora tanto para Ratinho Junior quanto para qualquer outro candidato que queira enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, devido às origens do petista e a programas sociais que são suas bandeiras e têm alta capilaridade, como o Bolsa Família.

Nesse quesito, ninguém no entorno de Ratinho Junior tem mais experiência para ajudar nessa tarefa do que o pai.

O vendedor que construiu um império

Autodeclarado radialista e vendedor, Ratinho construiu uma trajetória que une carisma popular e tino comercial. Ele atua como empresário da comunicação, dono do SBT Paraná e de uma rede com 85 rádios, além de dividir o faturamento do programa nacional com o SBT.

Fora da mídia, diversificou seus investimentos. Hotelaria, agronegócio, indústria e varejo compõem um conglomerado que se estende por todo o país. Seus hotéis são o setor mais lucrativo do grupo, enquanto as fazendas de soja, milho e café, principalmente no norte do Paraná, reforçam o elo com o agronegócio.

O apresentador também mantém negócios no Paraguai, onde tirou cidadania, e já usou o alcance da televisão para impulsionar empreendimentos imobiliários, como a venda de lotes em projetos próprios.

Ratinho é um pai que vende, mas não se mete, o que pode ser valioso em 2026

Apesar de ser uma figura pública com enorme alcance, Ratinho faz questão de repetir que não interfere nas decisões políticas do filho. “Eu não me meto, nunca me meti no governo dele. Não tem nenhum funcionário indicado por mim, nenhum secretário”, afirmou em julho, em entrevista ao podcast Os Nagle e os Empreendedores do Brasil.

Mas há um campo em que o pai ainda é ouvido com atenção: o marketing. “A única coisa em que eu me meto é quando ele vai fazer propaganda. Ele me liga: ‘Pai, o que você acha dessa propaganda?’ Eu falo: ‘Tá muito poluída, a voz do locutor não tá boa’. Ou digo que tá boa, pra contratar. É a única coisa em que eu dou palpite, porque é o meu trabalho”, contou.

Ratinho Junior confirma que o pai é, antes de tudo, um conselheiro de comunicação. Em entrevista à Gazeta do Povo, o governador explicou que pretende conquistar o eleitor das classes C, D e E mostrando resultados concretos da gestão no estado que governa.

“É mostrando o que nós fizemos no Paraná e mostrando que a gente tem um projeto que pode melhorar a vida, não só de quem mora no Nordeste, mas de quem mora no Brasil como um todo”, afirmou.

E sobre uma eventual participação do pai na campanha, respondeu: “Olha, eu gostaria muito, porque ele é uma pessoa que boa parte da população gosta bastante. Obviamente como pai, como filho, eu ficaria muito feliz de ter ele me ajudando”, disse.

O próprio apresentador Ratinho, por sua vez, se mostra ambíguo, mas já fala como pai de um presidenciável: “O pai não quer, mas o brasileiro quer. Então, se for para ajudar, vai. Mas se eu puder escolher, não ponho meu filho [na disputa]. Acho que é muito difícil. Mas ele tem muita competência. O que ele fez no Paraná é um negócio impressionante”, disse.

O passado político e o presente de influência

Antes de se tornar um dos rostos mais conhecidos da televisão brasileira, Ratinho teve carreira política no Paraná. Foi vereador em Jandaia do Sul por três mandatos consecutivos entre 1977 e 1988, depois vereador em Curitiba e deputado federal por um mandato. Desde então, está fora da vida partidária.

“Ele gosta de política, mas não gostou de ser deputado. Odiou, se decepcionou muito. Ele sempre gostou de ser popular. O rádio levou ele pra política, mas ele acabou descobrindo que gostava de fato da comunicação, não da política”, contou Ratinho Junior à Gazeta do Povo em 2018, pouco antes de assumir como governador do Paraná.

Mesmo afastado da política institucional, o apresentador segue como voz influente no imaginário popular, capaz de falar diretamente ao eleitor, um ativo raro na comunicação política.

Relação de Ratinho com Jair Bolsonaro pode ser empecilho para 2026

A única nuvem sobre esse capital de influência vem do campo bolsonarista. O apresentador apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, mas o relacionamento se desgastou, o que ficou evidente quando o ex-presidente perdeu a reeleição e viajou para os Estados Unidos.

Bolsonaro ficou hospedado em um condomínio de luxo em Kissimmee, na Flórida, o mesmo onde Ratinho tem uma casa. Embora estivessem a menos de dez minutos de distância, o apresentador não foi visitá-lo. “Eu passei pela casa dele várias vezes, mas achei melhor não incomodar. Acho que ele está descansando”, disse à Folha de S.Paulo à época.

O gesto foi interpretado como uma desfeita por Bolsonaro e, para aliados políticos, essa fissura limitará o alcance político de Ratinho Junior. Caso permaneça inelegível, o ex-presidente será o principal cabo eleitoral da direita em 2026.

Cenário em construção

Dentro do PSD, partido que transita entre a direita e o governo Lula, a candidatura de Ratinho Junior à Presidência ainda é tratada com cautela. Mas o nome do governador é visto como um dos poucos com potencial de unir discurso conservador e perfil de gestor técnico.

Enquanto o tabuleiro de 2026 ainda se movimenta, pai e filho mantêm a rotina discreta. O apresentador segue à frente de seus negócios e programas, e o governador trabalha para transformar o sucesso regional do Paraná em vitrine nacional.

Um vende ideias, o outro, resultados. E é justamente nessa combinação do vendedor carismático com o gestor calculado que aliados apostam para tentar nacionalizar o nome Ratinho e vencer o temido adversário político Lula em 2026.

A reportagem da Gazeta do Povo tentou contato com Carlos Massa, mas não obteve retorno até a publicação. O espaço segue aberto.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/apresentador-ratinho-aposta-candidatura-filho-2026/