Atacado por Trump, Moraes tem em seu gabinete réplica da Constituição dos EUA – Agenda do Poder

O gabinete do ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF), guarda uma curiosa e simbólica coleção: réplicas emolduradas de documentos históricos dos Estados Unidos, como a Declaração de Independência (1776), a Constituição americana (1787) e o registro do Congresso que marcou sua entrada em vigor (1789). Também compõe a decoração uma cópia da Magna Carta de 1215, marco fundacional dos direitos civis na tradição ocidental.

A presença desses documentos — que evocam ideais de liberdade, democracia e garantias individuais — ganha uma nova camada de interpretação após Moraes se tornar, nesta quarta-feira (30), o primeiro integrante de uma alta corte brasileira a ser sancionado pelos Estados Unidos com base na Lei Global Magnitsky.

Criada para punir estrangeiros envolvidos em corrupção ou violações de direitos humanos, a norma permite aos EUA adotarem medidas como congelamento de bens, bloqueio de contas bancárias, suspensão de vistos e proibição de entrada no país. A inclusão de Moraes na lista representa um movimento inédito e diplomática e politicamente delicado nas relações entre Brasil e Estados Unidos.

Ainda não está claro quais sanções efetivas serão impostas. A decisão final está nas mãos do presidente Donald Trump, que reassumiu a Casa Branca em 2025 e tem adotado uma linha agressiva em relação ao Judiciário brasileiro para tentar barrar as investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por tentativa de golpe de Estado.

As réplicas dos documentos norte-americanos estão instaladas na recepção do gabinete de Moraes, espaço de acesso a visitantes, com sofás e ambiente de espera. A decoração foi escolhida pelo próprio ministro em 2017, quando tomou posse no Supremo. Por tradição, cada integrante da Corte tem liberdade para montar seu espaço de trabalho conforme preferências pessoais.

Agora, o que antes parecia uma reverência discreta a símbolos do constitucionalismo e do Estado de Direito ganha novos contornos. A ironia não passa despercebida: enquanto é acusado por Washington de ferir os princípios que esses documentos consagram, Moraes os mantém em destaque, emoldurados, em seu gabinete no coração do Poder Judiciário brasileiro.