
Marcelo Rubens Paiva, autor do livro “Ainda Estou Aqui”, que inspirou o filme ganhador do Oscar, disse hoje que está sentindo falta de “pessoas nas ruas, pedindo ‘sem anistia’ aos golpistas”. A fala ocorreu em evento na USP sobre os 40 anos da transição democrática, que também contou com a participação de Cármen Lúcia, ministra do STF.
Marcelo Rubens Paiva contestou a demora do STF para analisar o assassinato do seu pai pela ditadura militar, em 1971. Em fevereiro, após a repercussão do filme, o Supremo decidiu analisar recursos envolvendo o caso do ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva e de outras duas vítimas da ditadura. O tribunal deve decidir se Lei da Anistia se aplica a crimes em curso, como ocultação de cadáver — o corpo de Rubens Paiva nunca foi encontrado —, e se viola tratados internacionais de direitos humanos.
Escritor disse que a democracia brasileira se mostrou forte após a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. “A maioria dos militares consideravam os golpistas uns aventureiros, e o Bolsonaro um doido de pedra. Eles não tiveram sucesso na tentativa de golpe porque a nossa democracia talvez esteja mais consolidada do que a gente imaginava”.
O escritor foi aplaudido e tietado. Após o evento, Marcelo Rubens Paiva deu autógrafos e posou para fotos com estudantes.
O evento na USP lembrou os 40 anos da redemocratização do país, ocorrida em 1985. O painel ocorreu hoje de manhã no salão nobre da Faculdade de Direito da USP, no centro de São Paulo.
Estou sentindo falta das pessoas nas ruas, pedindo “sem anistia” aos golpistas. Quem está nas ruas são os bolsonaristas. A democracia precisa de vigilância constante, porque está sempre sob ameaça.
Esse processo estava parado há dez anos no STF (…) Como isso ainda está em julgamento? O torturador do meu pai ainda está vivo, morando em Botafogo [bairro do Rio] e ganhando aposentadoria”, disse o escritor. E continuou:
“Minha mãe já se foi, mas é uma luta que a minha família mantém. Está no DNA. Não se encerrou, não tem ponto final. Meu pai não é um corpo, é um caso que não se encerra. [Nos meus livros anteriores], eu tinha esclarecido já algumas coisas sobre a ditadura, mas as gerações posteriores se esqueceram. Foi com muito desgosto que vi as manifestações de apoio nas ruas a intervenção militar. Foi quando decidi voltar a falar de ditadura e resgatar essa memória com o “Ainda Estou Aqui””, concluiu.
Ministra do STF alerta para “tiranos” na democracia
Cármen Lúcia disse que a democracia sempre pode estar sujeita a ameaças. “A democracia nunca está perfeita ou livre de uma tentativa de que seja fragilizada. Tiranos existem em todos os lugares e em todos os tempos. É bom que a gente fique atento a isso”, disse.
Ministra do STF falou sobre mortes no período da ditadura durante a sua juventude. “Na minha geração, democracia foi luta, sonho e esperança. Luta, porque alguém de repente desaparecia da sala de aula e a gente não sabia que destino tinha tomado. Democracia não é apenas um regime político. É uma escolha por um modo de viver. É uma construção diária e permanente”.
Cármen Lúcia abordou necessidade de luta contra desigualdade contra mulheres, negros e indígenas. “Uma sociedade na qual mata-se uma mulher por ser mulher a cada seis horas não é uma democracia plena, porque não há democracia de desiguais. E não são só as mulheres. Os negros e indígenas também sofrem com todas as formas de preconceito e desigualdade”.
Com informações do UOL.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/autor-do-livro-ainda-estou-aqui-marcelo-rubens-paiva-diz-que-falta-gente-nas-ruas-contra-anistia-a-golpistas/