18 de outubro de 2024
Avanço da centro-direita e derrotas do PT em redutos tradicionais
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Foto: Lula em reunião ministerial no Palácio do Planalto

O presidente Lula (PT) tem sinalizado a aliados que, após o segundo turno das eleições municipais, pretende se debruçar sobre o mapa eleitoral para fazer um redesenho da Esplanada.

Ainda não há clareza da amplitude e do ritmo dessa reforma, segundo esses interlocutores, nem se acontecerá antes da eleição dos futuros presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, que ocorre em fevereiro de 2025.

As discussões já começaram, mas ainda estão em estágio embrionário.

O resultado das eleições pode desencadear as mudanças após um primeiro turno com avanço da centro-direita e derrotas do PT em redutos tradicionais.

Nesta quarta-feira (16), Lula voltou a negar planos de mudança na equipe, com a qual disse estar satisfeito.

“Vocês percebem que poucas vezes a imprensa trata ‘o Lula vai mudar ministério’, ninguém pergunta mais. Porque, no mandato passado, todo dia eu tinha que responder, ‘vou trocar ministério’, ‘vou trocar ministério’, e eu não tenho nenhum interesse e nenhuma pressa de mexer no time que está ganhando”, disse o presidente em Natal.

Mas, nas conversas com assessores e aliados, o presidente tem admitido inquietações com a comunicação do governo, a mobilização nas ruas e a dificuldade de articulação política no Senado. Ele se queixa ainda da falta de resultados políticos dos ministros, especialmente pela dificuldade de conversão de votos no Congresso Nacional.

A partir desses sinais, colaboradores do presidente apostam em mudanças na cozinha do Palácio do Planalto, a começar pela saída do titular da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, responsável pela interlocução com os movimentos sociais.

Um dos cenários incluiria a substituição de Macêdo por Paulo Pimenta, hoje titular da Secom (Secretaria de Comunicação).

Na terça (15), Pimenta reuniu agências de publicidade contratadas para a comunicação do governo e solicitou uma campanha de fim de ano. A orientação, segundo relatos, é a apresentação de peças que exaltem os avanços da economia e tenham a marca do governo Lula.

Uma das queixas do presidente, segundo interlocutores, está no fato de as ações federais não terem se convertido em apoio popular. O sucesso da campanha pesaria para o destino de Pimenta.

Para a vaga do ministro, as apostas recaem sobre o publicitário Sidônio Palmeira, responsável pela comunicação da campanha de Lula, e Laércio Portela, que já ocupou interinamente o cargo quando Pimenta assumiu a secretaria criada para recuperação do Rio Grande do Sul após enchentes no estado.

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), também é citado para a Secom, em um redesenho mais amplo que incluiria o lançamento de Pimenta para a presidência do partido.

Hoje, Edinho é apontado como favorito para a sucessão de Gleisi Hoffmann (PR) no comando da legenda. Mas Pimenta chegou a ser cogitado para o posto, tendo desistido da disputa.

A própria Gleisi é citada em eventual rearranjo na Esplanada, sendo lembrada para ocupar a pasta de Desenvolvimento Social ou a Secretaria-Geral da Presidência. A interlocutores ela tem sinalizado que deseja ficar no comando do partido até fevereiro de 2025, quando se encerra seu mandato. Só depois pensaria nos próximos passos.

Uma das apostas de interlocutores de Lula também é a nomeação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de quem o petista se aproximou nesses quase dois anos de governo.

Pacheco é hoje apontado como o candidato do presidente ao Governo de Minas, em 2026, e nome forte para uma eventual vaga ao STF (Supremo Tribunal Federal).

No governo, ele poderia atuar na articulação com o senadores e o Judiciário. Seu nome chegou a ser cogitado para o lugar de Alexandre Silveira, também do PSD mineiro, no Ministério de Minas e Energia. Mas Silveira teria crescido na avaliação de aliados de Lula na cobrança de responsabilidades do apagão de São Paulo.

O nome de Pacheco também é lembrado para ocupar as pastas da Justiça e da Defesa, além da AGU (Advocacia-Geral da União).

Para lidar com a preocupação com a articulação do governo do Senado, esses aliados de Lula defendem que o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT-PI), assuma sua cadeira no Legislativo —ele é senador eleito, mas licenciado para atuar no governo.

Dentro dessa proposta, há defesas pela nomeação da senadora Teresa Leitão (PT-PE) para o Ministério das Mulheres. Isso permitiria a ascensão do suplente dela, Silvio Costa (Republicanos), ao Senado.

Pai do ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Costa reforçaria a articulação do governo no Senado, na opinião de uma ala de petistas. Ele foi aliado dos governos anteriores do PT, entre eles o de Dilma Rousseff, e votou, quando era deputado, contra o impeachment da então presidente.

No ápice das crises entre governo e Legislativo, Silvio Costa Filho chegou a ser cogitado para a SRI (Secretaria de Relações Institucionais), chefiada por Alexandre Padilha. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), rompeu com Padilha, a quem chamou de seu desafeto e “incompetente”.

A calmaria durante o período eleitoral e o ocaso do mandato de Lira teriam conferido sobrevida a Padilha, já cogitado para o Ministério da Saúde. Ele ocupou o cargo durante o governo Dilma.

A cúpula do Congresso, por sua vez, avalia que o Executivo deverá realizar alguma mudança na Esplanada já mirando 2026 e a eventual reeleição de Lula. Nesse sentido, apostam na entrada de mais representantes de partidos do centrão em espaços ocupados hoje por petistas.

Parlamentares dizem acreditar que o Executivo possa também usar trocas na Esplanada para contemplar candidatos à sucessão de Lira que eventualmente deixarem a disputa. Hoje, estão no páreo três nomes: Antonio Brito (PSD-BA), Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Hugo Motta (Republicanos-PB).

Apesar dos acenos do presidente, há quem lance dúvidas sobre a possibilidade de realização de uma reforma ministerial. Esses colaboradores lembram que Lula já teve outras oportunidades e frustrou, por exemplo, a expectativa de que a saída de Pimenta desencadeasse essas mudanças.

Um dos problemas estaria na dificuldade de realocar ministros. Esse seria o caso de Macêdo, que chegou a ser cotado para a presidência do PT, hipótese já rechaçada. Na cúpula do partido, seu nome é mencionado para o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) ou a Autoridade Climática, a ser criada.

Com informações da Folha de São Paulo

Fonte: https://agendadopoder.com.br/avanco-da-centro-direita-e-derrotas-do-pt-em-redutos-tradicionais-pode-desencadear-reforma-ministerial-de-lula/