5 de dezembro de 2025
Produção de tâmaras na Bahia avança com mudas árabes
Compartilhe:

A produção de tâmaras na Bahia avança para uma nova etapa, desde a chegada de 100 mudas enviadas pelos Emirados Árabes em setembro de 2024, o que deve intensificar a produção e venda das frutas provenientes do semiárido nordestino. O mercado brasileiro tem uma demanda anual de cerca de mil toneladas de tâmaras, volume atendido quase 100% pelas importações.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) manteve as plantas em quarentena no Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília, e liberou o lote após análises sanitárias completas. Em seguida, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) recebeu o material e confirmou a qualidade das mudas certificadas.

De acordo com o pesquisador da Embrapa, Norton Polo Benito, o processo foi decisivo para proteger o patrimônio agrícola nacional. “Todo material vegetal importado passa por análises minuciosas para identificar fungos, vírus, bactérias, insetos e ácaros antes de ser liberado. Coletamos amostras, analisamos em laboratório e só então, se estiver tudo certo, a entrada das plantas no país é autorizada pelo Ministério da Agricultura”, explica.

Os estudos climáticos nos biomas do Cerrado e da Caatinga apoiam o cultivo das mudas na Bahia. Assim, as equipes identificaram ambiente adequado ao cultivo, o que permitiu ao governo estadual organizar a futura produção para atender ao mercado interno e, também, países da América do Sul. A Adab coordena a segurança fitossanitária e define áreas com infraestrutura para irrigação e manejo.

Tâmaras produzidas na Bahia podem atrair indústria árabe de beneficiamento

Visitas técnicas reforçaram o desempenho inicial das tâmaras na Bahia. A Adab avaliou propriedades com plantas jovens e já produtivas, mesmo sem manejo completo. Os técnicos registraram colheitas após dois anos e meio de cultivo. “Mesmo sem os tratos culturais devidos, adubação, poda, encontramos propriedades produzindo frutas de excelente qualidade no estado, o que mostra a viabilidade econômica e socioprodutiva”, afirma o diretor-geral da Adab, Paulo Sérgio Luz.

A Adab vai distribuir as mudas para propriedades no semiárido da Bahia. “Produtores com infraestrutura tecnológica já instalada e, num segundo momento, agricultores familiares. Nosso objetivo é transformar essa cultura em uma alternativa econômica sólida e duradoura para o semiárido”, explica Luz.

Enquanto isso, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) analisa o risco fitossanitário das futuras importações. Se aprovado, o processo permitirá a entrada livre das mudas. Consequentemente, o volume abrirá caminho para a produção comercial das tâmaras na Bahia. O acordo firmado entre Bahia e Emirados Árabes inclui transferência técnica e proposta de instalação de uma indústria de beneficiamento. Além disso, o empreendimento poderá atender o mercado latino-americano e, futuramente, nichos consumidores na América do Norte.

Tecnologia e irrigação transformam as tâmaras na Bahia em alternativa econômica para o semiárido. (Foto: Bruno Maffi/Gazeta do Povo)

Produção deve suprir parte das mil toneladas consumidas no Brasil por ano

De acordo com a Embrapa, uma tamareira com uma idade média de cinco anos possui uma produção média de 400-600 kg/árvore/ano e continua a produzir por até 60 anos. “Quando essas mudas começarem a produzir, em dois ou três anos, entraremos na fase de beneficiamento industrial das frutas. A expectativa é de atender parte das mil toneladas de tâmaras que o Brasil consome por ano”, projeta o diretor-geral da Adab.

O ditado “quem planta tâmaras, não colhe tâmaras” perde força à medida que novas tecnologias encurtam o tempo de produção. Maria Auxiliadora Coêlho de Lima, chefe-geral da unidade Semiárido da Embrapa, lembra que, no passado, o ciclo produtivo dependia da idade avançada das árvores. “Com irrigação e manejo adequado, o semiárido permite colheitas rápidas e consistentes, o que favorece a ampliação das tâmaras na Bahia”, explica.

A pesquisadora recorda estudos das décadas de 1980 e 1990 que já indicavam bom desempenho no Nordeste. Contudo, a dificuldade em identificar plantas femininas limitou a expansão comercial. Agora, o novo programa supera essa barreira e adota métodos mais precisos para seleção das variedades. A parceria com os Emirados reforça o planejamento e amplia a segurança técnica do processo.

Brasil consome cerca de mil toneladas de tâmaras por ano, volume hoje abastecido quase totalmente por importações.Brasil consome cerca de mil toneladas de tâmaras por ano, volume hoje abastecido quase totalmente por importações. (Foto: Bruno Maffi/Gazeta do Povo)

Manejo equilibrado deve garantir produção rápida de tâmaras na Bahia

A Embrapa desenvolve protocolos de avaliação e recomendações de manejo. A instituição define o uso equilibrado da água, identifica variedades com maior potencial produtivo e aprimora a identificação rápida das plantas masculinas. Essas ações sustentam o avanço das tâmaras na Bahia e podem gerar oportunidades produtivas em outras regiões.

“O semiárido tem suas necessidades específicas de fomentar atividades competitivas para garantir melhoria de renda para os produtores, e a tâmara é um produto nobre de alto valor agregado”, explica Auxiliadora. Assim, a iniciativa pode fortalecer pequenos agricultores e posicionar a Bahia como novo polo produtor.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/bahia-produz-tamaras-com-dna-de-frutas-dos-emirados-arabes/