A produção de tâmaras na Bahia avança para uma nova etapa, desde a chegada de 100 mudas enviadas pelos Emirados Árabes em setembro de 2024, o que deve intensificar a produção e venda das frutas provenientes do semiárido nordestino. O mercado brasileiro tem uma demanda anual de cerca de mil toneladas de tâmaras, volume atendido quase 100% pelas importações.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) manteve as plantas em quarentena no Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), em Brasília, e liberou o lote após análises sanitárias completas. Em seguida, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) recebeu o material e confirmou a qualidade das mudas certificadas.
De acordo com o pesquisador da Embrapa, Norton Polo Benito, o processo foi decisivo para proteger o patrimônio agrícola nacional. “Todo material vegetal importado passa por análises minuciosas para identificar fungos, vírus, bactérias, insetos e ácaros antes de ser liberado. Coletamos amostras, analisamos em laboratório e só então, se estiver tudo certo, a entrada das plantas no país é autorizada pelo Ministério da Agricultura”, explica.
Os estudos climáticos nos biomas do Cerrado e da Caatinga apoiam o cultivo das mudas na Bahia. Assim, as equipes identificaram ambiente adequado ao cultivo, o que permitiu ao governo estadual organizar a futura produção para atender ao mercado interno e, também, países da América do Sul. A Adab coordena a segurança fitossanitária e define áreas com infraestrutura para irrigação e manejo.
Tâmaras produzidas na Bahia podem atrair indústria árabe de beneficiamento
Visitas técnicas reforçaram o desempenho inicial das tâmaras na Bahia. A Adab avaliou propriedades com plantas jovens e já produtivas, mesmo sem manejo completo. Os técnicos registraram colheitas após dois anos e meio de cultivo. “Mesmo sem os tratos culturais devidos, adubação, poda, encontramos propriedades produzindo frutas de excelente qualidade no estado, o que mostra a viabilidade econômica e socioprodutiva”, afirma o diretor-geral da Adab, Paulo Sérgio Luz.
A Adab vai distribuir as mudas para propriedades no semiárido da Bahia. “Produtores com infraestrutura tecnológica já instalada e, num segundo momento, agricultores familiares. Nosso objetivo é transformar essa cultura em uma alternativa econômica sólida e duradoura para o semiárido”, explica Luz.
Enquanto isso, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) analisa o risco fitossanitário das futuras importações. Se aprovado, o processo permitirá a entrada livre das mudas. Consequentemente, o volume abrirá caminho para a produção comercial das tâmaras na Bahia. O acordo firmado entre Bahia e Emirados Árabes inclui transferência técnica e proposta de instalação de uma indústria de beneficiamento. Além disso, o empreendimento poderá atender o mercado latino-americano e, futuramente, nichos consumidores na América do Norte.
Produção deve suprir parte das mil toneladas consumidas no Brasil por ano
De acordo com a Embrapa, uma tamareira com uma idade média de cinco anos possui uma produção média de 400-600 kg/árvore/ano e continua a produzir por até 60 anos. “Quando essas mudas começarem a produzir, em dois ou três anos, entraremos na fase de beneficiamento industrial das frutas. A expectativa é de atender parte das mil toneladas de tâmaras que o Brasil consome por ano”, projeta o diretor-geral da Adab.
O ditado “quem planta tâmaras, não colhe tâmaras” perde força à medida que novas tecnologias encurtam o tempo de produção. Maria Auxiliadora Coêlho de Lima, chefe-geral da unidade Semiárido da Embrapa, lembra que, no passado, o ciclo produtivo dependia da idade avançada das árvores. “Com irrigação e manejo adequado, o semiárido permite colheitas rápidas e consistentes, o que favorece a ampliação das tâmaras na Bahia”, explica.
A pesquisadora recorda estudos das décadas de 1980 e 1990 que já indicavam bom desempenho no Nordeste. Contudo, a dificuldade em identificar plantas femininas limitou a expansão comercial. Agora, o novo programa supera essa barreira e adota métodos mais precisos para seleção das variedades. A parceria com os Emirados reforça o planejamento e amplia a segurança técnica do processo.
Brasil consome cerca de mil toneladas de tâmaras por ano, volume hoje abastecido quase totalmente por importações. (Foto: Bruno Maffi/Gazeta do Povo)Manejo equilibrado deve garantir produção rápida de tâmaras na Bahia
A Embrapa desenvolve protocolos de avaliação e recomendações de manejo. A instituição define o uso equilibrado da água, identifica variedades com maior potencial produtivo e aprimora a identificação rápida das plantas masculinas. Essas ações sustentam o avanço das tâmaras na Bahia e podem gerar oportunidades produtivas em outras regiões.
“O semiárido tem suas necessidades específicas de fomentar atividades competitivas para garantir melhoria de renda para os produtores, e a tâmara é um produto nobre de alto valor agregado”, explica Auxiliadora. Assim, a iniciativa pode fortalecer pequenos agricultores e posicionar a Bahia como novo polo produtor.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/bahia-produz-tamaras-com-dna-de-frutas-dos-emirados-arabes/
