21 de agosto de 2025
Bolsonaro burlou proibição da Justiça e enviou vídeos mais de
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O relatório da Polícia Federal que resultou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) detalha como o ex-mandatário continuou a difundir conteúdos políticos após ter sido proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de usar redes sociais. De acordo com os investigadores, Bolsonaro recorreu ao WhatsApp para encaminhar centenas de mensagens e vídeos, em estratégia considerada uma tentativa deliberada de driblar as restrições impostas pela Justiça. A reportagem é do portal UOL.

Segundo o documento, que foi entregue ao STF na última sexta-feira (15) e teve o sigilo levantado ontem, o ex-presidente chegou a compartilhar conteúdos com mais de 300 destinatários em diversas ocasiões. Para a PF, a prática seguiu o mesmo modelo das chamadas milícias digitais: “Difusão em alto volume, por multicanais, de forma rápida, contínua, utilizando pessoas com posição de autoridade perante o público-alvo, para dar uma falsa credibilidade às narrativas propagadas.”

Desde 21 de julho, Jair Bolsonaro está impedido de usar redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros. Em 4 de agosto, diante da violação reiterada da medida, o ministro Alexandre de Moraes decretou sua prisão domiciliar. No despacho divulgado nesta quarta-feira, Moraes destacou que houve “clara afronta” do ex-presidente às decisões judiciais. “Durante a investigação, […] a Polícia Federal verificou a intensa atividade de Jair Messias Bolsonaro na produção e propagação de mensagens destinadas às redes sociais, em clara afronta a medida cautelar anteriormente imposta”, escreveu.

O relatório também mostra que Bolsonaro recebia instruções do pastor Silas Malafaia sobre quando e como divulgar determinados vídeos. “Atenção! Dispara esse vídeo às 12h”, orientou o pastor em uma mensagem. Em outra, escreveu: “Se possível, postar esse vídeo amanhã (segunda) às 9h, ou qualquer horário depois das 9h. Você é a voz.”

Malafaia foi alvo da operação da PF nesta semana. Segundo os investigadores, ele exerce “papel de liderança nas ações planejadas pelo grupo investigado”. O religioso teve o passaporte apreendido, está proibido de deixar o país e não pode manter contato com outros investigados. Na chegada ao aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, onde foi alvo de busca e apreensão, Malafaia reagiu: “Que país é esse que vaza conversa minhas particulares como se eu instruísse Eduardo. ‘Olha, faz assim ou faz assado’. Quem instruiu, eu? A posição de Eduardo é dele.” Ele ainda declarou que a “PF vai ter que me prender para me calar”.

O relatório final da PF imputa a Jair e Eduardo Bolsonaro os crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Os investigadores afirmam que Eduardo, que está nos Estados Unidos desde o fim de fevereiro, atua para impor sanções daquele país ao Brasil e enfraquecer instituições democráticas, em especial o STF e o Congresso Nacional. O objetivo, segundo a apuração, seria criar um ambiente de pressão internacional para beneficiar o pai, réu por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.

O julgamento de Bolsonaro e outros sete acusados do chamado núcleo central da trama golpista está marcado para o dia 2 de setembro, às 9h, no Supremo Tribunal Federal. O processo é considerado decisivo para definir a responsabilidade penal do ex-presidente e de aliados na articulação do plano para romper a ordem democrática no país.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/bolsonaro-burlou-proibicao-da-justica-e-enviou-videos-mais-de-300-vezes-a-centenas-de-contatos-diz-pf/