Em entrevista nesta quinta-feira (28), o ex-presidente Jair Bolsonaro admitiu ter discutido com os comandantes das Forças Armadas possibilidades, como o decreto de estado de sítio ou de defesa e o uso do artigo 142 da Constituição, mas negou que isso configurasse a preparação de um golpe de Estado. Ele afirmou que “o que está dentro da Constituição você pode utilizar”, em defesa contra as acusações que levaram ao seu indiciamento pela Polícia Federal (PF) por suposta tentativa de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os relatos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica confirmaram à PF que Bolsonaro discutiu, em uma reunião durante seu governo, estratégias que poderiam impedir a transição democrática. Sobre o artigo 142, que prevê a atuação das Forças Armadas como garantia dos Poderes constitucionais, Bolsonaro alegou que “não foi nenhuma discussão acalorada” e voltou a rejeitar a ideia de golpe, dizendo: “Golpe usando a Constituição?”
Bolsonaro também defendeu a criação de uma “anistia ampla” para investigados relacionados a tentativas de golpe de Estado, incluindo os presos após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas em Brasília. Essa posição foi reforçada por seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que já havia sugerido medida similar anteriormente.
A discussão reacende o debate sobre a conduta de Bolsonaro no período de transição e sobre os limites de interpretações constitucionais, particularmente em relação ao papel das Forças Armadas.
O ex-presidente argumentou que “se quiserem pacificar” o país, o presidente Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos envolvendo tentativa de golpe, poderiam se posicionar a favor de uma anistia e “zera o jogo daqui para frente”.
— Se tivesse uma palavra do Lula ou do Moraes sobre anistia estava tudo resolvido — afirmou.
Bolsonaro também relembrou o episódio em que passou duas noites na embaixada da Hungria em Brasília, no início deste ano, após ter o passaporte apreendido em meio às investigações da PF. O ex-presidente disse que “foi lá para conversar, e ponto final”.
Mais cedo, em outra entrevista, ao portal Uol, Bolsonaro não descartou a possibilidade de buscar um novo refúgio em alguma embaixada, caso tenha prisão decretada.
— Fui lá para conversar, ponto final. (…) Queriam me prender porque entrei na embaixada sem passaporte. Eu não sabia que precisava se passaporte para entrar em embaixada — alegou Bolsonaro à Revista Oeste.
Na entrevista, ele disse ainda que “mandou um zap” cumprimentando o ex-presidente Michel Temer por uma declaração na qual minimizou o plano golpista investigado pela PF. Bolsonaro também disse ter orientado deputados aliados a elogiarem o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após ele defender parlamentares bolsonaristas que foram alvos de indiciamento pela PF.
Ele reforçou que um de seus focos na eleição de 2026 é o de ampliar o número de bolsonaristas no Senado — que é responsável, entre outras atribuições, por analisar pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo Bolsonaro, “os poderes estão desequilibrados” pelo fato de o governo Lula ter maioria no Senado, ao passo que na Câmara “está o Lira lá, meio que resistindo”.
Com informações de O Globo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/bolsonaro-ja-admite-que-conversou-com-militares-sobre-estado-de-sitio-mas-nega-que-fosse-preparacao-para-golpe-de-estado/