2 de abril de 2025
Bolsonaro se reaproxima de governadores da direita em busca de
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Após ser acusado no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem trabalhado para restabelecer relações com governadores de direita, que desejam contar com o seu apoio nas eleições presidenciais do próximo ano. Desde a última semana, Bolsonaro tem demonstrado aproximação com Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná. O trio, que recentemente foi alvo de críticas dentro do bolsonarismo devido às suas ambições para as eleições de 2026, está avaliando a possibilidade de participar de um ato pró-anistia em São Paulo neste fim de semana, ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), outro nome cotado para o Palácio do Planalto, e que lida com a estratégia “morde e assopra” adotada por Bolsonaro.

Fontes próximas a Bolsonaro e aos governadores acreditam que essa movimentação do ex-presidente tenha um objetivo pragmático, visando facilitar o apoio à proposta de anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro ao Congresso Nacional — especialmente o PSD de Ratinho Júnior, que será visitado por Bolsonaro nesta sexta-feira. Esses interlocutores também apontam que há a percepção de que Bolsonaro utilizará suas viagens pelo país para reforçar sua posição de pré-candidato à Presidência, apesar de ser inelegível, o que aumentaria o custo político para eventuais “voos solo” de outros presidenciáveis que busquem o apoio do bolsonarismo.

Baixando o tom

O ex-presidente desembarca na sexta-feira em Curitiba para um almoço com o governador do Paraná, estado que foi o epicentro de embates entre o bolsonarismo e o PSD nas eleições municipais de 2024. Na ocasião, Bolsonaro se esquivou de apoiar a campanha do prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD), mesmo tendo um candidato a vice do PL, e chegou a sinalizar um endosso à sua adversária no segundo turno, a jornalista Cristina Graeml.

— Esta visita do (ex-)presidente mostra que ele está muito próximo tanto do governador Ratinho, quanto do (presidente do PSD, Gilberto) Kassab. Avalio que ele (Bolsonaro) está evitando confrontos e mostrando que pode superar pequenas divergências por um bem maior — afirmou o deputado Reinhold Stephanes Jr. (PSD-PR).

Stephanes Jr., que recepcionará Bolsonaro no aeroporto em Curitiba, foi um dos signatários do requerimento de urgência para a análise do PL da Anistia do 8 de Janeiro na Câmara. O movimento ocorreu após Bolsonaro apelar a Kassab, seu antigo desafeto, para ter o apoio do PSD, que tem uma das maiores bancadas do Congresso e integra a base do governo Lula.

Kassab tem evitado se manifestar sobre a anistia, já que a bancada do seu partido tem uma divisão regional: enquanto parlamentares do Norte, Nordeste e do Rio são mais próximos a Lula, os deputados do Sul, de São Paulo e parte de Minas se alinham a Bolsonaro. Nos bastidores, no entanto, o dirigente do PSD alimenta uma maior aproximação com o ex-presidente, diante da possibilidade de compor a chapa à reeleição de Tarcísio em São Paulo em 2026.

Outra hipótese é que o próprio Kassab concorra à sucessão, caso o governador seja alçado à corrida pelo Planalto. A aliados, o cacique do PSD, que não disputa eleições há mais de uma década, sempre afirmou que desejava resolver pendências jurídicas antes de voltar a concorrer. Em agosto de 2023, ele conseguiu uma decisão favorável da Justiça Eleitoral de São Paulo para arquivar um inquérito da Lava-Jato que apurava suposto recebimento de propina da JBS.

Há duas semanas, porém, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que os autos retornem ao seu gabinete, devido à mudança de entendimento da Corte sobre manutenção do foro privilegiado após o fim do mandato. Advogados consultados pelo GLOBO avaliaram que é improvável uma reabertura do caso de Kassab, mas a movimentação foi suficiente para aliados de Bolsonaro prestarem solidariedade ao dirigente do PSD e insinuarem indícios de perseguição de Moraes, que também é relator da denúncia do golpe. Até então, Kassab vinha sendo tratado com um misto de desconfiança e rivalidade no entorno de Bolsonaro, dada sua influência na gestão de Tarcísio.

Além dos afagos ao presidente do PSD e a Ratinho Jr., Bolsonaro tomou a iniciativa de aparar arestas com Caiado, com quem travou um embate público durante as eleições municipais em Goiás. Conforme noticiou ontem a colunista do GLOBO Bela Megale, o ex-presidente ligou para Caiado nos últimos dias e abriu caminho para retomar uma relação amistosa. Em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, o governador disse que Bolsonaro lhe agradeceu por ter se posicionado a favor da anistia.

Bolsonaro também elogiou publicamente o governador de Minas, Romeu Zema, por quem disse ter “grande carinho”. O gesto ocorreu depois de Zema ter defendido a elegibilidade do ex-presidente, a quem chamou de “maior líder da oposição ao governo do PT”, na última sexta-feira.

Do trio de governadores, Zema é o que tem presença mais garantida na manifestação pró-anistia em São Paulo. Aliados do governador mineiro afirmaram ao GLOBO que ele foi chamado por Bolsonaro após a troca de elogios na última semana e que garantiu presença. Interlocutores de Ratinho Jr., por sua vez, disseram que ele aguarda um convite de Bolsonaro durante a visita desta sexta. Já o entorno de Caiado diz que não há previsão de viagem à capital paulista, mas ele não descarta a possibilidade.

Um empecilho para a presença de Caiado é o fato de que ele lançará sua pré-candidatura à Presidência nesta sexta, em Salvador, numa possível fonte de atrito com o bolsonarismo às vésperas do ato. Aliados do governador de Goiás, porém, enxergam sinais de pacificação.

— A união da direita é o caminho natural. Se estivermos unidos, vamos eleger o próximo presidente. Estamos contando com a sensibilidade do (ex-)presidente Bolsonaro de enxergar essa mesma análise — avaliou o ex-deputado Delegado Waldir (União-GO), atual presidente do Detran na gestão de Caiado.

A eventual presença de todos os governadores presidenciáveis junto a Bolsonaro seria uma novidade em relação ao ato pró-anistia no Rio, que contou somente com Tarcísio dentre os cotados ao Planalto no campo da direita.

Diluir favoritismo

Reservadamente, um interlocutor dos governadores avaliou que os gestos de Bolsonaro visam, além de ampliar o apoio à anistia, diluir o protagonismo de Tarcísio entre seus potenciais “herdeiros” na corrida pelo Planalto. O entorno do ex-presidente avalia que seu objetivo, após ter virado réu no STF, é manter a própria imagem ativa no eleitorado da direita e brecar possíveis avanços de outras lideranças desse campo. Com isso, ele teria mais chances de concentrar capital político para a disputa de 2026, mesmo na hipótese de ser condenado e preso até lá.

No último fim de semana, após uma sequência de eventos ao lado de Tarcísio, Bolsonaro afirmou à “Folha de S. Paulo” que o governador de São Paulo é “um bom político, assim como tem outros”.

Tarcísio é considerado hoje o nome mais bem posicionado para sucedê-lo, por ter bom trânsito tanto na direita mais moderada quanto na base mais fiel a Bolsonaro. Diferentemente de Zema, Caiado e Ratinho Jr., o governador de São Paulo é um interlocutor frequente, por exemplo, do pastor Silas Malafaia, aliado de primeira hora de Bolsonaro e organizador dos atos pró-anistia. Malafaia, por sua vez, afirma que todos os governadores que comparecerem ao ato poderão discursar.

De olho em seguir marcando posição, Bolsonaro engatará as viagens ao Paraná e a São Paulo com uma espécie de “turnê” por outros estados. Na próxima semana, o ex-presidente acompanhará o senador Rogério Marinho (PL-RN) ao Rio Grande do Norte. A expectativa do PL é que Bolsonaro passe uma semana em cada região do país até o fim do semestre, priorizando municípios de grande densidade populacional espalhados por oito estados.

Embora a iniciativa já estivesse planejada antes, os preparativos foram acelerados depois de o STF aceitar a denúncia contra o ex-presidente pela suposta trama golpista. O consenso no PL é que os movimentos por 2026 precisam ser iniciados o quanto antes, dado o desenrolar do processo.

Com informações de O GLOBO.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/bolsonaro-se-reaproxima-de-governadores-de-direita-em-busca-de-apoio-a-anistia/