14 de dezembro de 2025
turismo subterrâneo na capital da pedra roxa
Compartilhe:

Com a luz que entra com os visitantes, a ametista vibra na penumbra das cavernas e projeta um brilho que parece surgir das paredes. O que antes foi caminho de trabalhadores, agora é acesso a restaurantes e vinícolas. Esse é o cenário que o turista encontra quando conhece as antigas minas de Ametista do Sul, município gaúcho que fica a 440 quilômetros de Porto Alegre. A pedra ametista sustenta a formação da cidade de apenas 7,5 mil habitantes e ancora uma paisagem que mistura memória geológica e rotina contemporânea.

Agricultores encontraram os primeiros núcleos da pedra no início do século passado, abrindo caminho para os cristais reconhecidos internacionalmente. A descoberta atraiu mineradores que, pouco a pouco, ampliaram a vila rural e criaram um polo global de mineração. A ametista impulsionou o reconhecimento do município em 1963 e definiu o eixo econômico que permanece ativo.

Descoberta revela coração roxo escondido havia milhões de anos. (Foto: Oziel da Silveira/Prefeitura de Ametista do Sul)

Maior pedra de ametista do Brasil foi encontrada em 2002

Diversos achados chamam atenção e estão disponíveis para os turistas conhecerem no Ametista Parque Museu, uma exposição permanente em uma galeria subterrânea entre túneis de mineração. São geodos de ametistas, cavidade rochosa revestida internamente por cristais, e drusas, um conjunto de cristais que crescem em uma superfície plana. Em 2002, a cidade ganhou maior destaque nacional. O minerador Valter Batista encontrou um geodo com 2,5 toneladas. Segundo a prefeitura de Ametista do Sul, é uma das maiores peças naturais do país.

Mais de três mil minas já funcionaram em Ametista do Sul, segundo registros da prefeitura do município. Muitas cavernas esgotadas ganharam novos usos e, assim, viraram restaurantes, galerias e rotas turísticas que preservam a atmosfera das antigas minas.

Quatro restaurantes operam entre grandes superfícies minerais e, portanto, transformam refeições em experiências visuais. No cardápio destacam-se os risotos, os carpaccios, ceviches, geleias e o churrasco, especialidade gaúcha. Entre os pratos típicos, o que mais agrada, de acordo com os proprietários, é a moranga cabotiá caramelizada, o sagu com creme branco e o Chico Balanceado, um merengue de banana, todos eles doces típicos do Rio Grande do Sul.

O restaurante de Ametista do Sul transforma antiga mina em sala de jantar: mesas entre cristais, luz baixa e um ambiente que faz a gastronomia brilhar dentro da terra.O restaurante de Ametista do Sul transforma antiga mina em sala de jantar. (Foto: Oziel da Silveira/Prefeitura de Ametista do Sul)

De acordo com a secretaria de Turismo de Ametista do Sul, o município recebe 250 mil turistas por ano, com ápice da demanda entre dezembro e janeiro. A cidade conta com cinco hotéis e diversas pousadas, com acomodações para até mil pessoas em um único dia.

“Ametista do Sul oferece clima agradável, boa estrutura de restaurantes, eventos sazonais e espaços perfeitos para quem busca descanso, energia positiva e experiências diferentes. É um lugar que surpreende pela autenticidade, pela natureza e pela hospitalidade”, destaca Iuri Isoton, secretário de Turismo de Ametista do Sul.

Vinícola e cervejaria com produção a 300 metros de profundidade

As ametistas também definem o ambiente da vinícola local, que amadurece vinhos em galerias subterrâneas. A vinícola está a cerca de 300 metros de profundidade, onde a temperatura se mantém de 16°C a 18ºC, com 50 a 70% de umidade, considerados índices excelentes para maturação. A produção é de cerca de 280 mil litros de vinho a cada safra. O espaço para a degustação é uma galeria subterrânea, com suas paredes repletas de cristais de ametistas incrustados no basalto da antiga mina.

Além da produção de vinho, a cidade é conhecida pela produção de cerveja. Em março deste ano, a cervejaria Mina Beer foi eleita a 9ª melhor do país, no Concurso Brasileiro de Cervejas. O turista também pode aproveitar a bebida em um spa, com banho de cerveja. O ritual utiliza misturas de lúpulo, malte e levedura aquecidas, e os participantes podem degustar as cervejas artesanais da cervejaria durante o banho.

Entre túneis escavados em antigas minas, a vinícola transforma o subsolo roxo da região em adega natural — onde o vinho descansa ao lado de paredes forradas de ametista.Vinícola transforma o subsolo roxo da região em adega natural. (Foto: Carolina Lucietto/Vinícola Ametista)

O visitante ainda tem a opção de adquirir joias e pedras de ametista, nos túneis e em outros pontos da cidade. Há opções de peças rústicas e econômicas como drusas, geodos e cristais naturais, até joias mais refinadas, com lapidação e acabamento de alta qualidade. “É possível encontrar desde lembranças simples a peças sofisticadas, todas valorizando a ametista como símbolo da cidade e da região”, explica o secretário de Turismo.

Espiritualidade e boas energias das pedras de ametista

A Igreja Matriz São Gabriel reforça a estética da cidade em uma construção que conta com 40 toneladas de ametistas, sendo suas paredes e altar também ornamentados com as pedras roxas. A paróquia usa como pia batismal um único geodo de ametista, pesando 500 quilos.

Alguns quarteirões à frente da igreja, fica a pirâmide esotérica, que ocupa uma antiga mina e oferece práticas meditativas em total silêncio, entre o brilho dos cristais roxos. O prédio de 50 metros quadrados possui as paredes internas cobertas pelo mineral. No centro da construção há uma espécie de caixa contendo minerais recolhidos no próprio município. O local é usado por quem deseja repousar os pés, descalços ou não.

Com paredes inteiras de ametista, a igreja de Ametista do Sul une espiritualidade e mineração, criando um dos cenários mais singulares do turismo religioso no Brasil.Igreja de Ametista do Sul une espiritualidade e mineração, criando um dos cenários mais singulares do turismo religioso no Brasil. (Foto: Oziel da Silveira/Prefeitura de Ametista do Sul)

Cada extremidade da pirâmide tem um significado: a terra representa profundidade, o fogo significa a verdade, a água é o silêncio, e o ar, a inteligência. O visitante é convidado a tocar os quatro cantos. Ao final, pode-se selecionar e levar um dos minerais que estão dentro de uma caixa, como lembrança do local.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/cidade-brasileira-com-maiores-jazidas-ametista-mundo-conhecida-turismo-subterraneo/