Criticado pelo prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), e até pelo aliado Alexandre Ramagem (PL) durante a última eleição, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), reconhece em entrevista ao jornal GLOBO que a avaliação do governo é ruim na principal cidade do estado por causa da segurança pública. Ele alega, no entanto, que não tem “nenhuma” parcela de culpa pelo aumento da criminalidade. Crítico da chamada ADPF das Favelas, Castro defende a letalidade policial em estados como São Paulo e Goiás, onde os governadores não teriam os mesmos impeditivos que o Rio para atuar.
No campo da política, o governador endossa o discurso do PL de que Jair Bolsonaro, inelegível, é o candidato presidencial para 2026 — e refuta os indícios de que o ex-presidente teria tentado dar um golpe. Questiona ainda se o “patrão” de Paes é “o povo ou o Lula” e ventila nomes para representar o atual grupo do Palácio Guanabara na próxima eleição estadual, que deve ter o prefeito como principal candidato.
Castro celebra a aprovação do Propag, programa de renegociação das dívidas dos estados, que ajudará o Rio a ter mais fôlego financeiro nos dois anos finais deste mandato. Ele não crava a candidatura ao Senado em 2026, mas aponta que uma “conta aritmética” entre sua popularidade no interior, a votação que teve em 2022 e o montante de votos necessário para um senador se eleger no estado o colocaria em condição confortável para a disputa.
Na eleição deste ano, o senhor recebeu críticas de seu aliado Alexandre Ramagem (PL) e de Eduardo Paes (PSD) pela atuação do estado na segurança. É a área mais frágil da gestão?
Minha avaliação é ruim na capital muito por conta da segurança pública. Mas, no interior, ela é muito boa. Agora, me causa estranheza Paes criticar o estado, mas não o governo federal, que faz um trabalho muito ruim no controle de fronteiras, que poderia evitar a entrada de armas e drogas no país. Quem é o patrão dele, o povo ou o Lula? Além disso, por que os candidatos do grupo político dele (Paes) são recordistas de votos em áreas de milícia? São perguntas, já que ele está tão interessado na segurança. Tirei a polícia do segundo pior salário do Brasil para o terceiro maior. Estou colocando quase 10 mil policiais a mais na rua, vou aumentar o Segurança Presente de 20 bases para mais de 50. Implantei 13 mil câmeras corporais.
Mas a sensação é de que a segurança piorou, e vimos o crescimento do roubo de cargas e de veículos, além de assaltos. Qual é sua parcela de responsabilidade?
Sinceramente, nenhuma. Vamos olhar para a febre ou para a doença? Quando entrei, ainda conseguíamos fazer operação, mas o STF, ao julgar a ADPF 635, trocou a ideia de ostensividade pela “extraordinariedade” nas operações. Depois do pacote anticrime (de 2019), veio também a questão da audiência de custódia soltando todo mundo. Houve ainda decisões recentes do CNJ e do STJ, e o cara que é pego com fuzil passou a ser solto em quatro, cinco meses.
Mas outros governadores enfrentam o mesmo quadro, à exceção da ADPF das Favelas, e têm indicadores melhores. Não falta uma autocrítica? É só culpa dos outros?
Não é só culpa dos outros. Mas o que o (governador de Goiás, Ronaldo) Caiado faz lá, a Justiça nunca me deixaria fazer. Caiado acabou com visita íntima, com tudo. Fui acabar com a cantina (em unidades prisionais), a Justiça deu liminar contrária. O (governador de São Paulo) Tarcísio de Freitas passou dois meses apanhando da imprensa por causa de segurança pública. Aumentou a letalidade policial, porque ele não tem uma ADPF como aqui. Minha avaliação da conduta dele é positiva.
Para o senhor, então, a redução de alguns índices de criminalidade em SP ocorreu porque a polícia matou mais?
Claro. Tem o efeito colateral, mas é uma forma de reduzir. A ADPF reduziu a letalidade policial no Rio, mas os dados (de criminalidade) estão aumentando. Não é que a polícia precise matar mais, ela precisa poder fazer o trabalho dela. A consequência acaba sendo aumentar a letalidade, embora não seja o objetivo.
A PEC da Segurança do governo Lula não é uma forma de atacar a “doença”? Por que o senhor e outros governadores estão criticando a iniciativa?
Eu tenho 43 mil policiais no Rio. A Polícia Federal, que tem 12 mil homens no Brasil inteiro, vai resolver o problema da segurança aqui? É muito mais resolutivo, na minha opinião, estadualizar a lei penal, como é nos Estados Unidos. O Código Penal de 1940 está convidativo ao criminoso, que está perdendo o medo do Estado porque não é mais preso e não é mais morto.
Na semana passada, a PF prendeu o general Braga Netto na investigação sobre tentativa de golpe. Reconhece que houve risco de ruptura?
Não acho. Acho que aquilo (8 de janeiro) começou com a ideia de protesto e virou uma grande baderna. Sou favorável à punição rigorosa de quem depredou. Sobre o inquérito, não estou tão por dentro.
O próprio Bolsonaro já admitiu que cogitou estado de sítio. É normal?
Não, não é normal. Se fosse, tinha acontecido. Quem está no poder sempre tem um monte de gente falando no ouvido. O cara saiu da eleição achando que a urna era fraudada, uma posição da qual nunca comunguei, e o que não falta é puxa-saco para dizer que “o país não pode ter isso”, “a gente vai te apresentar tal coisa”. O cara para, lê e decide: “Não vou fazer”. Ele perguntar (aos chefes das Forças) se era viável mandar aquilo para o Congresso não é crime. Várias vezes eu chego aqui e digo “queria fazer isso”, aí me dizem “você está infringindo a lei tal, não pode fazer”, e eu não faço.
O PL vai insistir no discurso de que Bolsonaro estará na urna em 2026?
A condenação dele é por reunião com embaixadores. Se conseguir rescindir isso, está elegível. Para mim, é disparado o melhor nome. Não tem outro nome para o PL.
Se Bolsonaro decidir indicar Tarcísio, é inevitável ele aceitar concorrer?
Ele terá dificuldade de dizer “não”. Tarcísio é o nome que fica mais bem posicionado se Bolsonaro, nosso líder, não puder ser candidato e indicá-lo.
Ao se recusar a sair de cena, Bolsonaro impõe ao PL essa situação de negar qualquer alternativa?
O PL era um partido de 30 deputados, hoje tem cem. Isso é por causa da liderança do cara. Não se pode querer ser liderado só quando aquilo te dá um benefício. Quando você é casado, há ônus e bônus. A vida do PL com Bolsonaro é um casamento. Ele fez o PL ser o maior partido do Brasil e exerce uma liderança.
No Rio, um dos cotados para sucedê-lo é o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, com quem o senhor teve atritos. Isso vai pesar na escolha?
Bacellar, (o vice-governador Thiago) Pampolha e o Washington (Reis, secretário estadual de Transportes) são hoje os principais nomes. É óbvio que o Bacellar tem um instrumento na mão, a Alerj, que lhe dá um poder maior. Os atritos que tivemos foram normais do primeiro biênio, que geralmente é um período de maior estresse. A cadeira de presidente do parlamento é difícil, então ele é obrigado a exercer uma força que às vezes descamba para outro lado.
Em entrevista ao GLOBO, Paes disse que o senhor era alvo de “extorsões” da Alerj e insinuou que o estado está corrompido e o senhor ficou em silêncio…
Me extorquir em quê? Eu tenho a maioria absoluta na Alerj. E quais foram os escândalos do meu governo? Ceperj não tem um real (de corrupção), é contratação de pessoas. Investigação na Saúde não é (relacionada a) dinheiro, era pregão eletrônico emergencial. Tentaram levantar um caso de cesta básica em que o Tribunal de Justiça considerou a prova imprestável e o TCE arquivou. Agora, se jogarmos no Google o nome de cada um, vamos ver quem teve secretário falando que recebeu dinheiro. Quem fala as coisas tem que provar. Acho que o Eduardo sai grande de uma eleição e dá uma entrevista batendo em tudo e todos. Nem o pessoal dele mesmo gostou.
Depois o Pedro Paulo, maior aliado dele, também classificou o senhor como “Castro, o fraco”. Como encara todos esses ataques?
O Pedro é uma pessoa inconfiável. Pelo que eu fiz por ele, que não vou dizer aqui, mas ele sabe, deveria ter vergonha na cara, não deveria ter cara de olhar para os filhos e para a mulher dele.
Pelo visto, ficou uma mágoa. Isso motiva o senhor a querer enfrentar o Paes com algum aliado seu em 2026?
Nunca fomos aliados, e não sei nem se o Eduardo é candidato. Temos (os partidos da base) 85, 87 prefeitos. Nosso campo teria hoje 60% do tempo de TV. Se nos organizarmos, é difícil até ele sair candidato.
O senhor se dedicou a articular a aprovação do programa de refinanciamento da dívida dos estados (Propag). Isso dá fôlego para o governo, de olho em 2026?
Talvez a grande vitória do Propag seja que, pela primeira vez, o crescimento dos juros da dívida fique menor do que o aumento da arrecadação dos estados. Conseguimos incluir a previsão de abater dívidas contraídas para obras de infraestrutura. Com isso, dos R$ 32 bilhões que eu precisaria dar para abater os juros da dívida, já consigo descontar R$ 23 bilhões. A previsão é de que a parcela da dívida que eu tenho que pagar já caia de R$ 13 bilhões para cerca de R$ 3 bilhões no ano que vem.
Para a campanha de 2022, o senhor teve as receitas da concessão da Cedae. Agora, essa nova folga orçamentária pode alavancá-lo para concorrer ao Senado? Ou ainda ficaria preocupado em perder?
Quero reequilibrar as contas públicas, não estou focado em eleição. Mas, se pegar minha popularidade no interior, a votação que eu tive em 2022, e fizer uma conta aritmética junto com o histórico de todas as eleições de duas vagas para o Senado, você vai se impressionar. Vai ver que não estou preocupado.
Com informações de O GLOBO.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/claudio-castro-atribui-a-seguranca-ma-avaliacao-do-governo-na-capital/