
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), lançará sua pré-candidatura à Presidência da República na próxima sexta-feira (4), em Salvador. O evento marca o início de sua tentativa de se viabilizar como uma alternativa no campo da direita para 2026, mas ocorre em meio a um cenário de divisão dentro do próprio partido e desconfiança por parte do eleitorado bolsonarista.
Aos 75 anos, Caiado busca capitalizar sua experiência política e o vácuo deixado pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, seu desafio imediato será consolidar apoio dentro do União Brasil, que abriga alas com interesses divergentes: uma parte alinhada ao governo Lula (PT), e outra fiel a Bolsonaro.
Os ministros Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações), além do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, lideram a ala governista do partido. Já os governadores Mauro Mendes (Mato Grosso), Wilson Lima (Amazonas) e Marcos Rocha (Rondônia) representam os interesses bolsonaristas. A divisão interna tem gerado tensões, e a ausência de líderes dessas duas frentes no evento de lançamento é considerada provável.
Pré-candidatura será lançada em Salvador
A escolha de Salvador para o evento gerou debates internos. Inicialmente, havia pressão para que fosse realizado na Assembleia Legislativa da Bahia, conferindo-lhe um tom mais institucional. No entanto, a opção pelo Centro de Convenções prevaleceu. Além disso, a cerimônia contará com a entrega a Caiado do título de Cidadão Baiano e da Comenda 2 de Julho, ambos concedidos por proposição do hoje prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil).
As disputas internas do partido não são o único entrave para a pré-candidatura. O bolsonarismo encara Caiado com desconfiança, reflexo de embates passados. Durante a pandemia, o governador rompeu com Bolsonaro ao defender medidas restritivas contra a Covid-19, enquanto o então presidente minimizava a gravidade da crise sanitária.
O atrito se intensificou nas eleições municipais de 2024, quando Bolsonaro o chamou de “covarde” durante a campanha para a prefeitura de Goiânia. Após a vitória do candidato apoiado por Caiado, o governador afirmou que o país “cansou do jeito como Bolsonaro faz política.”
Tarcísio é apontado como alguém que poderia levar Caiado a desistir
A resistência bolsonarista e a fragmentação do campo da direita tornam o caminho de Caiado ainda mais incerto. Outros governadores, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG), também são cogitados como possíveis candidatos. Nos bastidores, integrantes do União Brasil consideram que apenas Tarcísio teria força para fazer Caiado desistir da candidatura em prol de uma unidade da direita.
Além disso, o União Brasil negocia uma federação partidária com o PP. Caiado já declarou ser contra a fusão, chamando-a de “um tiro no pé” por aprofundar conflitos internos, mas as cúpulas partidárias seguem avançando nas tratativas. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, minimizou possíveis divergências: “Não tem desconforto, tenho grande admiração pelo governador Caiado.”
Apesar dos obstáculos, o governador segue confiante e reafirmou em suas redes sociais que o evento de lançamento será mantido. “Sei que minha postura de oposição ao governo do PT incomoda aqueles que estão no poder, mas isso não abala minhas convicções. Estou determinado a apresentar uma plataforma de mudança para o Brasil”, declarou.
Com pouco mais de um ano para se tornar competitivo nas pesquisas, Caiado enfrenta a missão de consolidar sua imagem como alternativa viável para a direita e superar a resistência de uma parcela do eleitorado conservador. Sua tentativa de atrair o público mais popular incluiu o convite ao cantor sertanejo Gusttavo Lima para compor a chapa como vice, mas a estratégia fracassou quando o artista anunciou que não disputará nenhum cargo em 2026.
Com informações da Folha de S.Paulo
Fonte: https://agendadopoder.com.br/com-uniao-brasil-rachado-caiado-se-lanca-ao-planalto-sob-criticas-e-incertezas/