A megaoperação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro, no fim de outubro, recolocou a segurança pública no centro das discussões e com o potencial de se tornar o tema principal nas eleições de 2026 nos âmbitos nacional e estadual. Sabendo disso, a direita se articula para liderar o debate nessa área e usá-lo como parte da estratégia política para vencer a esquerda nas urnas no próximo ano.
Criticada pela esquerda, a operação deflagrada pelo governo de Cláudio Castro (PL) foi aprovada pela maioria da população, como demonstrado por institutos de pesquisa após a ação policial. Esses mesmos levantamentos mostraram também que a direita é vista com mais capacidade de resolver os problemas da criminalidade no Brasil.
Um levantamento da AtlasIntel, por exemplo, apontou que 44,3% dos brasileiros acham que a direita tem as melhores propostas contra o crime, enquanto a esquerda ficou com 33,9% e o centro com 3,4%.
Essa mesma pesquisa mostrou que 64,8% da população acha que o tema segurança é importante para a decisão do voto em 2026, mesmo não sendo o único tema considerado. Outros 30,8% disseram que as políticas contra a criminalidade estão entre os principais fatores que determinam o voto.
“Temos que enfrentar essa escalada do crime organizado ou vamos perder o controle sobre o nosso país. Certamente, o cidadão tem essa demanda e vai levar em consideração no próximo ano”, projeta o senador Sergio Moro (União-PR).
A declaração do ex-juiz da Lava Jato foi dada em Curitiba, na última semana, durante o S.O.S. Segurança Pública, evento organizado pela Fundação Índigo, braço de inovação e governança do União Brasil. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União-GO), reforça o discurso do partido. “É o tema mais relevante que temos para 2026”, disse o pré-candidato presidencial, que participou do evento remotamente.
Ambos têm a segurança pública como bandeiras. Moro, que foi juiz federal e ministro da Justiça na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deve disputar o governo do Paraná em 2026. Por sua vez, Caiado se colocou como opção para enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial — o campo da direita, porém, tem dois nomes mais fortes atualmente: Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ratinho Junior (PSD), governadores de São Paulo e Paraná, respectivamente.
Metodologia da pesquisa citada: 1.089 entrevistados pela AtlasIntel entre 29 e 30 de outubro de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais.
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“Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”. A fala do presidente Lula, dias antes da operação do Rio, vem sendo usada repetidamente por representantes da direita para diferenciar a forma como cada campo político encara a criminalidade no país. “Eles [esquerda] acham que o bandido é um coitadinho, vítima da sociedade”, critica o deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP).
Pré-candidato ao Senado, ele é um exemplo de como a direita pretende ganhar o debate sobre combate à criminalidade nas eleições. Ex-secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo, ele se licenciou do cargo para retornar à Câmara dos Deputados para relatar o projeto de lei antifacção a pedido do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Após seis versões feitas na forma de substitutivo do texto enviado pelo governo Lula, o projeto de lei foi aprovado por 370 votos favoráveis, 110 contrários e três abstenções. O texto endurece as penas para organizações criminosas, como o Comando Vermelho (CV), que foi alvo da operação no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC) — as penas podem chegar a 65 anos para os líderes das facções.
O texto original do PL 5.582/2025, que saiu do governo federal, foi classificado por Derrite como “um projeto porcaria”. “A intenção do governo federal é boa, mas o texto que mandaram foi muito ruim. Eles têm dificuldade com o tema. O atual governo tem uma visão romântica do crime e da segurança pública”, completa o deputado que voltou definitivamente ao Congresso Nacional, nesta segunda-feira (1º), após deixar a gestão Tarcísio de Freitas.
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Direita usa a Bahia como exemplo de fracasso do PT na segurança
O Atlas da Violência 2025, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que a Bahia tem a segunda maior taxa de homicídios registrados por 100 mil habitantes: 43,9 em 2023, atrás somente do Amapá, com 57,4. Dez anos antes, em 2013, o estado baiano era o oitavo nessa lista, com um aumento de 11,7% no período.
Esse recorte de tempo coincide com governos do PT na Bahia, que está no quinto mandato consecutivo: Jacques Wagner (2007 a 2014), Rui Costa (2015 a 2022) e Jerônimo Rodrigues (desde 2023). Uma constatação que cai como uma luva para ACM Neto (União-BA), que tentará evitar a reeleição do governador petista em 2026.
“Se alguém quer saber o que PT faz sobre segurança pública, é só olhar para a Bahia”, afirma. “Estamos acostumados a ouvir o presidente dizer que o PT cuida dos mais pobres. Mas como é possível dizer que cuida dos mais pobres e ter esses números?”, questiona o pré-candidato que perdeu a disputa em 2022.
Na outra ponta, estados que são governados pela direita apresentam as menores taxas de homicídios. Das dez unidades da federação melhor posicionadas, apenas o Piauí tem um governador de esquerda:
- 1º – São Paulo: 6,4
- 2º – Santa Catarina: 8,8
- 3º – Distrito Federal: 11,0
- 4º – Minas Gerais: 12,9
- 5º – Rio Grande do Sul: 17,2
- 6º – Paraná: 18,9
- 7º – Mato Grosso do Sul: 20,7
- 8º – Goiás: 21,4
- 9º – Piauí: 22,0
- 10º – Acre: 23,7
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/como-a-direita-se-organiza-para-pautar-a-seguranca-publica-na-eleicao-de-2026/
