4 de dezembro de 2025
Como prisão de sucessor de Castro mexe com eleição no
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A prisão do deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), nesta quarta-feira (3), tem potencial para bagunçar as eleições de 2026, especialmente no campo da direita, que trabalhava com o nome dele como um dos cotados à corrida ao governo fluminense.

Com a nomeação do vice-governador Thiago Pampolha (MDB) ao cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), o presidente da Alerj se tornou o sucessor direto de Cláudio Castro (PL) e poderia até assumir a cadeira de governador em abril. Se for candidato ao Senado, Castro terá que deixar o Palácio da Guanabara, sede do governo do Rio, para atender a regra de desincompatibilização de cargos, seis meses antes do pleito eleitoral.

Mas o plano político de Bacellar sofreu um duro golpe com a investigação da Polícia Federal (PF), que levantou a suspeita sobre a relaçao do deputado com o Comando Vermelho. O presidente da Assembleia do Rio foi preso preventivamente após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a pedido da PF, que deflagrou a operação Unha e Carne.

De acordo com a investigação, o presidente da Casa teria vazado informações sigilosas de uma operação anterior, que prendeu o deputado estadual TH Joias (sem partido), e prejudicado as investigações que tinham o Comando Vermelho e agentes públicos como alvos.

PF aponta obstrução das investigações para manter vínculo com CV em ano eleitoral

Na decisão, Alexandre de Moraes classificou como “gravíssimos” os fatos apresentados pela PF para embasar o pedido de prisão. “[Bacellar] estaria atuando ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo estadual, capazes de potencializar o risco de continuidade delitiva e de interferência indevida nas investigações da organização criminosa”, justificou o ministro do STF.

Na representação encaminhada ao Supremo, a PF afirma que a “ação obstrutiva” teria o objetivo de manter o vínculo dos agentes políticos com o Comando Vermelho, responsável pelo maior domínio territorial entre as facções no estado, “o que se traduz em milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha.”

Segundo pessoas ouvidas pela reportagem da Gazeta do Povo, não há mais a possibilidade de uma candidatura de Bacellar ao governo do estado, mesmo que ele não permaneça preso e mantenha os direitos políticos até as eleições do ano que vem. A suposta ligação dele com o crime organizado impediria qualquer tentativa nesse sentido, especialmente em um momento no qual a segurança pública é pauta primordial.

Relação entre Rodrigo Bacellar e Cláudio Castro já estava estremecida

O governador Cláudio Castro já estava relativamente afastado de Bacellar, apesar de entender que o deputado seria o nome natural para sucedê-lo no Palácio Guanabara, principalmente se a pré-candidatura ao Senado for confirmada. Neste cenário, o presidente da Alerj ganharia visibilidade política durante a campanha ao comandar o estado do Rio.

O rompimento político teve o estopim em julho deste ano. Durante viagem de Castro ao exterior, Bacellar assumiu o governo do estado e exonerou o secretário estadual de Transportes, Washington Reis (MDB), que também é pré-candidato ao governo.

A demissão ocorreu sem Castro ser consultado previamente. No retorno, o governador tentou reverter a exoneração, mas ouviu de Bacellar que um processo de impeachment contra ele poderia começar a tramitar na Alerj. Castro, então, não insistiu no retorno do secretário.

Reis também é próximo da família Bolsonaro, sendo um dos cotados para disputar o governo do Rio de Janeiro em 2026. O ex-secretário, porém, ficou inelegível após ser condenado a sete anos de prisão por crime ambiental e loteamento irregular na época em que era prefeito de Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio.

Neste ano, o Supremo deu despacho favorável à possibilidade de conversão da pena em uma reparação de dano ambiental. Se a decisão for confirmada pelo ministro Gilmar Mendes, Reis poderá disputar as eleições em 2026.

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Eduardo Paes é favorito para o governo do Rio de Janeiro em 2026

Sem Rodrigo Bacellar, a tendência é de que a família Bolsonaro volte a ter força na indicação de um candidato para suceder Castro em 2026, incluindo nomes do PL, como o deputado estadual Guilherme Delaroli (PL), vice-presidente da Alerj e que assume interinamente a presidência da Casa no lugar de Bacellar.

A Gazeta do Povo também confirmou que o PL cogita a pré-candidatura do secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, reforçando o tema da segurança pública como o norteador do debate eleitoral no estado.

No final de outubro, Curi chefiou a operação Contenção, considerada a mais letal da história do estado, que terminou com 121 mortes nos complexos do Alemão e da Penha e 113 presos ligados ao Comando Vermelho. O secretário da Polícia Civil fluminense não comenta publicamente a possibilidade de se filiar ao PL e atender um convite do partido para concorrer ao pleito.

Hoje, no entanto, não há qualquer unanimidade no campo da direita para enfrentar o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que se coloca mais ao centro e confirmou que é pré-candidato ao governo do estado com o apoio do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Paes é o favorito para assumir o Palácio Guanabara, de acordo com pesquisas eleitorais. A mais recente, feita pelo Instituto Real Time Big Data, nesta semana, mostra que o prefeito está bem à frente dos potenciais adversários. Dependendo do cenário, ele chega a abrir mais de 40 pontos percentuais para os demais.

Primeiro cenário estimulado

  • Eduardo Paes (PSD): 55%
  • Rodrigo Bacellar (União Brasil): 14%
  • Bombeiro Rafa Luz (Missão): 4%
  • Ítalo Marsili (Novo): 4%
  • William Siri (PSOL): 2%
  • Nulo/Branco: 10%
  • Não sabe/Não respondeu: 11%

Com Washington Reis, Paes mantém vantagem

  • Eduardo Paes (PSD): 53%
  • Rodrigo Bacellar (União Brasil): 13%
  • Washington Reis (MDB): 12%
  • Ítalo Marsili (Novo): 3%
  • Bombeiro Rafa Luz (Missão): 3%
  • William Siri (PSOL): 2%
  • Nulo/Branco: 8%
  • Não sabe/Não respondeu: 6%

Metodologia da pesquisa citada: 1.500 entrevistados pelo Instituto Real Time Big Data no estado do Rio de Janeiro entre os dias 1 e 2 de dezembro de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/crime-organizado-e-vazamento-de-operacao-como-prisao-de-sucessor-de-castro-mexe-com-eleicao-no-rio/