
Com uma trajetória que se confunde com a própria história política do Brasil na segunda metade do século XX, o ex-senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, de 88 anos, lançou na noite desta segunda-feira (1º), na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, na Zona Sul do Rio, o livro “Memórias e Testemunhos – Revelações Políticas”. A obra, prefaciada por José Sarney, promete um mergulho nos bastidores do poder, de Juscelino Kubitschek ao impeachment de Dilma Rousseff.
Em entrevista ao Agenda do Poder durante o evento, Lobão destacou que a motivação para escrever o livro veio de sua longa jornada e da posição privilegiada que ocupou, tanto como jornalista no início da carreira quanto como político influente — sendo ele próprio cacique do MDB. “Fiquei na política por mais de 50 anos. Fui deputado, senador, ministro e governador. Mas fui jornalista antes de tudo isso e tive relações extraordinárias com muitos presidentes”, afirmou.
Um dos focos de suas memórias é o período da redemocratização, iniciado pelo presidente Ernesto Geisel. Lobão se posiciona como um confidente do general, a quem, segundo ele, ouvia diariamente sobre os desafios para restaurar a democracia no país. Para o ex-ministro, a restauração democrática foi um processo difícil.
“Ele queria promover a reabertura democrática e encontrava dificuldades no seu próprio meio, o militar. Teve que tomar atitudes severas, demitir generais, demitir ministros. Ele me contava todas as dificuldades, todas as negociações. Isso é o que eu estou falando agora no livro”, revelou Lobão sobre uma das passagens contadas em sua obra.
‘Orientador que tive na vida pública’, disse Lobão sobre Sarney
Entre as passagens inéditas, o autor narra um diálogo com Geisel já no fim de seu governo, questionando a escolha do general João Figueiredo como sucessor. A resposta, segundo Lobão, foi de arrependimento. “Eu queria indicar um civil, e conseguiria, mas os civis achavam que não era o momento. Então, identifiquei no Figueiredo o melhor de todos, mas hoje eu estou conhecendo que esse Figueiredo que está aí não é o que eu escolhi”, relatou que ouviu do então mandatário.
Além dos bastidores do regime militar, o livro também promete trazer novos fatos sobre outros períodos. “Eu conto muitos fatos políticos que ainda não eram conhecidos, como fatos sobre Juscelino, ditados a mim por ele mesmo, dias antes de morrer. O leitor há de encontrar coisas assim”, adiantou o ex-senador.
Questionado sobre a importância de José Sarney em sua carreira, Lobão foi enfático. “Muito grande. Conheci a política com ele, há mais de 50 anos. Ele foi o orientador que tive na vida pública e é hoje o político mais importante do país nessa geração”, disse, creditando ao colega a convocação da Assembleia Constituinte de 1987, que, em sua visão, “reabriu uma fronteira para a democracia”.
O evento reuniu figuras do cenário político e empresarial do Rio. Presente no lançamento, o conselheiro do Tribunal de Contas do Município (TCM-Rio), Nestor Rocha, elogiou a trajetória do autor. “Edison Lobão é um figuraço da República. Para mim é um grande prazer estar aqui com ele. Estou ansioso para ler o livro. As obras do Edison são muito interessantes e estou curioso para saber o que ele está falando sobre sua visão política”, comentou.
Lançamento em Brasília
A noite carioca de autógrafos sucedeu a apresentação do livro há duas semanas, em Brasília, no Salão Negro do Congresso Nacional. Por lá, o evento reuniu figuras de correntes ideológicas distintas, uma das marcas de trânsito do ex-senador, que tem passe mais livre entre as diferentes tribos. Em terras brasilienses, Lobão colheu elogios do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e do presidente da Câmara, Hugo Motta, que destacaram o valor das revelações, além da capacidade de diálogo do veterano.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/de-jk-a-dilma-edison-lobao-conta-os-bastidores-de-mais-de-meio-seculo-da-politica-brasileira-em-novo-livro/