
O primeiro dia do julgamento de Jair Bolsonaro e de outros sete réus por suposta tentativa de golpe de Estado repercutiu amplamente na imprensa internacional. Veículos dos Estados Unidos, Europa e América Latina acompanharam a abertura da sessão no Supremo Tribunal Federal (STF), destacando tanto a gravidade do processo quanto os seus possíveis reflexos históricos e diplomáticos.
Ecos nos Estados Unidos
O Washington Post chamou atenção para a fala inicial do relator, ministro Alexandre de Moraes, em que reforçou a soberania brasileira e repudiou tentativas de ingerência externa. O jornal publicou em seu título: “Juiz brasileiro abre julgamento de Bolsonaro com provocação a Trump”. Embora Moraes não tenha citado nomes, o diário destacou que suas declarações soaram como recado indireto ao presidente dos EUA.
O periódico lembrou ainda que o julgamento acontece no “prédio modernista que foi danificado pelos apoiadores [de Bolsonaro] que invadiram a capital em 8 de janeiro de 2023”, traçando paralelo imediato com a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
A agência Reuters seguiu linha semelhante. “Supremo Tribunal Federal rejeita pressão de Trump enquanto julgamento de golpe de Bolsonaro se aproxima do veredito”, publicou. A agência relatou que a abertura do julgamento foi apresentada por Moraes como um ato de defesa da democracia frente a ataques externos, inclusive os atribuídos a Trump.

O New York Times, por sua vez, destacou a ausência de Bolsonaro no tribunal e citou informações de sua defesa sobre problemas de saúde. O jornal lembrou que aliados do ex-presidente afirmaram que ele sofre de soluços constantes, atribuídos às sequelas do atentado à faca de 2018. O diário observou que “a maioria dos analistas, apontando para um conjunto de evidências, espera que a maioria dos cinco membros do painel do Supremo Tribunal condene Bolsonaro”.

O texto ressaltou também o simbolismo histórico: “No Brasil, que viveu uma ditadura militar brutal de 1964 a 1985, o processo criminal de um presidente e seus poderosos aliados militares é visto por muitos como uma vitória da democracia”.
Perspectivas europeias e latino-americanas
O jornal espanhol El País publicou artigo da jornalista brasileira Eliane Brum, intitulado “O processo que muda o Brasil”. O texto enalteceu o caráter histórico de ver militares de alta patente responderem na Justiça civil. “Várias gerações morreram antes de ver um militar de alta patente responder por seus crimes perante a justiça civil”, escreveu. Para a autora, “terminou ontem o capítulo da impunidade militar”.

Na Argentina, o La Nacion destacou a “dura acusação” feita pelo procurador-geral Paulo Gonet, que afirmou que Bolsonaro e aliados conspiraram para derrubar a democracia. O jornal ressaltou o caráter inédito do julgamento de ex-altas autoridades por tentativa de golpe, lembrando a Lei da Anistia de 1979, que blindou militares responsáveis por violações durante a ditadura.

Já o britânico The Guardian recordou o histórico de tentativas de golpe no Brasil desde 1889 e lembrou o papel dos Estados Unidos no apoio à ditadura de 1964. O jornal advertiu que novos protestos em apoio a Bolsonaro estão sendo convocados para o 7 de Setembro e observou o reforço da segurança em torno do STF, do Planalto e do Congresso.

O Guardian também citou o ex-embaixador dos EUA, Thomas Shannon, que avaliou que Trump está “enganado se acredita que pode ajudar Bolsonaro a escapar da punição e voltar ao poder”. Para Shannon, as pressões do republicano sobre o Brasil têm surtido efeito inverso, fortalecendo Lula e enfraquecendo o ex-presidente brasileiro.
Um julgamento sob os olhos do mundo
A cobertura internacional tem reforçado a percepção de que o processo em curso no STF ultrapassa fronteiras. Mais do que decidir o destino político e jurídico de Bolsonaro, o julgamento é visto como um momento definidor para a consolidação democrática do Brasil, em meio a paralelos inevitáveis com crises recentes nos Estados Unidos e memórias da ditadura militar que ainda ecoam no país.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/de-washington-a-madri-imprensa-internacional-destaca-impacto-global-da-acao-contra-bolsonaro-no-stf/