O deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP) enviou uma mensagem a grupos internos do PT expressando duras críticas ao fato de o partido ter assinado um manifesto contrário ao pacote de corte de gastos que está sendo estudado pelo governo. Emídio, que é amigo pessoal de Lula e figura frequente ao lado dele e de Janja tanto em São Paulo quanto em Brasília, é também um dos membros mais experientes do PT. Ao longo de sua trajetória, foi prefeito de Osasco, secretário de finanças do partido e atuou como advogado de Lula durante o período em que o presidente esteve preso em Curitiba, em 2018.
Na mensagem, divulgada por Monica Bergamo em sua coluna na Folha de S. Paulo, Emídio comenta que “diversos movimentos sociais e partidos de esquerda” publicaram um manifesto em oposição ao pacote de ajustes fiscais. “Do ponto de vista dos movimentos sociais, nada de novo. Eles são porta-vozes de legítimas aspirações do povo brasileiro”, pontuou.
Em relação aos demais partidos que assinaram o manifesto — como PDT, PSOL e PC do B —, Emídio ressalta que, embora integrem o primeiro escalão do governo, possuem “sua própria dinâmica e interesses”. No entanto, ele considera inaceitável que o PT tenha assinado uma nota pública contrária a uma política que deve ser implementada pelo presidente Lula.
“Esperava-se outra postura. Nós não estamos no governo, nós somos o próprio governo. Não somos um movimento social, somos o partido político que dirige o país. Evidentemente que o partido pode e deve debater o governo, suas medidas e sua conduta e oferecer alternativas ao que não considera adequado, mas jamais num clima de confrontação e muito menos na mídia”.
Ele demonstra estranhamento também pelo fato de a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não ter submetido a decisão de endossar o manifesto a instâncias partidárias.
“Não me consta que alguma instância de direção tenha feito uma discussão e firmado posição no sentido de assinar o documento dos movimentos sociais. Na primeira década do PT, muito se discutia sobre qual era o papel do movimento sindical e qual era o papel do partido. Mais de três décadas depois, parece que essa discussão terá que ser refeita”, afirma ele no texto enviado a grupos partidários.
Ele afirma ainda que “a conjuntura atual e os estreitos limites em que o governo opera, com um Congresso hostil e uma amplíssima e frágil composição, desautorizam qualquer amadorismo. O PT não pode fazer de conta que não é governo e nem desconhecer os claros limites do orçamento público e do regramento constitucional e infraconstitucional que regem a receita e a despesa do governo”.
O parlamentar segue afirmando que “não é razoável que nossos dirigentes propaguem que as medidas que ora são debatidas no governo são desnecessárias ou que seriam apenas caprichos do mercado. Não podemos dividir os petistas entre os que se apresentam como defensores dos direitos sociais, e os que estão no governo e querem sacrificar esses direitos. Alguém acredita mesmo que Lula e [Fernando] Haddad [ministro da Fazenda] se prestariam a esse papel? Não setores do PT, mas o PT inteiro é o partido das reformas, da inclusão social, da democracia, das conquistas, dos direitos do povo, do Brasil de todos”.
Ele ainda faz elogios à história do partido.
“Não é tarde pra lembrar que muitos desses direitos foram possíveis graças aos nossos governos. Nem para pontuar que, se hoje nossa economia cresce contra todas as previsões do mercado e gerou mais de 3 milhões de novos empregos em 20 meses de governo mantendo a inflação sob controle, isso se deve a disciplina fiscal e ao esforço do governo em ampliar crédito, apoiar a renovação da indústria, a agricultura familiar e o agro. Todos se lembram do desastre orçamentário que foi a herança do bolsonarismo e que Lula teve que começar a governar antes da posse pra garantir a aprovação da PEC da transição.”
Afirma ainda que “também é imperativo ter presente que, apesar de toda restrição orçamentária, da fatia cada vez maior do orçamento que as emendas parlamentares consomem, o governo retomou investimentos em infraestrutura, ampliação e criação novos de programas sociais, criou o novo arcabouço fiscal e aprovou a reforma tributária”.
“Nada disso é novidade pra nós. Ainda no primeiro mandato de Lula, tivemos que fazer reformas dolorosas que desagradaram alguns e muitos até saíram naquele momento. O mundo não acabou e o resultado foi um governo com mais de 80% de aprovação. Um governo não é corrida de 100 metros. É uma maratona onde o que mais importa é como chegaremos à reta final. Pra isso não podemos errar no início e não erramos. Agora que estamos na metade da maratona é hora de fazer ajustes de olho na segunda e decisiva etapa do governo”, finaliza o parlamentar.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/deputado-do-pt-critica-ala-do-partido-que-condena-corte-de-gastos-alguem-acredita-que-lula-cortara-direito-de-trabalhadores/