O atentado realizado por Francisco Wanderley Luiz, morto ao detonar explosivos nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF) na última quarta-feira (13), gerou reflexões entre deputados bolsonaristas sobre as chances do projeto que propõe anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Em um grupo de WhatsApp chamado “Oposição raiz – Câmara”, parlamentares reconheceram que o episódio pode inviabilizar a proposta. Gustavo Gayer (PL-GO) compartilhou a foto de Francisco e lamentou: “Agora vão enterrar a Anistia”, comentário apoiado por outros membros, como Carla Zambelli (PL-SP). Após o vazamento das mensagens, Gayer deixou o grupo.
Enquanto publicamente lideranças do PL ainda defendem a criação de uma comissão especial para analisar o Projeto de Lei da Anistia, nos bastidores, a conexão entre o atentado e os atos antidemocráticos foi apontada como um obstáculo à sua tramitação.
O PL tem adotado um discurso que tenta dissociar a ação de Francisco dos eventos de janeiro, reforçando a tese de que ele agiu como um “lobo solitário”. Esse argumento é sustentado por comparações com Adélio Bispo, autor do atentado a faca contra Jair Bolsonaro em 2018, cuja investigação concluiu que ele agiu sozinho.
Entretanto, objetos encontrados pela Polícia Federal no trailer alugado por Francisco reforçam vínculos simbólicos com o bolsonarismo. Entre os itens, estava um boné com o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, amplamente utilizado por Bolsonaro em sua campanha presidencial de 2018. Outros pertences pessoais foram recolhidos e encaminhados para perícia.
Apesar do impacto político do atentado, o senador Rogério Marinho (PL-RN), secretário-geral do partido, minimizou a repercussão, defendendo que o episódio não deve interferir na instalação da comissão especial para debater o PL da Anistia. Ele reiterou que, assim como no caso de Adélio Bispo, a ação de Francisco foi isolada e não representa um movimento coordenado com os atos golpistas. Contudo, críticas à anistia e à tentativa de relativizar atos violentos contra a democracia continuam a ecoar em Brasília.
— Espero que deem a presunção de que o atentado a bombas foi um caso solitário, como o atentado do Adélio contra o Bolsonaro. Já saem, de antemão, dizendo que está relacionado com o 8 de janeiro, que isto impediria o PL da Anistia? Impediria por qual motivo? Este sujeito foi filiado ao PL antes de o Bolsonaro chegar ao partido e, claramente, tinha transtornos. Acredito que o PL da Anistia não será abalado, é mera retórica da esquerda para impedir a Anistia — afirma.
Líder do PL na Câmara, o deputado Altineu Côrtes (RJ) diz confiar na palavra do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que o colegiado será instalado. Ele afirma não ter conversado com o presidente da Câmara sobre o tema.
A criação da comissão sobre o PL da Anistia é tida como fundamental para que a bancada do PL, a maior da Câmara, com 93 parlamentares, apoie Hugo Motta (Republicanos-PB) para a sucessão de Lira.
— Confio na palavra do Arthur (Lira). Esse episódio das bombas não tem nada a ver com o dia 8 de janeiro. O que a mulher, mãe de dois filhos menores de idade, que foi presa pelo 8 de janeiro e está condenada a oito anos de prisão, tem a ver com uma pessoa que resolve pôr fim à vida na Praça dos Três Poderes? Qualquer narrativa que conecta uma coisa à outra é manobra para postergar o PL da Anistia, que não tem nada a ver com esta pessoa. Que seja tratado como o caso Adélio. Eu sigo acreditando na palavra do Arthur Lira, que garantiu que a comissão será implantada este ano — afirma Altineu.
Filho 03 do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) rejeita vínculo do homem-bomba com o bolsonarismo e diz que seguirá articulando junto aos outros deputados pelo PL da Anistia.
— Esta pessoa foi do PL antes de o Bolsonaro ser do partido. Estamos falando de alguém louco. Não acreditamos em violência como meio de ação política e refutamos qualquer conexão com o criminoso. Eu seguirei lutando pela anistia daquelas pessoas que estão presas.
Com informações de O Globo.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/deputados-bolsonaristas-passam-a-desacreditar-no-avanco-da-anistia-na-camara-apos-atentado-ao-stf-em-brasilia/