
Um deslize cometido nesta semana pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem potencial para marcar a imagem dele na campanha eleitoral de 2026, seja à reeleição ao governo de São Paulo ou a uma eventual candidatura à Presidência da República. A gafe foi comparada por adversários políticos à postura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na pandemia de Covid-19.
Na segunda-feira (6), em entrevista a jornalistas do gabinete criado para lidar com a crise na saúde de intoxicações por metanol, Tarcísio fez uma brincadeira em momento inoportuno. Ao ser perguntado sobre a reunião feita com fabricantes de bebidas, Tarcísio citou algumas marcas e disse que não se arriscaria na área, na intenção de demonstrar que não tem apreço por bebidas alcoólicas.
“Não vou me aventurar nessa área, que não é minha praia. No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar. Ainda bem que ainda não chegaram nesse ponto, né? E a minha é normal”, disse Tarcísio. A fala foi utilizada como munição da esquerda.
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O pedido de desculpas de Tarcísio pode ajudar a diferenciá-lo de figuras públicas que não corrigiram declarações negativas, como o então presidente Jair Bolsonaro (PL), padrinho político de Tarcísio, na avaliação de alguns analistas políticos. O gesto reforça a imagem de candidato ponderado, algo que pode ser relevante para o cenário eleitoral de 2026, principalmente em uma disputa nacional.
“De certa maneira ele se blinda. Pelo menos toda vez que a oposição lembrar o ocorrido, Tarcísio vai ter o vídeo mostrando que se desculpou e que foi um evento infeliz. Isso dá a ele uma capacidade narrativa muito maior que a do Bolsonaro, que dobrava a aposta e não se desculpava quando era criticado pelo comportamento na pandemia”, diz Lucas Fernandes, cientista político e coordenador de Análise Política na BMJ Consultores Associados.
Fernandes ressalta, porém, que essa diferenciação de Tarcísio em relação a Bolsonaro pode se voltar contra ele, principalmente neste momento em que Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, faz críticas a Tarcísio e afirma que pode disputar a candidatura à Presidência da República em 2026, na tentativa de proteger a herança política da família.
“Essa contraposição midiática pode gerar ruídos, especialmente na esfera de influência dos filhos de Bolsonaro. O Eduardo não esconde que não tem afinidade com o Tarcísio e essa contraposição pode acabar sendo usada pelo campo bolsonarista para minar as chances do Tarcísio, por mais que isso seja positivo junto ao eleitor moderado”, pondera.
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Declarações de Bolsonaro na pandemia impactaram popularidade e efeito sobre Tarcísio é incerto
O cientista político e professor do Insper Leandro Consentino lembra dos impactos negativos das afirmações de Bolsonaro na pandemia da Covid-19 na popularidade do então presidente e como isso pode ser utilizado pela oposição de Tarcísio em 2026.
“O comportamento do ex-presidente pesou muito durante a pandemia, não só pela maneira como ele encarou a crise sanitária, mas sobretudo com declarações muito infelizes como ‘não sou couveiro’, ‘não vou ficar chorando’, e várias outras relativizações sobre o problema grave que vinha matando muita gente”, diz Consentino.
“Tarcísio acabou caindo numa armadilha parecida. O pedido de desculpas minimiza, mas não apaga o problema, sobretudo com os registros da internet, que perduram no tempo”, adiciona ele.
O cientista político Lucas Fernandes avalia que “o fato de Bolsonaro não ter pedido desculpas e em nenhum momento ter feito uma reavaliação da posição do governo sobre a pandemia foram talvez os principais elementos que afetaram a capacidade de reeleição”.
“Em 2022 ele conseguiu uma melhora nos indicadores de popularidade e, de janeiro a outubro, chegou a crescer cerca de 9% de acordo com alguns institutos, mas ainda havia um clima muito ruim em relação à pandemia”, diz. Agora caberá a Tarcísio conter o desgaste e adotar cautela redobrada, sobretudo em um cenário em que cada palavra tem peso eleitoral.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/sao-paulo/desculpas-tarcisio-bolsonaro-pandemia-marcas-2026/