
O diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, prestou depoimento por mais de cinco horas à Polícia Federal, em Brasília, no âmbito das investigações sobre a existência de uma suposta estrutura paralela dentro da agência. A informação foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pelo UOL.
Corrêa, que também já foi diretor-geral da própria PF e foi nomeado para a Abin no governo Lula, foi questionado sobre uma possível tentativa de obstrução das investigações. Segundo depoimento de um servidor da agência, ele teria defendido uma “intervenção” na corregedoria da Abin durante uma operação de busca e apreensão realizada em janeiro de 2024. Na ocasião, servidores da corregedoria estavam colaborando com os agentes da PF.
“Na reunião, Luiz Fernando falou num tom agressivo que deveria fazer uma intervenção na corregedoria; naquele momento a corregedoria estava colaborando com a diligência de busca e apreensão”, declarou o servidor à PF, segundo o relato oficial.
Paralelamente, o ex-diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti — demitido após uma fase da operação da PF no ano passado — também foi ouvido. Delegado de carreira da PF, Moretti foi braço-direito do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e ocupou cargos de direção na Abin durante o governo Bolsonaro. Ele permaneceu na estrutura da agência mesmo após a chegada de Corrêa.
Outro ponto sensível abordado no depoimento foi o episódio de espionagem contra autoridades do Paraguai. De acordo com um agente da Abin, um “e-mail espião” foi usado para invadir computadores de integrantes do governo paraguaio, incluindo figuras da Presidência e do Congresso. A ação teria ocorrido durante as negociações sobre o valor pago pelo Paraguai pela energia gerada na Usina de Itaipu. A revelação provocou um abalo diplomático entre os dois países.
Após a denúncia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou Corrêa e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, para uma reunião no Palácio do Planalto. Segundo fontes ouvidas pelos veículos, os dois têm relação conflituosa dentro do governo.
As investigações da chamada “Abin paralela” foram impulsionadas por uma reportagem do O Globo, que expôs o uso do programa espião FirstMile para monitorar opositores políticos do governo Bolsonaro sem autorização judicial. Em janeiro de 2024, a colunista Bela Megale relatou que a atual direção da Abin teria dificultado o acesso da PF a dados sensíveis e ao Centro de Inteligência Nacional, durante a operação do dia 25 daquele mês.
A cúpula da Abin, sob Corrêa, tem sido associada a nomes ligados à gestão anterior. Além de Moretti, o ex-número 3 da agência, Paulo Maurício Fortunato, também foi alvo da PF. Em outubro de 2023, Fortunato teve US$ 171,8 mil apreendidos em sua casa. À época, afirmou que o valor era fruto de uma “poupança” para a aposentadoria e negou qualquer irregularidade.
Quando foi exonerado, Moretti declarou, em nota, que compartilhou com a PF todos os documentos sobre o caso FirstMile e que, enquanto esteve interinamente na direção-geral, deu início a uma apuração interna, com a abertura de sindicância investigativa pela corregedoria da agência.
Na decisão que autorizou a operação de janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, citou trechos do relatório da PF indicando que a direção da Abin praticou atos que interferiram no curso das investigações, embora sem que fosse possível, até então, determinar com clareza a intenção dessas ações.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/diretor-da-abin-presta-depoimento-a-pf-por-cinco-horas-em-investigacao-sobre-estrutura-paralela/