
O discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, durante o ato pró-Jair Bolsonaro realizado no último domingo (27), na Avenida Paulista, gerou incômodo entre aliados do ex-presidente e até mesmo dentro de sua própria família, informa a colunista Bela Megale, do jornal O GLOBO. Embora Tarcísio tenha adotado uma retórica dura contra o PT e o governo Lula, sua decisão de novamente não criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes foi recebida com desconfiança por integrantes do núcleo bolsonarista.
A avaliação entre aliados próximos de Bolsonaro é que o governador paulista tenta construir sua imagem como nome viável da direita para 2026, mas evita se vincular às pautas mais radicais que marcam o bolsonarismo, especialmente os ataques sistemáticos ao Judiciário. O silêncio de Tarcísio sobre o STF, em um evento onde a maioria dos participantes esperava confrontos verbais com o tribunal, foi visto como estratégico — e oportunista.
“O Brasil não aguenta mais a desfaçatez, o gasto desenfreado, a corrupção. O Brasil não aguenta mais o governo gastador. Quem paga essa conta dos juros altos são vocês. O Brasil não aguenta mais aumento de imposto, não aguenta mais o PT”, afirmou o governador durante seu discurso, adotando um tom crítico ao governo Lula, mas sem mencionar diretamente o Supremo ou os processos que envolvem Bolsonaro.
Para integrantes da ala mais fiel ao ex-presidente, a fala teve mais o tom de um lançamento de pré-candidatura presidencial do que uma defesa enfática de Bolsonaro. O gesto mais explícito de apoio foi quando Tarcísio puxou o coro “volta, Bolsonaro”, algo que também foi interpretado como tentativa de se posicionar como herdeiro legítimo do capital político do ex-presidente — mas sem abraçar o desgaste judicial que acompanha seu padrinho político.
Nos bastidores, aliados de Bolsonaro apontam que Tarcísio tenta manter o equilíbrio: sinaliza fidelidade para manter apoio da base conservadora, enquanto se preserva do desgaste institucional com o Judiciário. A ausência de críticas a Moraes e ao STF tem se repetido, mesmo em ocasiões onde parte da direita pressiona por manifestações mais enfáticas.
Embora o governador negue qualquer pretensão presidencial no momento, seu nome tem ganhado força nos bastidores da direita como possível candidato ao Palácio do Planalto em 2026. Ele é visto como uma figura mais moderada, com boa interlocução institucional e forte apelo entre o eleitorado conservador — o que agrada a empresários e políticos que buscam uma alternativa viável a Lula.
Apesar disso, Tarcísio ainda enfrenta resistência interna no bolsonarismo, principalmente por parte dos filhos de Jair Bolsonaro e de aliados próximos que enxergam na moderação do governador uma tentativa de se descolar das bandeiras que marcaram o governo anterior. Para esse grupo, a lealdade deve vir acompanhada de confronto aberto com os adversários — especialmente com o STF.
A tensão em torno do papel de Tarcísio no futuro da direita brasileira deve aumentar à medida que 2026 se aproxima. E a Avenida Paulista, palco da manifestação de domingo, deixou claro que o caminho até lá passará por uma disputa dentro do próprio campo conservador.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/discurso-de-tarcisio-em-ato-na-paulista-irrita-bolsonaristas-por-nao-mencionar-stf/