21 de setembro de 2024
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Dois dos principais caciques do Centrão, os presidentes do PL, Valdemar Costa Neto, e do PSD, Gilberto Kassab, travam uma guerra crescente por influência. O embate, espalhado por vários flancos, envolve o pleito municipal deste ano, as eleições de 2026, a sucessão no comando da Câmara dos Deputados e uma disputa por espaço no governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Os dois adversários empregam estratégias distintas na batalha. Enquanto Valdemar opta por um confronto aberto, com críticas públicas e movimentos mais explícitos, Kassab evita afirmações claras ao tratar do tema e adota tom contido sobre o rival, mas mantém articulações nos bastidores que contrariam o presidente do PL.

Na semana passada, um dia após dizer em evento organizado pelo deputado Antonio Brito (PSD-BA) que iria “meter um ferro” em Kassab na eleição de outubro, Valdemar retomou o assunto no aniversário do também deputado Elmar Nascimento (União-BA). A quem se dispõe a ouvir, o comandante do partido de Jair Bolsonaro garante que será um obstáculo para que o chefe do PSD consiga a vaga de vice de Tarcísio caso o governador, ventilado como eventual candidato à Presidência da República, decida disputar a reeleição em São Paulo daqui a dois anos.

Valdemar vê em Kassab o desejo de, caso conquiste a vice, herdar o governo paulista futuramente, projeto que ele promete não deixar prosperar. Enquanto isso, ciente do espaço que o PL e o bolsonarismo ocupam junto a Tarcísio, o presidente do PSD — que também é secretário de Relações Institucionais do governador de São Paulo — prefere desconversar.

— Valdemar Costa Neto é um querido amigo de muitos anos, de mais de 30 anos. Chega em época eleitoral… e são as disputas. São compreensíveis essas brincadeiras, ironias, enfrentamentos, tudo isso é compreensível, mas ele tem da minha parte absoluto respeito e compreensão de que estamos em uma disputa — diz.

Respaldo a vice em SP

Equilibrando-se em meio à reconhecida contenda, Kassab já chegou inclusive a fazer alguns acenos ao PL. O PSD foi um dos primeiros partidos a apoiar o coronel Ricardo Mello Araújo (PL) como candidato a vice do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que vai tentar a reeleição. O militar foi escolhido pessoalmente por Bolsonaro e enfrentou resistências do União Brasil e do PP, mas a sigla de Kassab puxou um movimento favorável a Araújo, que acabou sendo seguido por outras legendas e culminou na confirmação da presença dele na chapa.

O gesto não comoveu Valdemar, que descarta qualquer composição com Kassab e afirma que o apoio a Nunes e ao vice indicado por Bolsonaro só acontece porque o presidente do PSD quer estar com alguém que tem chance de ganhar a disputa em São Paulo.

— Vamos nos afastar do Kassab. Ele veio para o Nunes porque ele está com a eleição ganha —analisa o comandante do PL.

As discordâncias também resvalam nas disputas pela sucessão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Um dos argumentos usados contra o líder do PSD na Casa e um dos postulantes ao cargo, Antonio Brito, é justamente a sua ligação com Kassab.

No entendimento de alguns integrantes do PL mais próximos a Bolsonaro, uma vitória de Brito significaria dar muito poder a Kassab, que já acumula influência no governo de São Paulo e no governo federal, onde o PSD comanda três ministérios. Kassab rechaça a vinculação e pontua que a candidatura do correligionário não foi uma articulação sua, e sim algo construído pelo próprio parlamentar baiano.

— São coisas distintas, cada estado tem sua identidade. Em Brasília, o deputado Brito, que é nosso líder, responde pela nossa bancada — sustenta.

O PL ainda não decidiu que posição irá tomar na sucessão de Lira, mas indicou que deve endossar o nome que for definido pelo presidente da Câmara. Brito já chegou a se reunir com Valdemar e Bolsonaro, mas o partido também mantém conversas com Elmar Nascimento (União-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).

Em outra tentativa de minimizar as desavenças com o concorrente, Kassab lembra que ele próprio já foi filiado ao PL. No ano passado, durante evento realizado em Jundiaí (SP), Valdemar chegou a dizer que seu partido faria 1.500 prefeitos em 2024. Hoje, o partido administra 371 cidades, mas o chefe da sigla aposta na popularidade de Bolsonaro para subir de patamar.

“Estou ao lado do Tarcísio”

Kassab evita estimar se fará mais prefeitos do que o PL, mas explica que seu partido tem a meta de obter pelo menos 800 prefeituras, incluindo as de capitais como Rio, Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte, São Luís, Goiânia e Natal. O PSD é, hoje, a sigla com maior número de cidades administradas no país, com 1.040, mas o próprio cacique admite que será difícil até mesmo manter esse número.

A resistência de Valdemar a Kassab, para além da disputa por espaço, encontra eco no principal expoente de seu partido. No início do ano, Bolsonaro chegou a enviar um áudio a aliados em que “deixava claro” que não queria parcerias com o secretário de Tarcísio: “PSD de Kassab eu não apoio ninguém, tá ok?”, alertou.

Em outra mensagem para correligionários, Bolsonaro também demonstrou contrariedade com a presença do PSD na gestão federal. “O Kassab, pelos seus três ministérios, apoia as políticas do PT, como a ideologia de gênero, maconha, aborto, censura, defesa do MST, destruição da família, defesa do Hamas, desarmamento, fim da propriedade privada etc”, enumerou o ex-presidente.

Os ataques não parecem ter surtido efeito, e o secretário de Relações Institucionais segue ampliando a capilaridade junto a Tarcísio. Em abril, o governador nomeou Paulo Sérgio de Oliveira e Costa como procurador-geral de Justiça. O novo chefe do Ministério Público estadual é próximo a Kassab, de quem chegou a ser secretário na prefeitura da capital, o que voltou a irritar integrantes do PL de Valdemar.

Ao comentar a relação com o governador paulista, Kassab, mais uma vez, contemporiza. Ele assegura estar “no time de Tarcísio”, mas nega o desejo, apontado por Valdemar, de vir a ser vice em uma composição futura.

— Estou lá para ajudar o Tarcísio, não tenho nenhuma pretensão. Minha pretensão é estar ao lado do Tarcísio — resume.

Alianças em capitais

As orientações do ex-presidente e a posição de Valdemar de se afastar de Kassab também não impediram alianças entre PL e PSD em cidades importantes pelo país. Além do apoio mútuo a Ricardo Nunes na capital paulista, o PL deve caminhar junto com Eduardo Pimentel (PSD) em Curitiba e Topázio Neto (PSD) em Florianópolis, por exemplo.

Mas não é apenas a legenda bolsonarista que orbitará no entorno do PSD em diferentes municípios. Polivalente, o partido de Kassab também firmou diversos acordos com o maior antagonista do ex-presidente: o PT do atual titular do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva.

Petistas estão coligados com Eduardo Paes (PSD) no Rio, enquanto a sigla comandada por Kassab compõe a aliança de Lúdio Cabral (PT) em Cuiabá. Da mesma forma, PT e PSD apoiarão Geraldo Júnior (MDB) em Salvador.

Com informações do GLOBO.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/disputa-por-influencia-entre-valdemar-e-kassab-impacta-das-eleicoes-a-sucessao-na-camara/