
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, declarou nesta terça-feira (29) que está atuando para dificultar os esforços de senadores brasileiros que estão nos Estados Unidos tentando negociar a suspensão das tarifas de 50% anunciadas pelo governo Donald Trump sobre produtos exportados pelo Brasil. A medida, que deve entrar em vigor na próxima sexta-feira (1º), tem mobilizado autoridades e empresários de ambos os países.
“Com certeza não [estabelecer diálogo], e eu trabalho para que eles não encontrem diálogo, porque sei que, vindo desse tipo de pessoa, só haverá acordos daquele tipo meio-termo, que não é nem certo, nem errado”, afirmou o parlamentar ao SBT News. Eduardo Bolsonaro vive atualmente nos Estados Unidos e, segundo investigações da Polícia Federal, é apontado como articulador das sanções contra o Brasil.
Aliado próximo de Donald Trump, o deputado comemorou o anúncio do tarifaço e alegou que a decisão seria uma reação às “violações de direitos” e à “perseguição” sofrida por Jair Bolsonaro no Brasil. Em tom de provocação, Eduardo comentou que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, “encontrou agora um adversário à altura”. Segundo ele, “se ele acha que vai intimidar o Trump, dobrando a aposta, que é o que ele sempre faz, lamentavelmente haverá mais sofrimento por parte dessas autoridades brasileiras”.
Missão diplomática em andamento
Enquanto isso, uma comitiva de senadores brasileiros cumpre agenda nos Estados Unidos para tentar reverter ou amenizar os impactos da tarifa. O grupo é liderado pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), que confirmou reuniões com ao menos seis parlamentares estadunidenses, entre democratas e republicanos, ainda nesta terça-feira.
Apesar de não haver encontros previstos com integrantes do governo Trump, os senadores esperam que as conversas avancem até a Casa Branca. Na segunda-feira (28), a delegação se reuniu com representantes da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos e executivos de grandes companhias estadunidenses dos setores farmacêutico, energético, siderúrgico, químico, de tecnologia e transporte.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, também está nos EUA, participando de eventos diplomáticos, mas até o momento não foi recebido por membros do alto escalão do governo Trump.
Governo Lula tenta manter canais abertos
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a abertura de um canal de diálogo direto com Donald Trump. Durante um evento no Rio de Janeiro, Lula reiterou sua disposição para conversar com o governo estadunidense a fim de buscar uma saída negociada. A linha do Executivo tem sido reafirmada também pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que reforça que “o Brasil quer negociar”.
Haddad e o vice-presidente Geraldo Alckmin apresentaram ao presidente um plano de contingência para apoiar os setores mais afetados pelo tarifaço, caso as conversas não avancem. O plano envolve medidas de crédito, subsídios e estímulo à exportação para minimizar os impactos econômicos da taxação.
Isolamento brasileiro nas negociações
Trump afirmou que aplicará tarifas entre 15% e 20% sobre produtos de países que não chegarem a um entendimento com os EUA até sexta-feira. Até o momento, o Reino Unido foi o único a manter a tarifa original de 10%. União Europeia e Japão fecharam em 15%, Indonésia e Filipinas pagarão 19%, e o Vietnã, 20%.
O Brasil segue isolado no processo, sem acordo firmado e sem canal oficial de negociação estabelecido com a Casa Branca. A postura de Eduardo Bolsonaro, somada à falta de resposta do governo Trump às iniciativas diplomáticas brasileiras, adiciona tensão a um cenário que já compromete setores inteiros da economia nacional.
O impasse político e comercial se insere em um contexto mais amplo de desgaste nas relações entre os dois países, alimentado por disputas judiciais, acusações de perseguição e intervenções políticas como a do deputado Eduardo Bolsonaro. Resta saber se haverá espaço, nos próximos dias, para um recuo estratégico ou se o tarifaço abrirá uma crise comercial de maiores proporções.
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Fonte: https://agendadopoder.com.br/eduardo-bolsonaro-confessa-que-trabalha-para-impedir-dialogo-de-senadores-brasileiros-com-governo-dos-eua-sobre-tarifaco/