24 de setembro de 2025
Eduardo Bolsonaro sofre revés de Trump após elogio a Lula
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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) viveu nesta terça-feira (24) um dia de desgaste político em três frentes na Câmara dos Deputados, ao mesmo tempo em que acompanhou, à distância, um gesto de aproximação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos EUA Donald Trump durante a abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Na véspera, Eduardo já havia sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob a acusação de, a partir dos Estados Unidos, tentar coagir a Justiça brasileira.

Perda de espaço no Congresso

A primeira derrota do dia veio com a decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que rejeitou a indicação do PL para que Eduardo assumisse a liderança da minoria na Casa. O movimento era uma tentativa do partido de blindar o deputado diante da ameaça de perda de mandato por faltas.

O filho do ex-presidente está desde o primeiro trimestre nos Estados Unidos, onde atua para convencer o governo local a pressionar autoridades brasileiras em defesa do pai. A decisão de Motta foi interpretada nos bastidores como um gesto de alinhamento a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial a Alexandre de Moraes, no contexto das negociações para reduzir penas de condenados pelos atos golpistas, rejeitando uma ampla anistia.

Segundo deputados do PL, Motta teria dado sinais de que concordaria com a indicação de Eduardo, mas recuou após pressão de Moraes. A Constituição prevê perda de mandato para parlamentares que faltarem a um terço das sessões sem justificativa.

Processo de cassação e dívida com a Câmara

Horas depois da decisão de Motta, o Conselho de Ética instaurou processo de cassação contra Eduardo por ataques ao STF e por ameaças à realização das eleições de 2026. O presidente do colegiado, Fabio Schiochet (União Brasil-SC), indicará o relator a partir de uma lista tríplice formada por Duda Salabert (PDT-MG), Paulo Lemos (PSOL-AP) e Delegado Marcelo Freitas (União Brasil-MG).

Em seguida, a Folha revelou que a Câmara pretende inscrever o nome do parlamentar no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal (Cadin) devido a um débito de R$ 13.941, referente a faltas injustificadas registradas em março.

Lula e Trump: química inesperada

Enquanto isso, no palco internacional, Eduardo e aliados foram surpreendidos pelo breve encontro entre Lula e Trump nos bastidores da ONU. O republicano disse ter sentido “uma excelente química” com o brasileiro, em tom amistoso que destoou do clima de tensão diplomática entre os dois países.

Eduardo recorreu às redes sociais para destacar trechos em que Trump criticou o governo brasileiro por “perseguição judicial” e censura. O deputado afirmou que a postura do presidente dos EUA confirma sua habilidade como negociador:

“Tudo isso é um prenúncio do que estará sobre a mesa num eventual encontro entre Trump e Lula que, se confirmado, seria certamente no Salão Oval. E Lula não terá escolha: terá de ir. Note bem, será no momento, no local e nos termos que Trump escolheu, sendo que o Itamaraty está anulado, sem poder alinhar previamente a reunião”, escreveu.

Apesar da interpretação de Eduardo, integrantes do centrão enxergaram no gesto de Trump um novo sinal de desconforto para o bolsonarismo, desta vez coroado pela expressão “excelente química” usada pelo estadunidense.

Disputas internas no bolsonarismo

Eduardo Bolsonaro também ampliou sua distância em relação a parte do próprio grupo político. Segundo interlocutores, ele tem dito que será candidato à Presidência da República em 2026 com ou sem o apoio do pai. Para isso, admite sair do PL e se filiar a um partido menor.

Boa parte do centrão e do bolsonarismo, no entanto, aposta em uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerado mais viável eleitoralmente.

Na avaliação de Eduardo e de seus aliados, setores do centrão tentam se apropriar do capital político de Jair Bolsonaro e transmitem ao ex-presidente cenários distorcidos, levando-o a acreditar que apoiar outro candidato seria a única alternativa para melhorar sua situação jurídica.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/eduardo-bolsonaro-enfrenta-ofensiva-na-camara-e-sofre-reves-de-trump-com-elogio-a-lula/