13 de outubro de 2024
Eduardo Eugenio deixa a presidência da Firjan após quase 30
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Em 1995, o empresário Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira trocou um cargo no Grupo Ipiranga, fundado por sua família, pela presidência da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Aos 77 anos e quase três décadas depois, deixa o comando da entidade amanhã, mas, sem pausa para descanso, já anuncia os próximos passos. Ao longo dos últimos 29 anos, a Firjan mudou e colaborou na implantação de políticas públicas, como conta nessa entrevista.

Depois de quase 30 anos, é hora de se aposentar?

Negativo. Vou presidir o Conselho Superior da Firjan. A partir de quarta-feira, uma das primeiras tarefas será buscar pessoas que queiram repensar a gestão pública do Estado do Rio. A proposta é oferecer em 2026 aos candidatos a governador sugestões para áreas essenciais: segurança, finanças, educação e saúde.

O que mudou na Firjan?

O Sistema Firjan (Cirj , Sesi, Senai e Instituto Euvaldo Lodi) trabalhava sem sinergia. Foi preciso mudar essa mentalidade do grupo: todos atuamos pelos interesses das empresas. Nessa época, por exemplo, havia uma unidade do Sesi vizinha à do Senai. A duas eram separadas por um muro. Sugeri que fosse derrubado. Voltei depois da obra, e tinha até bandinha de música para me receber. Em lugar do muro, havia uma porta de correr fechada a chave. Não entenderam que era para integrar. Fomos os primeiros a ter esse conceito. Depois, outras entidades adotaram sinergia , incluindo a Confederação Nacional da Industria (CNI).

Por que a entidade começou a realizar estudos macroeconômicos?

Tinha pavor que nossa sede ficasse conhecida como o personagem do filme “O belo Antonio”: bonito, mas sem inteligência. Contratamos a elite intelectual, pagando salários de mercado. Isso permite que hoje façamos análises de cenário. Criamos os índices Firjan de Gestão Fiscal e do Desenvolvimento Municipal, que anualmente acompanham indicadores (Saúde, Educação e Emprego e Renda) em todo o país. Isso permitiu compararmos os tributos que são cobrados com a qualidade dos serviços públicos.

Qual foi o resultado de um estudo da Firjan que em 1996 (um ano após o seu ingresso na presidência da entidade) fez uma análise dos potenciais econômicos do Estado do Rio?

Surgiram projetos como o polo petroquímico (Itaboraí) e a indústria da moda íntima em Friburgo. E o Sul Fluminense se transformou em um polo automotivo com fábricas da Peugeot, da Hyundai e da VW Caminhões. A Peugeot foi a primeira. Tenho uma certa vergonha de contar uma participação minha nesse processo. A Peugeot negociava condições para se instalar em Porto Real, com o BNDES e o estado. O presidente da empresa me ligou para perguntar se podia confiar que o acordo seria cumprido. Nem tinha ideia do que se tratava. Mas garanti que ele podia confiar.

Empresas reclamavam de dificuldades para ter licenças ambientais. Isso mudou?

O licenciamento era feito pela Feema, num processo demorado, pois o órgão sequer era informatizado. O então governador Sérgio Cabral criou o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para emitir as licenças, com computadores doados, em uma vaquinha organizada pela Firjan e pela Petrobras.

Hoje estão em franco debate as mudanças climáticas. Que iniciativas a Firjan adotou nessa área nos últimos anos?

Implantamos um programa de conscientização ambiental. O trabalho foi tão importante que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) nos convocou para sermos os coordenadores no Rio para acompanhar localmente o cumprimento dos 17 objetivos estabelecidos pela ONU para que as cidades tenham práticas mais sustentáveis (até o ano de 2030).

Em 2018, foi aberta a casa Firjan, em Botafogo. O que motivou essa iniciativa?

A Casa Firjan é muito especial. Hoje temos ali um showroom de atividades que o sistema Firjan tem no estado em áreas como ensino e tecnologia. Nesse ambiente, a proposta foi reunir gente para debater de forma leve tendências da sociedade no futuro. Uma vez até o Luciano Huck apareceu.

Nos últimos anos, a Firjan criou projetos para a Educação. Qual o resultado?

Implantamos um programa de ensino continuado. O aluno ingressa no ensino fundamental nas escolas do Sesi e conclui sua formação no ensino médio no Senai (que oferece cursos profissionalizantes). Desde 2013 até o ano passado, tivemos 1,4 milhão de matrículas nas duas entidades. A meta para 2025 é superar 160 mil matrículas, mais que as 141 mil previstas para 2024. Também lançamos o Sesi Matemática (2012), que criou nova metodologia para aprendizagem da disciplina, que usa recursos digitais. Aplicamos esse método para nossos 12,8 mil alunos do Sesi-RJ. O método é seguir ainda para o Sesi- Ceará.

Vocês também atuaram fora do sistema Firjan. Como foi a experiência?

Tivemos uma parceria com o governo do Rio de Janeiro e o Tribunal de Justiça chamada Aprendizes da Liberdade, para a qualificação profissional de detentos. Foram cerca de quatro mil alunos. E, em parceria com o PNUD, publicamos um estudo que avaliou que as perdas do país com a evasão escolar poderiam chegar a R$ 13,5 bilhões anualmente.

Em que consiste o programa Sesi Cidadania?

Segurança pública é muito mais que ações de combate ao crime. Foi uma experiência que começamos quando as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) foram instaladas. O então Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, pediu uma parceria para desenvolvermos ações sociais. Então, criamos o Sesi Cidadania. Levamos às comunidades atividades esportivas, implantamos bibliotecas. Lembro que levamos a escritora Ana Maria Machado para conhecer uma delas. Somos teimosos, o programa ainda se mantém em parte dessas comunidades. Lamento que as UPPs (no conceito original) tenham acabado por questões políticas. Não sei como os políticos conseguem dormir à noite.

Em 30 anos, a economia passou por crises. O senhor diria que a da Covid foi a pior?

Talvez tenha sido a crise mais aguda. Ninguém tinha ideia de como a doença era violenta. Nós conseguimos quase um milagre. Fizemos um esforço para que a indústria não parasse. Fomos para o chão de fábrica com um programa de prevenção, para proteger os trabalhadores. Aplicamos 60 mil testes para detecção da doença. As médias e pequenas indústrias nada pagavam.

A Firjan defendeu por anos a Reforma Tributária e até lançou em 2010 a campanha ‘‘Dieta do Impostão’’. Está satisfeito com o resultado?

Desde os anos 1990, a gente defendia as reformas Tributária e Administrativa. Com a implantação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que projeta uma alíquota geral de 28% (em substituição a cinco tributos), vai ficar mais explícito para a sociedade quanto pagamos de impostos e vamos poder cobrar eficiência dos governo.

Entrevista ao Globo

Fonte: https://agendadopoder.com.br/eduardo-eugenio-deixa-a-presidencia-da-firjan-apos-quase-30-anos-mas-quer-ajudar-a-repensar-a-gestao-publica-no-estado-do-rio/