Uma coisa não se pode negar: Eduardo Paes venera o Rio de Janeiro. Essa certeza, reconhecida até por quem não vota nele durante a campanha. “Como não gostar do Dudu?” foi uma das expressões repetidas durante a disputa eleitoral, principalmente nos vídeos hilários compartilhados pelo agora prefeito reeleito, o maior fornecedor de memes com a própria figura. Foi um longo caminho das figurações em novelas de TV – sim, Dudu já foi figurante – ao protagonismo no cenário político fluminense, sobretudo na capital, onde reina absoluto. Prova disso foi a vitória maiúscula este ano, ainda no primeiro turno, com quase dois milhões de votos (60,47 %), ganhando o aval dos cariocas para o seu quarto mandato como prefeito do Rio. Mas afinal, qual o segredo do sucesso de Eduardo Paes?
Não existe um só. Ao longo do tempo, além do carisma, Eduardo Paes criou um estilo próprio de fazer política mostrando habilidade para o diálogo e circulando bem por todas as correntes, das mais progressistas às extremamente conservadoras. Para o cientista político e colunista do Agenda do Poder, Paulo Baía, Paes construiu uma trajetória vitoriosa aliando o prazer de governar com articulação política, que Baía chama de “afeto político”.
“Paes emerge liderando com folga na capital com forte influência também na Baixada. Não é uma composição política e nem pragmática, tem uma solidez de afeto. Ele não faz alianças políticas apenas por necessidade, é preciso ter uma identidade com sua ideologia. É uma aliança que tem o cálculo, mas tem o afeto político”, observa Paulo Baía.
As derrotas políticas mais expressivas da carreira política de Eduardo Paes – não conseguir eleger Pedro Paulo em 2016 e o revés para Wilson Witzel quando disputou o Governo do Estado, em 2018 -, segundo Baía, não abalam a solidez da liderança de Paes.
“Não foi o Paes que não conseguiu eleger o Pedro Paulo em 2016. Foi o Pedro Paulo que perdeu a eleição, pois ele estava com a imagem muito arranhada por conta de problemas na vida pessoal. O Paes acreditou que isso não atrapalharia e que o Pedro Paulo chegaria contra o Freixo, mas não chegou. Foi uma derrota exclusiva do Pedro Paulo. Em 2018 Paes foi derrotado pela onda bolsonarista, mas volta dois anos depois para o terceiro mandato, uma vitória facilitada pela péssima gestão do Crivella, não gostava da cidade, problemas de gestão. Fez um terceiro governo muito bem avaliado, o que lhe garantiu uma vitória consagradora este ano”, analisa o cientista político.
Assim como no esporte, na política nem sempre basta ter habilidade, como também é sempre bem vinda a chamada “sorte de campeão”. É preciso estar no lugar certo, na hora certa. Para a cientista política Mayra Goulart, foi o que aconteceu com Eduardo Paes nos seus dois primeiros mandatos.
“Eduardo Paes constrói o seu capital politico com alguns golpes de sorte. Os primeiros governos dele foram feitos em um período em que o Rio de Janeiro convivia com uma certa bonança, e ele construiu esse capital associado a esse momento de bonança. Depois ele foi eleito após um mandato muito ruim do Crivella”, analisa Mayra.
O feeling político de Paes também foi fundamental para lhe assegurar um terceiro mandato onde navegou por mares de almirante do Leme ao Pontal. Na opinião de Mayra Goulart, Paes acertou ao apostar na aproximação com a figura do presidente Lula justamente no momento de grande polarização política.
“Um segundo elemento, conjuntural, mas que tem a ver também com escolhas do próprio Eduardo Paes e da sua inteligência política é o fato dele ter se aproximado do Governo Federal, do PT, e da figura do Lula, em virtude de um contexto de antagonismo com a extrema direita, um contexto de polarização. Essa proximidade com o Governo Federal nesse mandato mais recente, assim como nos anteriores, permitiu que ele tivesse bastante recursos para implementar um governo que pode levar a cabo políticas públicas, fazer realizações e, com isso, construir esse capital político. Tem a ver com ao próprio carisma político do Eduardo, que não tem marcações ideológicas definidas. Embora que, se você olhar mais de perto, observa uma proximidade grande com a iniciativa privada e uma ideia de cultura que não é compatível com a extrema direita. Ele seria um politico liberal, de uma direita mais liberal, como a que víamos no PSDB do passado e não essa extrema direita ideológica atual”, ressalta a cientista política.
Os desafios do trajeto entre a Cidade Nova e Laranjeiras
Ao assumir o papel de protagonista no roteiro político da capital, Eduardo Paes torna-se apto para retomar o projeto de se tornar governador do estado, interrompido em 2018 quando o então coadjuvante Wilson Witzel conquistou o papel. A troca da sede da Prefeitura, no Centro, pelo Palácio Guanabara, em Laranjeiras, já era cogitada antes mesmo da vitória de outubro, quando o então candidato à reeleição se viu obrigado a jurar pelo Vasco e a Portela que iria terminar o quarto mandato como prefeito.
Logo após a vitória, não demorou para o discurso mudar e agora, mesmo não admitindo abertamente, Paes também não nega a possibilidade de se candidatar a governador em 2026. Mas, voltando aos ditados populares do futebol, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. A opinião é compartilhada pelos analistas políticos, que concordam que apesar de toda força na capital, para chegar ao Governo do Estado os desafios vão muito além das fronteiras cariocas.
“Hoje a força política do Eduardo Paes vai além do Estado do Rio. Ele se tornou uma referência nacional e criou uma nova forma de se fazer política. Ele amadureceu com a derrota (2018), mas tem um desafio muito grande, que é conquistar a Baixada Fluminense e a Região Metropolitana. Só com a capital ele não consegue vencer. Cláudio Castro deu uma grande demonstração de força ao se reeleger no primeiro turno para seu segundo mandato e agora aposta em três nomes para a sucessão que têm grande influência justamente no interior e na Baixada, que são Thiago Pamplona (vice-governador), Rodrigo Bacellar (presidente da Alerj) e Washington Reis (secretário estadual de Transportes). As alianças para o Senado também serão fatores decisivos em 2026”, aponta Paulo Baía.
Mayra Goulart analisa que o maior desafio de Paes é justamente fazer com que suas realizações na capital possam ecoar pelas outras regiões do estado e para que isso aconteça, é fundamental que o prefeito aumente o seu leque de alianças políticas.
“Esse parece ser o maior desafio do Eduardo, pois essas realizações e esse capital político estão muito associados à capital, ao Rio de Janeiro, e a gente sabe que o Governo do Estado é um desafio de interiorização, de articulação com outras lideranças políticas do interior e da Região Metropolitana”, ressalta Mayra. Apesar de estar logo ali, enquanto 2026 não chega, os cariocas terão a partir do primeiro dia de 2025 Eduardo Paes como prefeito pela quarta vez. Sobre o futuro, duas certezas: a de que Dudu toma posse nesta quarta-feira (1º) e a sua paixão pelo Rio de Janeiro.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/eduardo-paes-o-mais-carioca-dos-prefeitos-se-consolida-como-principal-lideranca-politica-da-capital/