7 de novembro de 2024
Entusiasmado com Trump, Bolsonaro aposta em anistia para reverter inelegibilidade
Compartilhe:

Animado com a volta de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem expectativas de seguir um caminho semelhante no Brasil. Em entrevista ao Globo, Bolsonaro expressa otimismo sobre uma possível anistia que poderia reverter sua inelegibilidade, imposta até 2030 devido à divulgação de informações falsas sobre as urnas eletrônicas. “O Congresso é o caminho para quase tudo. É o Poder mais importante”, afirma o ex-presidente, que é alvo de uma investigação que apura uma possível tentativa de golpe após as eleições de 2022.

Bolsonaro nega qualquer envolvimento em planos de ruptura democrática e afirma que seu círculo próximo discutiu “remédios constitucionais” para “buscar uma maneira de questionar o processo eleitoral”.

Em relação às eleições de 2026, ele evita nomear um possível candidato de seu apoio caso siga impedido de concorrer. No entanto, admite que a questão está em sua mente, mas considera que, por enquanto, é o único nome viável. “Se lá na frente tiver um problema, se eu infartar hoje, morrer hoje, vão buscar alguém parecido comigo. Tem alguém parecido no momento?”, questiona ele.

Leia a entrevista:

O senhor está com o passaporte apreendido por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Como pretende ir à posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump?

A informação que tenho é que vou ser convidado. Vou fazer uma petição para o Alexandre [de Moraes, ministro do STF]. Ele decidirá. Se indeferir, tem alguma alternativa? Eu fico no Brasil e assisto pela TV. Você acha que Trump vai convidar Lula para a posse? A não ser protocolarmente.

O que a vitória do Trump representa para o bolsonarismo?

É uma boa notícia para o mundo, né? Nós defendemos a liberdade econômica. Os Estados Unidos são a maior democracia do mundo e dão o seu potencial. Eles projetam o poder. Então, é natural. Se o Brasil quer ter menos problemas no mundo, deve seguir um pouco a linha americana.

O senhor, assim como Trump, é alvo de investigações. Há a possibilidade de ser indiciado pela Polícia Federal no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado. Isso atrapalha os seus planos para 2026?

Eu não estou preocupado com o meu julgamento. A minha preocupação é com quem vai me julgar. Uma prisão de um ex-presidente tem uma repercussão no mundo todo. Jair Bolsonaro preso. Preso por quê? É óbvio que tem de ter uma causa justa. Tem de aplicar a lei. Eu não estava aqui no 8 de Janeiro. Eu estava fora. Se eu estivesse no Brasil, acho que estaria complicada a situação, né? Porque iriam me culpar. Pelo que tudo indica, o 8 de Janeiro foi construído pela esquerda. O que aconteceu nos EUA acontece aqui. No Capitólio, morreu gente. Tentaram colocar a culpa no Trump.

O seu então ajudante de ordens, Mauro Cid, disse à PF que foi elaborada uma minuta golpista para reverter o resultado das eleições em 2022. O seu então comandante do Exército, general Freire Gomes, confirmou em depoimento que foram discutidas com o senhor possibilidades de uma ruptura institucional…

O Cid que diga quem foi que preparou [a minuta golpista]. Agora, pelo que estou sabendo do que foi encontrado, foi uma minuta feita pelo Ives Gandra em 2017 sobre o artigo 142 da Constituição, e não sobre um estado de sítio. Outra história. Eu sempre fui contra qualquer tipo de ruptura institucional. O que se fala é que tem um rascunho de um documento. Cadê esse documento? O que é estado de sítio? Foi levantado isso. Como é que começa o estado de sítio? Com o presidente da República convocando os conselhos da República e o da Defesa Nacional, composto por gente do Executivo, da Câmara, do Senado. Foi tomada alguma providência para convocar os conselhos? Não. O segundo passo seria o presidente mandar para o Congresso o pedido para decretar estado de sítio. Se o Congresso der positivo, aí o presidente assina o decreto. Não foi dado nenhum passo nesse sentido. Discutir a Constituição passou a ser crime?

O senhor chegou a discutir a possibilidade de estado de sítio?

Não estou assumindo que discuti ou não. Estou questionando. Possivelmente, discutir estado de sítio é algum crime? Quem autoriza o decreto de estado de sítio é o Congresso. Eu falava para os ministros que estavam ao meu lado: “Vão buscar os remédios dentro da Constituição”. Eu entendo que a Constituição é o remédio para os conflitos institucionais. Agora, falar que eu estava preparando um golpe, pô, pelo amor de Deus. Você não vai [dar um golpe] depois que o TSE anunciou o resultado. Ninguém vai contigo. Quando o chefe do Executivo não é reeleito, 80% dos seus ministros desaparecem. Somente 10% está contigo e outros 10% ficam em cima do muro. Não tem como fazer mais nada. Se convidar para um churrasco, de 23 ministros vão aparecer três, pô. Como vou dar um golpe num clima desse? Que absurdo isso aí.

Mas qual seria a finalidade de encontrar remédios constitucionais após a sua derrota reconhecida por todas as autoridades e pelo Congresso nas eleições de 2022?

Para buscar uma maneira de questionar o processo eleitoral. Será que eu não posso discutir, do primeiro ao último artigo da Constituição, com o ministro civil, com o militar, com o chefe de Força [Armada] e com o secretário? Porque nós fomos impedidos de buscar o TSE. Quando busquei o TSE com uma petição, peguei uma multa de R$ 22 milhões. [Cristiano] Zanin peticionou quantas vezes no Supremo quando era advogado de Lula? Eu vou chutar umas 200 vezes. Foi punido pecuniariamente?

Acha que tem algum caminho no Congresso para anistiar o seu caso e evitar que o senhor seja condenado no inquérito que apura uma trama golpista?

O Congresso anistiou gente que botou bomba no quartel, gente que matou gente, que sequestrou, que matou autoridades internacionais, ladrão de banco. Todo mundo se anistia lá. Alguém falar que queriam dar um golpe num domingo. O que é golpe? O golpe é quando entro na sua sala, mato você, te prendo ou eu te mando para fora do país. Eu nunca vi um golpe desarmado. Está uma sanha por parte de uma pessoa para arranjar um golpe e condenar. Isso já ficou feio. É joia, é vacina, é baleia, é leite condensado, é moedinha no espelho d’água do Alvorada.

Mas o senhor acha que o Congresso pode reverter a sua situação no STF?

Pode. O Congresso pode. O Congresso é o caminho para quase tudo. O Poder mais importante é o Legislativo. Depois, o Executivo… O Congresso é o Poder mais importante. Ninguém votou em pessoal do Supremo. Ninguém votou em ministro da República. O Poder mais importante é o do Congresso. A Constituição que entende dessa maneira. O Poder Judiciário é para dirimir conflitos.

Caso não consiga reverter a sua inelegibilidade, qual nome o senhor deve apoiar em 2026?

Eu não vou citar o nome agora. A gente não está, por enquanto, proibido de pensar. Eu penso nisso, mas só não externo. O candidato sou eu. Se pegar qualquer candidato da direita, cada um tem a sua qualidade e defeito. Mas o que é uma campanha presidencial? É preciso ter uma aceitação no Brasil todo. Se lá na frente tiver um problema, se eu infartar hoje, morrer hoje, vão buscar alguém parecido comigo. Tem alguém parecido no momento? Olha, se eu for em Cristalina (GO) amanhã, eu tenho certeza de que pelo menos vou ter 2 mil pessoas para me receber lá. No mínimo. Se outro candidato de direita, sem falar nome, falar que vai lá, quantas pessoas vão recebê-lo? Até eu morrer, sou eu o candidato.

O ex-coach Pablo Marçal disse que, após perder a campanha pela Prefeitura de São Paulo, pretende lançar a candidatura à Presidência em 2026. Há espaço na direita?

No PL, não tem. Ele pode procurar outro partido. A direita não tem donos. A direita tem líderes. E todo mundo que se credencia como líder tem direito de buscar esse voto. Agora, o debate para buscar o voto não pode ser do padrão São Paulo. Não dá. Não vou dar opinião para ele. Tem gente de esquerda que vota nele. Isso aí é o jogo político. É preciso achar um partido e se candidatar.

O senhor também se desentendeu com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que tenta se cacifar para as eleições presidenciais em 2026…

Eu tinha um candidato em Goiânia [Fred Rodrigues], e ele tinha outro [Sandro Mabel], que tinha a seu favor a máquina do estado e do município. No segundo turno, vereadoras do PT falaram que apoiaram o Mabel. Alguém construiu esse apoio. Então, uma pessoa construindo apoio com o PT é complicado. Perder a eleição faz parte da regra do jogo, e ninguém quer perder. Agora, se aliar ao diabo para ganhar a eleição, aí não.

O PL e o PT declararam apoio às candidaturas de Hugo Motta para a presidência da Câmara e de Davi Alcolumbre ao comando do Senado. Como essas alianças serão favoráveis ao seu partido?

Olha só, tem que ser realista, né? O que na política você faz até como eleitor? Escolhe o melhor ou o menos ruim. E ali até chegou um ponto que, dos três candidatos, o Marcos Pereira saiu e entrou o Hugo Motta. Então, o partido fechou com ele. Fechamos antes do PT, inclusive. Fomos muito bem servidos no último ano e estamos sendo bem servidos agora, com comissões na Câmara. Não tenho pessoalmente nada contra os demais candidatos. E vida que segue. E no Senado, optamos em 2023 por lançar o Rogério Marinho como candidato à presidência e perdemos. Quando se perde uma eleição, não tem espaço na mesa nem em comissões. Se o meu partido quiser convocar um ministro hoje, não pode convocar porque não tem ninguém presidindo comissão. Então, desta vez, decidimos que não vamos lançar o Rogério Marinho de novo ou outro nome qualquer. Com isso, vamos ter a primeira vice-presidência do Senado ou a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). São dois postos-chave importantíssimos. Vamos deixar de ser zumbis dentro do Senado.

Isso significa que o seu partido vai ter mais influência para eventualmente pautar um pedido de impeachment de ministro do STF?

Qualquer coisa. Estando na Mesa [Diretora], podemos receber pedido de ajuda e pedir ajuda. Isso é política. E eu acredito que vamos fazer uma enorme bancada de senadores da direita em 2026. Com um Senado independente e forte, ninguém vai sair fora da casinha.

Motta e Alcolumbre assumiram o compromisso com o PL de pautar o projeto que anistia os envolvidos no 8 de Janeiro?

Olha, ontem [quarta-feira] eu estive com o Hugo Motta. Conversei com ele. Eu estive mais de três vezes com o [Arthur] Lira nesse tempo todo. Os compromissos que a gente assume ali, por vezes, são apenas com o devido respeito ao regimento interno e aos anseios da população. Não precisa falar mais nada. Quando foi transformado o projeto da anistia em comissão especial, que alguns não queriam, Lira conversou comigo, e eu me convenci de que é melhor assim também. Eu não posso ficar dizendo? Vamos aprovar e depois o projeto morre.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, indicou que poderia passar o comando do partido para outra pessoa, mas depois recuou. Como está essa discussão?

Quando vi na imprensa que o Valdemar iria passar o PL para o Eduardo [Bolsonaro], perguntei: “Eduardo, que trem é esse?”. Ele falou: “Estou sabendo agora também”. Eu não posso falar com o Valdemar. Pedi para perguntar para ele se procedia. No dia seguinte, disseram que sim. Eduardo falou que não se interessava por vários motivos, porque é uma dor de cabeça enorme. Então, daí o próprio Valdemar falou que seria o senador Marinho, que também falou que não queria. Depois, o Valdemar falou que jamais deixaria a presidência do partido. Puta que pariu, não entendi porra nenhuma.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/entusiasmado-com-trump-bolsonaro-aposta-em-anistia-para-reverter-inelegibilidade-ate-2030/