21 de setembro de 2024
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A participação de influenciadores digitais e celebridades, como a atriz Luana Piovani, intensificou as críticas à PEC das Praias nas redes sociais, favorecendo a posição da esquerda e dos aliados do presidente Lula. Análises de empresas especializadas em ambientes digitais, encomendadas pelo GLOBO, indicam que a defesa da proposta pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) não teve êxito e ficou isolada.

Segundo a consultoria Bites, até 24 de maio, a discussão sobre a PEC era quase inexistente nas plataformas digitais. A pauta foi inicialmente levantada por organizações e ambientalistas, como o Observatório do Clima, às vésperas da audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em 27 de maio.

O movimento Euceano divulgou o primeiro vídeo viral em 24 de maio, onde os mergulhadores Rodrigo Thomé e Rodrigo Cebrian criticam a tentativa de “privatizar praias” e incentivam seguidores a pressionarem os parlamentares.

A PEC propõe a transferência de terrenos de marinha — áreas de 33 metros a partir do limite das marés, atualmente sob domínio da União — para estados, municípios e proprietários privados. Ambientalistas alertam que a medida pode comprometer a biodiversidade e bloquear acessos às praias, o que é negado por Flávio Bolsonaro.

Após o vídeo do Euceano, políticos e contas de esquerda começaram a se manifestar contra a PEC, mas sem grande engajamento inicial. A situação mudou em 31 de maio, com um salto nas menções à PEC, atingindo 100 mil citações no X (antigo Twitter). Esse aumento foi impulsionado por stories no Instagram de Luana Piovani, que criticou a proposta e associou-a a interesses econômicos do jogador Neymar, que havia anunciado um projeto de construções de luxo no litoral nordestino.

Luana repostou um vídeo de uma influenciadora crítica à PEC, atacando Neymar pessoalmente. O jogador respondeu chamando-a de “maluca”.

Dados da Bites mostram que, de 28 de maio a 3 de junho, o Google registrou 674 mil buscas sobre Neymar, contra 103 mil sobre Luana. A PEC mobilizou 9,3 milhões de interações no X, sites, blogs e Instagram. No X, 188 mil perfis participaram do debate, com influenciadores como Gina Indelicada, Choquei, Alfinetei, Hugo Gloss e Felipe Neto destacando-se na campanha contra a PEC.

Enquanto isso, a direita, usualmente articulada nas redes, não se engajou. A consultoria Arquimedes contabilizou 587 mil publicações no X sobre a PEC entre 23 de maio e 5 de junho, com 86,5% sendo críticas. Postagens em defesa da proposta, como as de Flávio Bolsonaro, se concentraram em rebater alegações de privatização, sem apresentar argumentos favoráveis à aprovação.

Flávio Bolsonaro foi o único dos 13 senadores do PL a postar sobre a PEC. Mesmo os representantes na CCJ, como Marcos Rogério (RN), Carlos Portinho (RJ) e Magno Malta (ES), não participaram do debate. Na Câmara, somente Carla Zambelli (PL-SP) repostou um vídeo de Flávio, que alcançou pouco mais de 13 mil visualizações.

Letícia Capone, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, destacou que a briga entre celebridades ajudou a aumentar a projeção nacional da proposta, rompendo a bolha política. David Nemer, professor da Universidade da Virginia, afirmou que a mensagem simples e direta — “privatização das praias” — foi eficaz para a esquerda no debate digital. Ele também apontou a inabilidade digital de Flávio Bolsonaro como um fator que contribuiu para o isolamento e a polarização do debate.

Com informações de O Globo

Fonte: https://agendadopoder.com.br/esquerda-domina-debate-nas-redes-sobre-pec-das-praias-isolando-flavio-bolsonaro/