“Uma verdadeira serial killer”. Foi assim que o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) classificou a estudante de direito Ana Paula Veloso Fernandes, no pedido de prisão preventiva da jovem acusada de quatro homicídios por envenenamento. Entre as vítimas, estão o namorado da suspeita e o proprietário de uma residência onde ela tinha um quarto alugado. No mês passado, Ana Paula foi levada para a penitenciária de Tremembé (SP).
Conhecida como a “prisão dos famosos”, Tremembé já abrigou condenados por crimes de grande repercussão no país, como o casal Nardoni, Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga. Atualmente, o ex-jogador Robinho e o médico Roger Abdelmassih cumprem pena na ala masculina da prisão localizada no interior paulista.
Após a renovação da prisão temporária de Ana Paula, a Justiça decretou a prisão preventiva da suspeita pelos crimes em série com a transferência do distrito policial para a ala feminina de Tremembé. Segundo a denúncia do MP-SP, além de assassinar o dono da residência onde morava e o namorado tunisiano, a suspeita teria envenenado uma pessoa próxima para incriminar um ex-namorado e o pai de uma colega, por causa da promessa de recompensa financeira pelo crime.
As investigações policiais ainda apontam que a suposta serial killer teria o auxílio da irmã gêmea para cometer os assassinatos. A irmã da suspeita também teve a denúncia acatada pela Justiça no final de outubro.
“Os quatro crimes de sangue foram perpetrados mediante recurso que dificultou a defesa dos ofendidos, visto que a denunciada dissimulava suas reais intenções homicidas, valendo-se da relação de amizade e afeto possuída com todos eles para se aproximar e colocar em prática seus planos macabros”, aponta o MP-SP.
De acordo com a denúncia, a suspeita dos crimes em série utilizava drogas ou veneno para matar as vítimas escolhidas, sendo que os investigadores localizaram a substância conhecida como “chumbinho” na residência de Ana Paula.
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Suposta serial killer teria envenenado as vítimas entre janeiro e maio
O Ministério Público de São Paulo afirma que o primeiro assassinato investigado aconteceu em janeiro deste ano, na cidade de Guarulhos (SP), após a suspeita alugar um quarto na residência de Marcelo Hari Fonseca. Conforme a denúncia, Ana Paula colocou drogas e “chumbinho” nos alimentos do proprietário da casa.
“Objetivando se apoderar de modo exclusivo da residência, decidiu eliminar a vida do verdadeiro proprietário, ministrando substâncias letais para ele”, denuncia o MP-SP. As investigações ainda apontam que Ana Paula foi a responsável pela ligação que acionou a polícia para atendimento da ocorrência pelo óbito de Fonseca e se apresentou como inquilina da vítima.
Em abril, o MP-SP afirma que a suspeita teria cometido dois homicídios. O primeiro aconteceu entre os dias 10 e 11, também em Guarulhos, motivado por uma vingança contra o ex-namorado após o rompimento do relacionamento.
De acordo com os promotores do caso, a vítima foi Maria Aparecida Rodrigues, sendo que Ana Paula passou a acusar o ex-namorado pelo crime. “Aproveitando-se da amizade mantida, introduziu em seus alimentos uma das substâncias letais […] Na sequência, com intuito vingativo, passou a imputar o crime à pessoa que, dias antes, havia rompido um relacionamento amoroso”, detalha a denúncia.
No mesmo mês, ela teria recebido a promessa de recompensa para assassinar o pai de uma colega no Rio de Janeiro. O idoso Neil Correa da Silva morreu no final de abril, em Duque de Caxias (RJ), após comer uma feijoada que teria sido envenenada pela suspeita.
“É certo que Ana Paula viajou ao estado do Rio de Janeiro e, aproveitando-se da proximidade que tinha com a filha da vítima, inseriu nos alimentos do terceiro o mesmo veneno por ela costumeiramente utilizado”, acusa a promotoria. O último crime investigado é do tunisiano Hayder Mhazres, namorado da suposta serial killer.
O MP-SP defende que ela começou a ter um relacionamento com o rapaz e passou a alegar que estava grávida. “Por conta disso, manifestou desejo de com ele se casar, o que foi recusado inicialmente pela vítima. Contrariada, e objetivando angariar recursos financeiros de qualquer modo, envenenou também os alimentos de seu novo namorado”, diz a denúncia.
Na sequência, a promotoria afirma que Ana Paula passou a exigir dos familiares do tunisiano que fosse reconhecida como “herdeira” em decorrência da suposta gravidez. A Gazeta do Povo apurou que a defesa da acusada irá contestar o laudo da morte de Mhazres, que foi encaminhado para a Tunísia, país de origem da família da vítima.
Além disso, a causa da morte de Maria Rodrigues também deve ser contestada pelo advogado de defesa, que representa as irmãs. Ana Paula ainda justifica que fez o transporte de “chumbinho” para a casa da colega no estado do Rio de Janeiro porque a propriedade da família da anfitriã estaria infestada por ratos.
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Defesa alega que provas ainda estão sendo examinadas
Procurado pela Gazeta do Povo, o advogado Almir da Silva Sobral respondeu que o procedimento ainda se encontra na fase de inquérito policial, destinado a apurar a existência de indícios de autoria e materialidade. “Neste momento, diligências, perícias e depoimentos estão sendo colhidos de forma unilateral pela autoridade policial. O inquérito, por sua própria natureza, não permite ainda um juízo conclusivo sobre a verdade dos fatos nem a formação de culpa de qualquer pessoa”, declara em nota.
Sobral diz reconhecer a gravidade dos fatos investigados e a comoção social gerada pelo caso de repercussão, mas ressalta que as provas contra a estudante presa em Tremembé ainda estão sendo examinadas. “Não é possível — e seria temerário — afirmar ou negar categoricamente qualquer tese defensiva. A atuação da defesa concentra-se em garantir o devido processo legal, a legalidade da colheita de provas e o acesso pleno aos autos, o que vem ocorrendo regularmente”, enfatiza.
“Reforçamos que não há, neste momento processual, elementos robustos e definitivos que autorizem qualquer conclusão sobre sua participação”, completa o advogado de Ana Paula Veloso Fernandes.
Serial killer é psicopata?
O psiquiatra forense Cleo Coelho esclarece que não é possível considerar que toda pessoa condenada por assassinatos em série seja um psicopata. Para isso, existe a avaliação pericial que produz o laudo sobre cada caso.
“Existem serial killers que têm um desvio grave de personalidade e que cometem crimes recorrentes. Uma minoria pode ser considerada psicopata. Mesmo os considerados psicopatas cometem esses crimes muitas vezes com preservada capacidade de entendimento e autodeterminação”, explica ele à reportagem da Gazeta do Povo.
Segundo Coelho, a avaliação psiquiátrica forense, no contexto criminal, analisa a possibilidade de o homicídio ter sido cometido em função de um transtorno mental. “A perícia criminal, feita por um psiquiatra forense especializado, avalia se existe um transtorno mental e, além disso, se o transtorno mental tem nexo com o crime.”
O psiquiatra forense informou que a maioria dos assassinos em série não cometem os crimes em função de transtorno mental. “A ação em série indica que o indivíduo teve tempo para planejar. Também avaliamos características como a impulsividade, que pode variar entre psicopatas, mas isso não é o único critério”, disse.
Durante o processo, o Ministério Público ou as partes envolvidas podem solicitar a perícia médica para avaliação completa por profissional habilitado para dizer se existe transtorno mental. “A perícia é um ato médico que envolve a avaliação individual e pormenorizada, para elucidar se há transtorno e se este teve correlação direta com o ato ilícito”, enfatiza Coelho.
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Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/estudante-suspeita-serial-killer-envenenamento-tremembe/
