23 de julho de 2025
Exército retira poder dos ‘kids pretos’ e esvazia núcleo ligado
Compartilhe:

O Exército brasileiro reestruturou a cadeia de comando de uma de suas unidades mais sensíveis e emblemáticas: o Batalhão de Operações Psicológicas, conhecido por abrigar os chamados “kids pretos” — grupo treinado para ações de sabotagem e guerra irregular, que ganhou notoriedade durante a investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado associada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A mudança foi oficializada por meio de portaria publicada no Boletim Interno da Força no último dia 10, segundo informa a colunista Carla Araújo, do portal UOL. Assinada pelo comandante do Exército, general Tomás Paiva, a nova diretriz transfere o batalhão de Goiânia, onde funcionava sob o Comando de Operações Especiais, para Brasília, subordinando-o ao Comando Militar do Planalto.

Militares ouvidos pela reportagem afirmam que a decisão visa ampliar o uso estratégico do batalhão por toda a Força, diluindo sua vinculação direta com as forças especiais e, consequentemente, com a imagem construída ao longo dos últimos anos — especialmente durante o governo Bolsonaro.

Da guerra irregular ao Planalto Central

Conhecidos pelo uso de gorros pretos em operações e pelo lema “qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer maneira”, os kids pretos são especialistas em guerra não convencional, incluindo sabotagem, desinformação e insurgência popular. Pelo menos 26 militares vinculados a essa tropa integraram o governo Bolsonaro, entre eles os ex-ministros Luiz Eduardo Ramos, Eduardo Pazuello e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

O próprio Bolsonaro, em seus tempos de oficial do Exército, já teria expressado o desejo de fazer parte da elite operacional. A simbologia do grupo e sua proximidade com quadros do bolsonarismo fortaleceram, nos bastidores, a percepção de que a tropa se tornou um ativo político associado a pautas antidemocráticas.

Com a nova estrutura, a ideia do comando do Exército é nacionalizar o uso do batalhão e reduzir sua centralização no Comando de Operações Especiais, considerado, até então, uma “célula autônoma” com forte influência ideológica.

Distanciamento institucional

A reorganização acontece em meio ao avanço dos processos judiciais contra Jair Bolsonaro e outros militares acusados de envolvimento em uma tentativa de ruptura institucional. O Exército, segundo fontes da cúpula, continua adotando a estratégia de separar responsabilidades individuais (“CPFs”) da imagem da instituição como um todo.

Apesar do desgaste evidente, generais apontam que pesquisas internas mostram sinais de recuperação da confiança da população na força. O comandante Tomás Paiva tem reforçado, inclusive, que a situação entre os militares da ativa está “cada vez mais controlada”, embora reconheça que parte da reserva ainda atue como vetor de radicalização.

O momento é visto como crítico para reconstruir a credibilidade do Exército, especialmente diante das recentes medidas impostas ao ex-presidente, como o uso de tornozeleira eletrônica. A ordem no Alto Comando é clara: evitar qualquer associação com discursos ou manifestações que defendam intervenções militares.

“Não vamos dar exposição e nem ouvidos a esses malucos”, disse uma fonte de alta patente, referindo-se a parlamentares e aliados de Bolsonaro que continuam promovendo teses golpistas. A diretriz informal é silenciar diante dessas provocações e evitar qualquer tipo de palco que possa reacender vínculos entre o Exército e movimentos antidemocráticos.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/exercito-retira-poder-dos-kids-pretos-e-esvazia-nucleo-ligado-a-ex-integrantes-do-governo-bolsonaro/