
O Supremo Tribunal Federal (STF) dará início nesta terça-feira (2) ao julgamento que pode levar Jair Bolsonaro a cumprir pena em regime fechado. A decisão, marcada para se estender até 12 de setembro, não terá impacto apenas no campo jurídico. A batalha digital já está em curso, e apoiadores do ex-presidente se articulam para transformar as sessões em combustível político, informa a Folha de S. Paulo.
Mobilização digital coordenada
Dados da empresa Palver, que monitora em tempo real mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram, revelam a dimensão da movimentação: entre 25 e 31 de agosto, circularam em média 700 menções ao julgamento a cada 100 mil mensagens trocadas. O pico ocorreu em 24 de agosto, após a invasão da casa da mãe e dos avós de Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro.
O levantamento mostra ainda que 28% dessas mensagens apresentam indícios de encaminhamento em massa, sinal de ação organizada e não apenas espontânea.
Três narrativas principais
O ambiente digital da direita se estrutura em torno de três grandes linhas de ataque. A primeira, presente em 21% das mensagens, mira o próprio STF, retratado como ator político e parcial.
A segunda busca internacionalizar o conflito: 19,7% das citações fazem referência aos Estados Unidos, ao governo Donald Trump e à Lei Magnitsky.
Já a terceira, em 14,9% das conversas, trata da possível prisão de Bolsonaro, apresentada como prova de “lawfare” e perseguição judicial.
Expressões como “censura” e “ditadura da toga” reforçam a narrativa de vitimização, amplamente disseminada por um ecossistema de influenciadores.
Articulação internacional
Eduardo Bolsonaro tem papel central nesse processo. Responsável por 11,5% das menções rastreadas, atua como ponte em Washington, tentando projetar o destino político do pai como questão internacional. Ao seu lado, Paulo Figueiredo Filho reforça a retórica de sanções contra autoridades brasileiras e vincula a negociação tarifária dos EUA ao andamento de projetos de interesse do bolsonarismo, como a anistia e a rejeição ao PL 2628.
Outro nome frequente é Jason Miller, estrategista político e conselheiro de Donald Trump. Ele associa a agenda bolsonarista ao trumpismo e sugere que a Casa Branca acompanha de perto o julgamento, alimentando expectativas de que os EUA possam intervir caso Bolsonaro seja condenado.
Influenciadores e radicalização
No campo mais radical, Allan dos Santos tenta reconstruir sua presença digital mesmo após sucessivos bloqueios. Sua conta mais recente no Instagram registrou o maior crescimento entre influenciadores de direita nos últimos 90 dias, superando até nomes como Nikolas Ferreira e o próprio Eduardo Bolsonaro.
Para públicos mais amplos, o jornalista Alexandre Garcia cumpre o papel de “tradutor” das mensagens bolsonaristas. Em vídeos curtos, facilmente compartilhados em grupos de WhatsApp, ele suaviza e amplia o alcance das narrativas que circulam em meios mais ideológicos.
Expectativa até setembro
Com a decisão prevista apenas para o dia 12, a tendência é que as redes sociais permaneçam em ebulição durante todo o período do julgamento. O bolsonarismo deve intensificar a disseminação de suas linhas de discurso, sobretudo se houver cortes que reforcem a tese de perseguição. A expectativa é de que a narrativa ganhe ainda mais força caso o governo Trump adote medidas tarifárias ou faça declarações oficiais durante as sessões.
O julgamento do STF, portanto, não será apenas uma disputa nos tribunais, mas também uma batalha por narrativas, travada em escala global e alimentada diariamente pelas redes sociais.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/extrema-direita-organiza-ofensiva-digital-diante-do-julgamento-de-bolsonaro-entenda/