1 de outubro de 2024
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O leve crescimento da candidata do PSB à prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral, que oscilou dois pontos para cima na última pesquisa Quaest divulgada, reforçou uma análise que vinha sendo feita nos bastidores nas equipes de campanha de Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB) e até de Ricardo Nunes (MDB) a respeito do “fator Tabata” na definição do segundo turno na capital paulista.

Segundo a colunista Malu Gaspar, do jornal O GLOBO, Tabata aparece com 11% das intenções de voto na pesquisa divulgada nesta segunda (30/09) – eram 8% na semana passada. Nunes tem 24%, Boulos, 23% e Marçal, 21%, o que configura empate técnico, já que a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Desde a semana passada, os estrategistas de campanha de Boulos vinham contando com uma “desidratação” da candidatura de Tabata, com a migração dos votos dela para o psolista em um movimento para tentar impedir a ida de Marçal para o segundo turno. Até agora, pelo menos, não foi o que ocorreu.

Embora as pesquisas mostrem que a candidata do PSB não tem chances de ir para o segundo turno, elas também indicam que Tabata é resiliente. Não perdeu votos e ainda ganhou uns poucos pontos – o que pode prejudicar Boulos caso a disputa entre ele e Marçal pela vaga seja muito apertada.

Pelo menos uma das campanhas já havia previsto esse cenário, depois de constatar que a candidata sempre tem boa avaliação nas sondagens internas sobre o desempenho nos debates eleitorais.

“Ela sempre vai bem nos debates e ganha alguns votos, o que pode fazer a diferença para Boulos e Marçal”, disse sob reserva um dos marqueteiros.

A julgar pelo comportamento de Pablo Marçal no debate do UOL/Folha, na última segunda-feira, ele também julgou que poderia “morder” parte das intenções de voto de Tabata para tirar sua candidatura da estagnação nas pesquisas.

Embora tenha concentrado sua artilharia contra Ricardo Nunes, Marçal dedicou parte de seus ataques a Tabata – o que ele ainda não tinha feito. Nos nova debates anteriores, Marçal ou ignorou Tabata ou se limitou a respondê-la. Desta vez, foi diferente.

De olho no voto feminino, o ex-coach chegou a afirmar que convidaria Tabata para assumir a Secretaria de Educação em um eventual governo Marçal desde que a rival deixasse seu “esquerdismo e esse partido [PSB]”. Mas também comparou a candidata a uma “tia do colégio” e disse que ela não tinha experiência de vida suficiente.

Ao final, acabou produzindo uma frase que pesou contra ele, ao dizer que “a mulher não vota em mulher porque é inteligente” e que, por isso, a candidata patina nas pesquisas. A rejeição de Marçal entre mulheres é de 53%, bem à frente do mesmo índice entre homens (42%).

Tabata concorre em uma chapa puro-sangue do PSB, partido de centro-esquerda. É nesse campo que a deputada disputa eleitores que estão na mira de Boulos.

Uma eventual e muito pouco provável perda de votos do candidato de Lula não seria suficiente para levar o PSB para o segundo turno, mas pode ser determinante para que o PSOL fique de fora do segundo turno. Essa possibilidade mobilizou artistas e intelectuais que divulgaram nesta segunda-feira uma carta em defesa do voto útil em Boulos para evitar “o desfecho trágico de um segundo turno entre dois bolsonaristas”.

Outro grupo de economistas, artistas e intelectuais também divulgou um manifesto a favor de Tabata Amaral. O texto destaca qualidades da candidata e critica a tese do voto útil ao defender que o eleitor decida seu voto com base nas propostas, e não em “supostos cálculos de conveniência”

Antes de oficializar sua chapa, Tabata também negociou uma aliança com o PSDB, que acabou lançando o apresentador José Luiz Datena, de olho no eleitorado que historicamente votou em tucanos na cidade mas tem ressalvas com a aproximação de Nunes – vice de Bruno Covas na eleição de 2020 – com Jair Bolsonaro. A candidata tem feito acenos a esse eleitorado e pode roubar votos de Nunes nesse segmento.

O “fator Tabata” deve guiar a estratégia do primeiro pelotão de candidatos na reta final. Com apenas mais três dias de campanha e ainda na condição de empate técnico, qualquer voto a mais é bem-vindo – e é dela que os três primeiros vão tentar tirar os eleitores de que precisam para garantir uma chegada confortável ao segundo turno.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/fator-tabata-desafia-campanhas-de-boulos-marcal-e-nunes-na-reta-final/