17 de dezembro de 2025
Entrada de Flávio redesenha cenário para Ratinho Junior em 2026
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A indicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como possível candidato à Presidência da República passou a redesenhar o tabuleiro político da direita e do Centrão. A movimentação afastou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), do posto de escolhido da centro-direita para 2026 e colocou o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), como a principal alternativa para furar a polarização das últimas eleições presidenciais.

No entanto, a pesquisa Quaest divulgada nesta terça-feira (16) aponta que os partidos que articulam uma “terceira via” terão dificuldades para viabilizar um nome como opção entre Lula e o filho escolhido por Bolsonaro. No primeiro levantamento após o anúncio da pré-candidatura, Flávio assumiu a posição de principal opositor de Lula em cenários estimulados de primeiro turno. No cenário de segundo turno, Flávio, Tarcísio e Ratinho Jr. são derrotados por Lula com 10 pontos percentuais de vantagem nas três simulações feitas pelo instituto de pesquisa.

O governador paranaense é visto como a melhor alternativa pelos partidos de centro que não demonstram disposição para embarcar em uma candidatura liderada diretamente pela família Bolsonaro. A seu favor, contam o pensamento econômico liberal e os resultados apresentados no Paraná, o que agrada o empresariado e a Faria Lima. Além disso, o PSD tem a liderança do presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, que possui alta habilidade de articulação política e transita por todos os espectros ideológicos.

A estratégia de Kassab é lançar Ratinho Junior ou Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, caso Tarcísio permaneça com o projeto de reeleição ao governo do estado de São Paulo. Governador mais próximo de Jair Bolsonaro, o chefe do Executivo paulista condiciona o plano nacional ao aval do ex-presidente da República, o que ficou mais longe com a indicação do filho 01.

Para o cientista político Ariel Calmon, coordenador de Relações Governamentais com Estados e Municípios na BMJ Consultores Associados, a postura do PSD é coerente com a estratégia histórica da legenda. “A ideia do PSD está muito mais relacionada a uma possibilidade de negociação do que necessariamente assumir o Executivo e o poder”, comenta. “Kassab pode lançar o Ratinho Junior e dizer: bom, eu retiro ele e ofereço apoio se você conceder uma série de ministérios ou espaços”, exemplifica.

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Caciques da centro-direita se posicionam favoráveis ao projeto nacional de Ratinho Junior em 2026

Além de Kassab, outro cacique político que defende a candidatura de Ratinho Junior como alternativa na centro-direita é o presidente nacional do Progressistas, o senador Ciro Nogueira. Ele esteve em Curitiba na semana passada, onde se reuniu com o diretório estadual e acatou a posição do PP do Paraná de vetar a pré-candidatura de Sergio Moro (União Brasil) ao governo paranaense.

O PP e o União Brasil aguardam a homologação da maior federação do país, o União Progressista, para as eleições de 2026. A decisão do PP é considerada estratégica no projeto de Ratinho Junior fazer um sucessor no Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná. Além disso, Nogueira já deu declarações públicas em defesa de uma pré-candidatura de centro-direita encabeçada por Tarcísio ou Ratinho Junior.

Quem também visitou a capital paranaense na mesma semana foi a presidente nacional do Podemos, a deputada federal Renata Abreu, que participou do evento que marca a troca de comando da sigla no Paraná. A presidente do Podemos afirmou que o partido vai apoiar o candidato escolhido por Ratinho Junior para concorrer ao governo e disse que pode apoiar o projeto nacional do pré-candidato a presidente da República pelo PSD.

Apesar dos acenos, o governador do Paraná mantém a cautela e prefere não comentar a possibilidade de concorrer ao Planalto. Questionado pela Gazeta do Povo se a entrada de Flávio Bolsonaro no cenário eleitoral reforça seu nome na centro-direita, Ratinho Junior adotou a mesma postura e não se colocou entre os principais cotados.

“Mais importante que apresentar nome é apresentar um projeto. O brasileiro não está atrás de nome, mas do projeto de um país moderno. Eu quero, como cidadão e homem público, colaborar para que a gente apresente um bom projeto para o Brasil. Isso não significa que eu vou ser candidato. Lá na frente meu partido vai decidir o que fazer”, respondeu.

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Governadores confirmam pré-candidaturas após anúncio de Flávio Bolsonaro

A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro reforçou a centralidade da família Bolsonaro em torno de si mesma, confirmando que o ex-presidente não transferirá o capital político para alguém de fora do clã.

Após o anúncio do nome de Flávio, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), declarou que só abriria mão da candidatura, caso Tarcísio fosse o nome escolhido por Jair Bolsonaro. O governador Romeu Zema (Novo), por sua vez, continua como pré-candidato à presidência da República após a pré-candidatura de Flávio e deixou clara a preferência por disputar como cabeça de chapa.

Nos bastidores, no entanto, tenta-se costurar uma chapa em que Zema entraria como vice, principalmente de Ratinho Junior. O arranjo seria positivo tanto para o partido Novo, que é uma legenda pequena e com poucos cargos pelo país, quanto para o próprio Ratinho Junior, tendo em vista que Zema carrega com ele o eleitorado de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo.

“Tem aquela máxima que diz que quem ganha em Minas Gerais, ganha a eleição, e é justamente por isso que Romeu Zema busca esse protagonismo. Ele usa o fato de Minas Gerais ser esse estado importante”, ressalta o cientista político Ariel Calmon.

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Tarcísio se afasta da equação presidencial em 2026, enquanto Ratinho Junior é cotado pela centro-direita

Enquanto Ratinho Junior passa a ser considerado como alternativa para 2026, Tarcísio de Freitas se afasta ainda mais do cenário presidencial. Desde o anúncio da escolha de Flávio Bolsonaro, Tarcísio se mantém em silêncio sobre a possibilidade de disputar o Planalto. Ao comentar a escolha do padrinho político, o governador de São Paulo afirmou que Flávio terá seu apoio na corrida presidencial do próximo ano.

Apesar da preferência de Tarcísio por disputar a reeleição ao governo, ele permanece fiel e à disposição de Bolsonaro. Se o jogo mudar, Flávio abrir mão da disputa e o ex-presidente escolher Tarcísio, o governador paulista disputará à Presidência da República.

Para Tarcísio, o Palácio do Planalto não é a primeira opção. Ele corre riscos ao se colocar como presidenciável, especialmente pela possibilidade de enfraquecer a base eleitoral em São Paulo.

“Ainda é muito arriscado se colocar como nome à Presidência, porque ele vai se distanciando da fidelidade do eleitor de São Paulo. Ele tem muito capital no estado e, à medida que o tempo vai passando e ele deixa de afirmar que é um candidato em São Paulo, ele vai se enfraquecendo à reeleição”, avaliou Calmon.

Além disso, o Republicanos, partido de Tarcísio, não demonstra disposição para expor o governador a um risco elevado. A avaliação interna é que manter influência no maior colégio eleitoral do país é mais estratégico do que lançar uma candidatura presidencial, sem garantias de sustentação política.

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“Preço” colocado por Flávio pegou mal entre partidos do Centrão

Se por um lado o nome de Ratinho Junior agrada aos partidos do Centrão, por outro Flávio Bolsonaro enfrentará dificuldades para dialogar com a ala. Por mais que Flávio seja visto como o mais moderado dos filhos de Bolsonaro, o sobrenome carrega a rejeição de parte do eleitorado.

Além disso, a forma como Flávio apresentou a disposição para disputar a Presidência gerou ruídos imediatos no meio político. “Primeiro, Flávio fez um anúncio muito concreto sobre seu nome para a Presidência, mas depois ele veio a público dizer que tinha um preço. Ele poderia ter dito que tinha uma condição, mas a palavra preço pegou muito mal”, opina Calmon.

A avaliação é que esse movimento acendeu alertas no Centrão sobre a real viabilidade da candidatura. Além disso, a tramitação de pautas sensíveis no Congresso Nacional, como o projeto sobre dosimetria das penas e a discussão sobre anistia, passou a ser observada como parte do cálculo político do clã Bolsonaro.

*Colaborou Natália Peres, especial para a Gazeta do Povo, em Foz do Iguaçu.

Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/flavio-bolsonaro-ratinho-junior-centro-direita-2026/