15 de março de 2025
Galinhas se estressam com calor extremo e preço dos ovos
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O aumento da demanda, aliado à redução da oferta no mercado interno, tem pressionado os preços dos ovos no Brasil neste início de ano. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), até 14 de fevereiro, o preço médio da caixa com 30 dúzias de ovos extra branco em Bastos, um dos principais polos produtores de São Paulo, chegou a R$ 194,16 no atacado, registrando alta de 36,5% em relação a janeiro e de 17,4% na comparação com o mesmo período de 2024.

Mas o que explica essa disparada? O ovo costuma encarecer em momentos de aumento nos preços das carnes, quando os consumidores optam por uma proteína mais barata. Além disso, o volume de vendas — e, portanto, os preços — deve continuar elevado até a Quaresma, quando tradicionalmente o consumo de ovos aumenta em substituição à carne, por conta dos preceitos religiosos do período.

Especialistas citam ainda um outro fator: o calorão.

— Janeiro foi o mês mais quente da história. O aumento de temperatura estressa o animal. Quando a temperatura vai acima de 28º, a produção é bastante afetada. Além disso, as regiões que mais produzem ovos estão no interior do estado de São Paulo, onde a temperatura ultrapassou 30º — afirma o economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Felipe Queiroz.

A Apas calcula que houve aumento de 2,65% nos preços de ovos em janeiro de 2025. No acumulado em doze meses, os ovos variaram 4,01%.

Este ano foi o mais quente já registrado, e grandes áreas do mundo já suportaram temperaturas escaldantes antes do início do verão no Hemisfério Horte

A pesquisadora Claudia Scarpelin, da Esalq/USP, diz que a baixa oferta no mercado interno tem pressionado o preço dos ovos. Além disso, a demanda tem aumentado gradualmente, impulsionada pelo retorno das aulas, já que o ovo é amplamente consumido nas merendas escolares.

Outro fator é externo, com origem nos Estados Unidos, onde o preço dos ovos cresceu expressivamente por conta da gripe aviária, que matou milhões de galinhas no país. A escassez do produto pode ser percebida nos supermercados americanos, que estão com as prateleiras vazias. Isso fez com que algumas famílias resolvessem criar suas próprias galinhas em casa.

— Os preços nos Estados Unidos subiram mais de 15% em janeiro na comparação com o mês anterior (o maior avanço desde 2015) e 55% em relação ao ano anterior, de acordo com um relatório do US Bureau of Labor Statistics, divulgado na semana passada. O salto ajudou a puxar a inflação americana para o maior patamar desde agosto de 2023 — diz Scarpelin.

Em janeiro deste ano, diz a pesquisadora, os Estados Unidos importaram 62% mais ovos brasileiros, subindo da 6ª para a 3ª posição no ranking dos principais compradores do produto em comparação a dezembro de 2024.

Outros dados, da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), mostram que as exportações brasileiras de ovos (entre in natura e processados) somaram 2.054 toneladas em dezembro, um crescimento de 116,8% em relação ao mesmo mês de 2023.

— Caso a situação nos Estados Unidos se prolongue e o país continue aumentando suas importações de ovos brasileiros de forma consistente, isso pode impactar a oferta doméstica, influenciando os preços. Para que isso aconteça, no entanto, o volume importado precisaria continuar crescendo consideravelmente.

Esse aumento nos preços do atacado, no entanto, ainda não aparece nos supermercados. Dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostram que o valor cobrado nos ovos cresceu 4,53% nos últimos 12 meses até dezembro.

Nos próximos meses, segundo Queiroz, haverá um aumento de preços mais expressivo nas gôndolas, com a nova regulamentação da venda de ovos, que começa a valer no dia 4 de março. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) determinou que os ovos destinados ao consumo devem ter data de validade carimbada na casca.

Segundo o economista, isso torna o processo mais trabalhoso e manual, com investimentos em tecnologia. Houve também um aumento nos preços da ração animal, o que aumenta ainda mais os custos ao produtor.

O economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) André Braz, diz que, além da quaresma, momento em que muitas famílias evitam consumir carne vermelha, outro fator importante no preço é a preparação das falinhas para o inverno, que reduzem sua produtividade temporariamente.

Ele avalia que a continuidade do aumento de preços vai depender do mercado:

— O Brasil é um grande exportador de ovos. E os ovos são um dos grandes vilões da inflação americana. Na medida em que você exporta e desabastece o mercado brasileiro, o preço sobe.

Com informações de O GLOBO.

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Fonte: https://agendadopoder.com.br/galinhas-se-estressam-com-calor-extremo-e-preco-dos-ovos-dispara-ainda-mais-entenda/