
Um encontro reservado no início da semana entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e lideranças do PL revelou os bastidores da crise diplomática envolvendo o Judiciário brasileiro e o governo dos Estados Unidos, informa a coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo. A reunião, que teve como pauta central a possibilidade de aplicação da Lei Magnitsky contra ministros da Corte, terminou em clima de forte tensão e sem qualquer sinal de trégua.
A reunião, revelada nesta quinta-feira (31) pela CNN Brasil, ocorreu durante um café da manhã na residência do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, atual presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF). O encontro, que deveria ter sido mantido em sigilo, reuniu o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), o senador Rogério Marinho (PL-RN) e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto.
Segundo dois participantes da conversa, foi Maia quem articulou a reunião com o objetivo de promover um diálogo entre as partes diante da escalada da crise. O saldo, no entanto, foi descrito como “muito ruim”.
Durante o encontro, Gilmar Mendes questionou os bolsonaristas sobre a real possibilidade de sanções da Lei Magnitsky atingirem ministros do Supremo. Dois dias depois, o governo de Donald Trump confirmou a inclusão de Alexandre de Moraes na lista de alvos da legislação estadunidense, que ficou conhecida como “pena de morte financeira”.
De acordo com os relatos, os parlamentares do PL afirmaram que a sanção contra Moraes era esperada, mas que, inicialmente, atingiria apenas ele. Não descartaram, no entanto, que outros ministros também pudessem ser alvo das medidas em um segundo momento.
Em resposta, Gilmar afirmou que, caso isso ocorra, o STF poderia reagir com medidas próprias, como impedir que bancos brasileiros acatem bloqueios de contas determinados por autoridades estrangeiras.
A reunião esquentou ainda mais quando os representantes do PL afirmaram que as sanções e o tarifaço poderiam “escalar” caso o Supremo não revisse suas decisões, sugerindo, por exemplo, que os processos dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro fossem remetidos para instâncias inferiores do Judiciário. A proposta foi prontamente rechaçada por Gilmar Mendes.
O ministro foi enfático ao afirmar que não há qualquer chance de o Supremo recuar de suas posições. Segundo ele, a única forma de encerrar a crise seria se os próprios bolsonaristas “desfaçam a grande confusão” que criaram ao provocar o governo Trump contra o Brasil e o STF. Os interlocutores, por sua vez, negaram qualquer influência sobre as decisões do presidente estadunidense.
Apesar da dura troca de opiniões, as partes sinalizaram que o canal de diálogo não está totalmente fechado. No dia seguinte ao encontro, o assessor e advogado de Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, telefonou para Gilmar Mendes e se ofereceu como uma “ponte” para tentar amenizar as tensões. A conversa, no entanto, não resultou em avanços.
O impasse evidencia o grau de deterioração na relação entre o bolsonarismo e o Supremo Tribunal Federal. A ofensiva internacional liderada por aliados de Jair Bolsonaro contra ministros da Corte, agora chancelada por sanções formais dos Estados Unidos, abre um novo e delicado capítulo nas disputas entre os Poderes — desta vez, com repercussões diplomáticas.
Com poucas chances de pacificação à vista, a guerra entre o trumpismo e o STF parece longe de um desfecho e promete novas rodadas de confronto nos próximos meses.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/gilmar-mendes-enfrenta-lideres-do-pl-em-reuniao-marcada-por-tensao-sobre-sancoes-dos-eua/