Impulsionada pela força do agronegócio, Goiânia converte riqueza rural em sofisticação urbana: ergue torres de alto padrão, recebe as maiores maisons do planeta e vê o céu rasgado por jatos executivos, que decolam de fazendas milionárias. Entre o cheiro de terra molhada e o brilho da metrópole, a capital do estado de Goiás criou sua leitura do que é luxo — assumindo o papel de vitrine de um Brasil que colhe no campo e desfila na cidade.
Goiânia deixou de ser apenas a capital mais populosa e de maior PIB do Centro-Oeste — desconsiderando Brasília — para assumir um papel mais amplo: o de polo comercial e de serviços que dita o ritmo econômico da região. A força do agronegócio, que ampliou renda e atraiu gente, impulsiona uma cidade que cresce em velocidade própria. No meio desse avanço, o mercado imobiliário se tornou o principal termômetro do agroluxo.
“O pessoal do agronegócio investe muito em imóveis. Goiânia se tornou uma capital muito segura. O metro quadrado é muito valorizado na cidade hoje. Uma casa em um condomínio horizontal fechado pode chegar até R$ 15 milhões. A cidade é um polo universitário e os empresários do agro compram apartamentos para os filhos, em áreas nobres, para que saiam das propriedades rurais e fiquem mais perto dos estudos”, afirma Geraldo Dias, presidente do Sindicato dos Corretores de Imoveis no Estado de Goias (Sindimoveis-GO).
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A cidade também criou um traço visual reconhecível. Virou meme, mas não por acaso: a chamada “arquitetura greco-goiana”, marcada por colunas, frontões neoclássicos e portas monumentais, sintetiza o imaginário de prosperidade que ganhou espaço nas ruas — e nas timelines das redes sociais.
Entre os primeiros semestres de 2024 e 2025, o valor das unidades vendidas subiu 21%, segundo a Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO). No primeiro semestre de 2025, os imóveis movimentaram R$ 4,1 bilhões, somando apartamentos, salas comerciais e casas prontas. Um salto considerável frente aos quase R$ 3,4 bilhões do mesmo período de 2024, que já era o maior volume da série histórica em 15 anos.
Para Credson Batista, diretor de pesquisas da entidade, o marco não é trivial. “Encerramos 2024 com um recorde histórico de R$ 8,2 bilhões e com um segundo semestre muito forte. Este ano já acumulamos R$ 4,1 bilhões — só em unidades residenciais vendemos, no primeiro semestre, o equivalente ao total de imóveis de todos os tipos vendidos no mesmo período de 2024”, explica.
O desempenho sustenta Goiânia no pódio nacional. A capital foi a terceira que mais vendeu apartamentos no primeiro semestre de 2025, com R$ 3,4 bilhões apenas em residenciais. “É o terceiro ano seguido atrás somente de São Paulo e Rio de Janeiro, cidades muito maiores. Permanecer nessa posição mostra consistência e força do setor”, comenta Credson.
Capital revela um luxo que nasce no Cerrado e redefine a ideia de riqueza no Brasil. (Foto: Lucas Kasane/Ademi)Marcas de luxo disputam vitrines em shoppings de Goiânia
Goiânia abriga marcas que até pouco tempo pareciam improváveis. Gucci e Louis Vuitton estão no shopping Flamboyant, que também recebeu, em 2024, a maior boutique da Chanel no Brasil. Para José Torres, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Goiânia, esse salto simboliza uma mudança mais profunda.
“Goiânia deixou de ser aquela roça que se dizia antes. Hoje, nossos shoppings têm algumas das melhores marcas do mundo. O poder aquisitivo crescente atrai essas casas e mostra a vitalidade do comércio. Temos restaurantes internacionais, condomínios horizontais de luxo, prédios de alto padrão e até uma unidade do hospital Albert Einstein. Tudo aponta para um ciclo econômico muito robusto”, afirma.
Luxo em Goiânia: jatinhos ocupam o céu da capital (Foto: David Spurdens/Líder Aviação)O agroluxo decolou: vai-e-vem de jatinhos expõe força econômica
Outra vitrine desse movimento está nos céus. Com 15% dos jatos do país, o Centro-Oeste — e, cada vez mais, Goiânia — vive uma expansão acelerada na aviação executiva, apontam dados da Associação Brasileira de Aviação Geral (ABAG).
“Empresários e produtores valorizam escolher horários, rotas e destinos. A aviação executiva entrega exatamente isso”, diz Bruna Assumpção, diretora superintendente da Líder Aviação. “Na prática, significa decolar de um aeródromo próximo à fazenda, à unidade de produção ou à sede da empresa e pousar em lugares sem voos regulares”, explica.
Segundo ela, cresce também o perfil de passageiros que combinam compromissos profissionais e familiares em um único itinerário — algo mais difícil na aviação comercial. Hoje, 22 jatos e turboélices certificados para táxi aéreo estão baseados em Goiânia e podem ser fretados pela plataforma Flapper, cuja lógica lembra a de um “motorista de aplicativo dos ares”. Angra dos Reis, Búzios e Trancoso despontam como destinos favoritos.
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No asfalto, o retrato é semelhante com esportivos de alto desempenho em exposição nas garagens de Goiânia. Na One Boss, concessionária especializada em luxo, Marcelo Medeiros atende clientes interessados em carros cotados em até R$ 8 milhões.
“Temos encontros com ferraris e lamborghinis. Participo do clube da porsche que reúne de 50 a 60 pessoas semanalmente”, conta. A loja opera com o lema “a vida é curta demais para dirigir carros sem graça” e reúne desde clássicos, como o Dodge Dart 1975 (R$ 189,9 mil), até modelos raros que passam dos milhões. O catálogo inclui um Lamborghini Gallardo 2011 por R$ 1,4 milhão e um Dodge Viper 2013 avaliado em R$ 3 milhões.
Supermáquinas desfilam pelas avenidas da capital. (Foto: Marcelo Medeiros/Oneboss)Goiânia vive expansão na sofisticação, na economia e na segurança
Entre 2002 e 2023, o Centro-Oeste teve a maior taxa média anual de crescimento do PIB entre todas as regiões brasileiras: 3,4%. Todos os estados superaram a média nacional de 2,2%.
O mesmo acontece no campo demográfico. O Censo 2022 mostrou que o Centro-Oeste teve o maior avanço populacional desde 2010, puxado pelo eixo Brasília–Goiânia, hoje um dos mais densos do país.
Na segurança pública, Goiânia também registra avanços. Em 2024, teve a sexta menor taxa de mortes violentas entre as capitais brasileiras, com 14,9 por 100 mil habitantes. No roubo e furto de celulares, porém, ocupa a 24ª posição, atrás dos grandes centros.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/goiania-vira-capital-do-agroluxo-com-porsches-ferraris-e-jatinhos/
