
Ao denunciar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas pela trama golpista, a Procuradoria-Geral da República (PGR) dividiu os fatos em cinco diferentes peças acusatórias, o chamado “fatiamento” da denúncia. A opção pela divisão da acusação em diferentes núcleos faz parte de uma estratégia adotada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, na tentativa de facilitar a condução dos processos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro é acusado de cinco crimes: liderar organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Com o fatiamento da denúncia, a expectativa no STF é que ao menos até o final do ano o julgamento envolvendo Bolsonaro pela Primeira Turma do Supremo seja concluído, evitando que o caso siga para 2026, ano eleitoral.
“Núcleo duro”
Uma das peças encaminhadas por Gonet aponta que a organização para executar a trama golpista tinha como líderes o então presidente da República e o seu candidato a vice-presidente, Braga Netto, que constituíam o “núcleo crucial”. Este grupo era composto por integrantes do alto escalão do governo federal e das Forças Armadas. A PGR afirma que deste grupo partiram as principais decisões e ações de impacto social, e que Mauro Cid, “embora com menor autonomia decisória, também fazia parte desse núcleo, atuando como porta-voz de Bolsonaro”.
“Núcleo de gerenciamento de ações”
Este grupo tinha como objetivo coordenar o emprego das forças policiais ou militares para executar as operações elaboradas pelo núcleo político. Alguns integrantes eram o ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques e o ex-assessor para Assuntos Internacionais Filipe Martins. Segundo a PGR, essas pessoas “coordenaram o emprego das forças policiais para sustentar a permanência ilegítima” de Bolsonaro no poder. De acordo com a denúncia, Mário Fernandes MARIO FERNANDES ficou responsável por coordenar as ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas, “além de realizar a interlocução com as lideranças populares” ligadas ao 8 de janeiro.
“Núcleo operacional”
Era o núcleo responsável por ações coercitivas e era integrado por militares como o general Estevam Theophilo. Segundo a PGR, essas ações foram executadas por membros das forças de segurança pública “que se alinharam ao plano antidemocrático. De acordo com a denúncia, Estevam Teophilo, como Comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter), aceitou coordenar o emprego das forças terrestres “conforme as diretrizes do grupo”. Também segundo a denúncia, Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Wladimir Matos Soares “lideraram ações de campo voltadas ao monitoramento e neutralização de autoridades públicas”.
A PGR ainda diz que os especialistas Bernardo Romão, Cleverson Magalhães, Fabrício Moreira de Bastos, Márcio Nunes de Resende Júnior, Nilton Diniz Rodrigues, Sérgio Cavaliere e Ronald Ferreira de Araújo Júnior também participavam e “promoveram ações táticas para convencer e pressionar o Alto Comando do Exército a ultimar o golpe”.
“Núcleo de desinformação”
Este núcleo atuou na propagação de notícias falsas e tinha como integrantes, por exemplo, os militares Ailton Barros e Angelo Denicoli. Segundo a PGR, esse grupo propagava “notícias falsas sobre o processo eleitoral e realizaram ataques virtuais a instituições e autoridades que ameaçavam os interesses do grupo. Todos estavam cientes do plano maior da organização e da eficácia de suas ações para a promoção de instabilidade social e consumação da ruptura institucional”.
Participação de influenciador
Uma peça é dedicada à participação do influenciador Paulo Figueiredo Filho, que, segundo a acusação, atuou para atacar a credibilidade das urnas e pressionar militares a aderirem à trama golpista.
Com informações de O Globo
Fonte: https://agendadopoder.com.br/gonet-divide-a-denuncia-contra-bolsonaro-e-outros-acusados-em-cinco-pecas-veja-como-operaram-na-trama-golpista/