13 de julho de 2025
Governo Lula prepara novo slogan e aposta em discurso contra
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Um ano e três meses após o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo federal se prepara para aposentar o slogan “União e Reconstrução”. A decisão marca uma mudança na estratégia de comunicação do Planalto, que pretende se distanciar da imagem associada ao Centrão e reposicionar sua narrativa em torno de temas como justiça social, combate aos privilégios e valorização do trabalho.

A troca de slogan foi acelerada após o desgaste gerado pela tentativa frustrada de aumentar as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), medida barrada por partidos aliados no Congresso. O episódio evidenciou a fragilidade da coalizão do governo e levou o Planalto a buscar uma identidade mais clara e combativa diante do eleitorado.

A nova campanha institucional vai centrar foco na mensagem de que a manutenção de privilégios é o maior entrave ao desenvolvimento coletivo. Em vez de reforçar o antagonismo entre ricos e pobres, a proposta é mostrar que os programas sociais e de crédito também beneficiam a classe média. Ministros têm repetido, por orientação da Secretaria de Comunicação Social (Secom), que “o principal adversário do Brasil é o sistema de desigualdade montado para favorecer 1% da população contra os outros 99%”.

A reformulação tem a assinatura do publicitário Sidônio Palmeira, ministro-chefe da Secom desde janeiro. Responsável por coordenar a comunicação institucional do governo, Sidônio tem enfrentado desafios para reverter o desgaste da imagem do presidente. Pesquisas internas indicam perda de apoio até mesmo no Nordeste e entre eleitores de baixa renda, tradicionalmente fiéis ao PT. “Eu vim aqui para fazer um doutorado. Estou ministro hoje e amanhã posso não estar. Não tenho interesse político”, disse o ministro em entrevista recente.

Desde que assumiu o cargo, Sidônio já enfrentou pelo menos 12 crises de comunicação, que vão desde rumores sobre taxação do Pix até reações a declarações de ministros e ataques nas redes sociais. Uma das campanhas recentes mais bem recebidas foi a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, apelidada internamente de “BBB” — referência à taxação de Bilionários, Bancos e Apostas.

O vice-presidente Geraldo Alckmin, também titular da pasta da Indústria e Comércio, tem elogiado o trabalho de Sidônio. “A comunicação é sempre um desafio, mas o Sidônio tem experiência, sensibilidade e vai avançar mais ainda”, declarou.

Apesar disso, a atuação da Secom provocou atritos com o Congresso Nacional. Publicações feitas por perfis ligados ao governo criticando parlamentares e se referindo ao Legislativo como “Congresso da mamata” geraram incômodo entre deputados da base e da oposição, especialmente o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O ministro foi convocado para prestar esclarecimentos, mas conseguiu adiar sua ida ao plenário para agosto.

Até lá, a expectativa é que o novo slogan já esteja nas ruas e nas campanhas oficiais do governo. A nova mensagem deve ter um tom nacionalista, reforçado após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros. A justificativa de Trump foi o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe, o que provocou forte reação do governo brasileiro. Lula, como resposta simbólica, voltou a usar o boné com a frase “O Brasil é dos brasileiros”.

Sidônio também teve divergências com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Um dos episódios mais sensíveis foi a revogação de uma norma da Receita Federal sobre fiscalização via Pix. Mesmo com a resistência de Haddad, a decisão foi revertida após intensa pressão nas redes sociais, amplificada por um vídeo com desinformação publicado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que ultrapassou 200 milhões de visualizações.

Apesar das dificuldades, o ministro-chefe da Secom pretende ampliar a presença de Lula na mídia e reaproximá-lo da população. Internamente, no entanto, o presidente tem se mostrado resistente a conceder entrevistas, mesmo diante dos apelos da equipe de comunicação.

Para o Planalto, a adoção do novo slogan representará mais do que uma mudança estética: será uma tentativa de marcar uma nova fase do governo, com um discurso mais direto e combativo, mirando o fortalecimento político até 2026, ano em que Lula decidirá se disputará novamente a Presidência da República.

Fonte: https://agendadopoder.com.br/governo-lula-prepara-novo-slogan-e-aposta-em-discurso-contra-privilegios-para-recuperar-apoio/