A estratégia de defesa de Jair Bolsonaro (PL) é afastá-lo da trama golpista e transferir responsabilidade para os militares, avaliam integrantes das Forças Armadas indiciados pela tentativa de golpe ouvidos pelo blog da Andréia Sadi, no portal g1, sob anonimato.
“Bolsonaro está rifando os militares”, disse um deles.
O entendimento é uma reação direta à fala do advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, ao Estúdio i, na sexta-feira (29).
Na ocasião, Cunha Bueno afirmou que os maiores beneficiários do golpe seriam os integrantes de uma junta militar prevista para ser criada após os assassinatos de Lula (PT) e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), antes da posse, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
“Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mário Fernandes [um dos indiciados], seria uma junta que seria criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro”, disse o advogado do ex-presidente.
A fala de Cunha Bueno faz referência a um gabinete de crise, planejado pelos golpistas, que seria comandado pelos generais Braga Netto e Augusto Heleno, respectivamente ministros da Casa Civil e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro.
Também integrariam o órgão o próprio general Mário Fernandes, que era secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República, Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, e outros civis e militares.
Militares ouvidos pela reportagem, entretanto, rechaçam a versão de que Bolsonaro – por não integrar o gabinete de crise – não seria beneficiário do golpe.
Esses militares alegam que órgão existiria para assessorar uma autoridade – no caso, Bolsonaro. Além disso, ressaltam que dificilmente algum militar daria um golpe no ex-presidente pois todos acreditavam no “projeto de país” que ele vendia.
Para advogados, negar a autoria é último recurso de Bolsonaro
Para advogados ouvidos pelo reportagem, diante da farta materialidade, que impede negar a existência de um golpe em curso, Bolsonaro não tem outro caminho a não ser negar participação.
A manobra, no entanto, pode custar caro ao ex-presidente, e estimular militares a fechar acordo de delação premiada – embora a Polícia Federal tenha concluído o inquérito, a Procuradoria Geral da República (PGR) ainda não ofereceu a denúncia e, em tese, poderia aceitar novos colaboradores.
A preocupação é maior com os generais Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, que foi comandante de Operações Terrestres entre o final de março de 2022 ao final de novembro de 2023 e colocou suas tropas à disposição do golpe, segundo a PF; e o general de brigada Mário Fernandes.
Nos acordos de delação, os colaboradores precisam entregar informações sobre pessoa que estavam acima deles na estrutura criminosa, o que pode devolver a bomba para o colo de Bolsonaro.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/indiciados-por-tentativa-de-golpe-avaliam-que-estrategia-de-defesa-de-bolsonaro-e-rifar-militares/